Saúde & Bem-estar

Importância da alimentação de éguas receptoras

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A espécie equina foi considerada durante muito tempo como a de menor fertilidade entre as espécies domésticas

Algo que foi atribuído às características de seleção e problemas relacionados ao manejo reprodutivo. O avanço de novas biotecnologias possibilitou o crescimento e aprimoramento das raças e cruzamentos.

A transferência de embrião, sem dúvida, foi a biotecnologia que mais favoreceu a equideocultura mundial. Esta técnica permite a obtenção de potros oriundos de fêmeas com dificuldade em manter a gestação até o fim; obtenção de potros de éguas ainda em campanha atlética; produção de mais de um animal por ano da mesma matriz; produção de potros de éguas jovens; comercialização de óvulos e embriões; dentre outras vantagens.

Na década de 70 foi registrado no Japão o primeiro relato de transferência de embrião em equinos. Já no Brasil foi descrita por Fleury et al. em 1987. Atualmente é uma técnica bem difundida e utilizada em larga escala pelos criatórios.

Importante ressaltar que, o uso de qualquer biotecnologia deve ser autorizado previamente pela associação da respectiva raça. Algumas associações não permitem o uso desta técnica, tal como, a Associação do Cavalo Puro Sangue Inglês, que só permite a monta natural.

Com o uso da transferência de embrião, éguas de baixo valor zootécnico começaram a ser usadas como receptoras. No entanto, muitos criatórios não se preocupam com a triagem das receptoras, o que pode afetar o sucesso do programa de transferência de embrião.

Critérios de seleção incluem escore corporal ideal; boa índole; habilidade materna; idade entre 3 a 10 anos; bom desenvolvimento mamário; ciclos estrais normais e éguas isentas de anomalias ovarianas e uterinas.

Alguns estudiosos recomendam que, o tamanho da receptora deva ser próximo ao da doadora, pois o tamanho do complexo útero-placenta influência diretamente na altura e peso ao nascimento.

Os estudos são controversos, pois muitos criadores usam éguas de raças grandes, como as bretãs, a fim de obterem potros maiores ao nascimento. Alguns estudiosos ressaltam que esta técnica pode ser prejudicial ao potro, pois pode ocasionar algumas afecções ao neonato.

É importante lembrar que: a receptora de embriões é uma égua de menor valor zootécnico e baixo custo financeiro, porém levará em seu ventre um embrião valioso, portanto deve ser tratada adequadamente, conforme sua exigência nutricional.

O crescimento fetal e o desenvolvimento do potro dependem do metabolismo, nutrição e o equilíbrio hormonal no ambiente intrauterino. Estes são responsáveis pelo suporte nutritivo, metabólico e endócrino do feto.

A exigência alimentar da égua deve ser respeitada, desde o início da gestação, para que haja um correto suprimento do feto através da placenta materna. Alguns estudos citam que a má difusão de nutrientes entre a circulação materna e fetal pode ter influência até a vida adulta do animal.

Alguns proprietários priorizam a nutrição da doadora (se não estiver em atividade atlética pode ser considerada um animal em manutenção e ignoram a alimentação da receptora). Uma das principais causas da infertilidade é ocasionada pelo desequilíbrio nutricional.

A regulagem do sistema hormonal e o bom funcionamento do sistema reprodutivo estão diretamente relacionados ao equilíbrio nutricional. A má nutrição da receptora pode ocasionar em abortos, complicações infecciosas que comprometem a fertilidade, nascimentos prematuros ou potros dismaturos mais susceptíveis a natimortalidade.

O cuidado com a nutrição da receptora deve começar antes mesmo da concepção. A alimentação adequada permite a regularização do cio ou uma melhor resposta à terapia hormonal, fator preponderante em um programa de transferência de embrião. A dieta deve ser equilibrada contendo a quantidade adequada de proteína, energia, vitaminas e minerais.

É importante lembrar que o tempo de gestação da égua é de cerca de 330 dias, podendo variar em aproximadamente 15 dias, ou de acordo com a raça do animal. Feita a implantação do embrião e confirmada a prenhez da receptora, a exigência nutricional deve ser respeitada para um bom desenvolvimento do potro.

Para fornecermos uma alimentação, que atenda às exigências nutricionais da reprodutora, primeiramente, deve-se dividir a gestação em duas fases: até o oitavo mês de gestação – onde o requerimento é semelhante ao de um animal em manutenção – é preciso que ofereça ao animal volumoso de boa qualidade, água fresca, mineralização adequada e um concentrado com 12% de proteína bruta, para que sejam supridas as necessidades neste período.

Nesta fase ocorre o crescimento de 30% do feto, ou seja, se o potro nascer com 50 kg, até o oitavo mês de gestação este pesará 15 kg, sendo pouco representativo em termos nutricionais para a mãe.

Apesar do ganho de peso do feto ser pouco representativo para a mãe, esta não deve apresentar escore corporal abaixo do ideal, pois nas primeiras semanas de vida começam o desenvolvimento dos sistemas do corpo. Já do nono ao décimo primeiro mês de gestação há um crescimento de 70% do tamanho do feto.

Nesta fase a égua deve ganhar uma reserva corporal, para que no início da lactação não ocorra perda de peso em excesso, o que prejudica a lactação. É importante o fornecimento de um concentrado, que contenha 15% de proteína bruta e extrato etéreo entre 2 a 5%, volumoso e mineralização adequada.

Durante todo período de gestação, a égua deverá ganhar entre 13 a 18% de seu peso para apresentar um escore corporal ideal quando entrar no período de lactação. Nesta fase é necessária manter uma dieta balanceada para que a produção e composição do leite atendam às necessidades do potro neonato.

Do nascimento do potro até o 10º dia após o parto, o leite da égua ainda é considerado o colostro, devido à alta concentração de imunoglobulinas, albuminas e outros nutrientes, que o caracterizam como colostro. Quanto à produção e à composição do leite, estas são influenciadas por diversos fatores: dieta, idade, parto, peso vivo, condições ambientais e estágio da lactação.

Em geral, os potros são desmamados com seis meses, o que não deve ser uma regra dentro dos haras. Em algumas situações, tais como: quando potro é muito grande; a mãe apresenta escore corporal abaixo do ideal; para maior controle da dieta dos potros (o que se faz necessário em animais com epifisite), nestas situações o desmame pode ser feito precocemente, desde que orientado por profissional especializado.

Ao considerar uma lactação de seis meses, esta deve ser dividida em duas fases: início da lactação (primeiro ao terceiro mês) e segunda fase (terceiro ao sexto mês).

Na primeira etapa há um aumento considerável dos aportes alimentares, sendo de extrema importância a suplementação com concentrado, contendo no mínimo 15% de proteína bruta e energia alta, já que uma égua produz entre 15 a 32 litros de leite ao dia. Esta variação está diretamente relacionada com a raça da fêmea.

Na segunda fase da lactação as exigências nutricionais da égua diminuem drasticamente, pois o potro já está se alimentando de volumoso, ou, o ideal, é que já esteja adaptado à uma ração específica para sua categoria.

Nesta etapa há também uma diminuição dos nutrientes do leite e, por esta razão, o desmame do potro pode ser feito a partir dos quatro meses sem prejudicar o seu desenvolvimento.

Além do correto manejo nutricional, a égua deve ser colocada no piquete em que irá parir 45 dias antes do parto para produzir anticorpos contra os agentes presentes neste local.

É de extrema importância o controle sanitário, através da vermifugação e vacinação instituída por um médico veterinário. O cuidado com a nutrição e sanidade da receptora garante o correto desenvolvimento do potro e possibilita que este demonstre sua aptidão e potencial quando adulto.

Por Natália Telles Schmidt
Médica veterinária e supervisora técnica de equinos da Guabi
Foto: Nbcphiladelphia

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