A força do leilão rural

Marcelo Pardini comenta em sua coluna sobre como a modalidade de compra e venda em pregão ainda é a maneira mais eficiente, objetiva e democrática para se comercializar a produção agropecuária

Como toda atividade sócio-econômica, o leilão rural também passa por transformações. Muito se tem discutido sobre o protagonismo do pregão frente às novas ferramentas de compra e venda que usam a IA (Inteligência Artificial).

Especialmente via tecnologia ‘blockchain’, cujas análises do perfil do cliente, através de dados extraídos de seus hábitos de consumo, estão cada vez mais sofisticadas e precisas, sendo fundamentais para as ofertas futuras.

No best-seller ‘Ponto de Inflexão’ (Büzz Editora /2019), o empresário bilionário Flávio Augusto da Silva ressalta que nos negócios nada é perene. “A Kodak era líder global no mercado de fotografia e a Blockbuster era a maior locadora de filmes do mundo. Logo, estabilidade não existe.”

Concordo com essa linha de raciocínio e acredito que, independentemente dos avanços tecnológicos e das novidades mercadológicas, duas características sempre serão valorizadas, ratificadas pelos gurus das Finanças: credibilidade e criatividade.

É assim que pauto o meu trabalho, visando a valorizar o leilão rural, uma vez que tal modalidade de compra e venda de animais, bens e implementos agrícolas é a melhor ferramenta de comercialização da produção agropecuária em escala.

Não caia em armadilha

De acordo com a Lei 4.021/61, o leilão rural tem como obrigatoriedade a presença do leiloeiro. Este devidamente credenciado pela Federação da Agricultura do Estado onde reside.

Hoje em dia, alguns sites e grupos de aplicativos promovem remates de maneira ilegal, pois os fazem sem a figura do profissional. O leiloeiro, filiado à entidade representativa da classe é o único que regula e confere legitimidade ao leilão.

Dessa forma, agrega conhecimento e capacidade técnica para transmitir informações precisas e confiáveis. E, além disso, ainda valida os usuais pré-lances e legitima as vendas, haja vista que a Lei lhe confere Fé Pública. Todas as formas de leilão, incluindo as modernas, demandam a presença do leiloeiro, nem que seja de maneira virtual e/ou on-line.

Os valores ético-morais são os pilares da profissão de leiloeiro rural. O profissional que goza de credibilidade, através de atitudes sérias e idôneas, tem liberdade para desempenhar com assertividade e lisura o seu papel. Acima de tudo, ele atua de maneira sinérgica com as novidades digitais, impostas pelo atual dinamismo dos negócios.

Para o sucesso no leilão é preciso cuidar de todos os elos. Ou seja, desde manejo e mão de obra até nutrição, instalações, sanidade animal. Bem como dos efeitos do meio ambiente e genética (marcadores moleculares).

Penso que as novas tecnologias devam ser usadas para otimizar os custos dos promotores dos remates, uma vez que só com acurácia nas informações e pressão de seleção é que se chega à sustentabilidade da atividade rural.

Com uma visão sistêmica de todo processo produtivo, análises mercadológicas e constantes planejamentos, eu ofereço ao mercado assessoria comercial que visa a implementar ações individualizadas para cada cliente.

A metodologia de trabalho está amparada em excelência operacional, otimização de recursos e visão de resultados. O sucesso da empreitada só é possível porque a ‘ferramenta leilão’ continua sendo a maneira mais eficiente, prática, objetiva e democrática de se comprar e vender animais.

Dessa forma, a estratégia para o desenvolvimento dos processos de cada parceiro comercial visa a melhorar a eficiência, a eficácia e a efetividade. Do mesmo modo que busca-se resultados cada vez melhores, unindo ambas as pontas, comprador e vendedor, de forma sinérgica.

Um pouco de história (e estórias)

Em matéria publicada em maio de 2019 –  confira: Agro MP – , o decano dos leiloeiros rurais em atividade no Brasil, Djalma Barbosa de Lima, discorreu sobre as transformações do setor: “O leilão moderno passou por três fases: a primeira, no início, quando Sérgio Piza, Paulo Pimentel e João Sampaio, fundadores da Programa Leilões, em 1975, contrataram os leiloeiros gaúchos Trajano Silva e Pinheiro Machado.

Rapidamente também nos trouxeram para o ofício – eu e o Odemar Costa, que oriundos do Rádio, de forma natural, acabamos mudando a cadência da narrativa, caindo no agrado dos novos usuários paulistas. Em seguida, vieram os leilões-shows, ou seja, com as vendas nos principais hotéis e nas grandes casas de espetáculos dos centros urbanos.

Nesta época, já nos idos dos anos 90, chegamos a realizar leilões milionários, como os de Orpheu José da Costa, Nagib Audi e Afonso Archilla Galan, dentre tantos outros notáveis, com vultosas movimentações financeiras balizadas pelo dólar. Posteriormente, vieram os pregões pela TV.

Com o advento dos canais de televisão especializados no Agronegócio, a solução em comodidade imperou, eliminando os custos estruturais, com buffet, montagem, deslocamento dos animais…

Os primeiros, chamados virtuais, apresentaram lotes de baixa qualidade, algo que rapidamente foi corrigido, passando a vender o que os criadores tinham de melhor, tendo como diferencial a maior visibilidade, o encurtamento das distâncias, permitindo a um vendedor do Paraná comercializar, em fração de minutos, o seu produto a um investidor lá de Rondônia. Tudo isso antes da internet”.

‘Fase de Adequação’

Portanto, o leilão rural passa por mais uma mudança, a qual denomino ‘Fase de Adequação’. Ainda estamos tateando o que as novas tecnologias trarão de benefício e até de prejuízo à atividade.

O fato é que toda a cadeia tem que se adequar ao presente cenário. O processo de desenvolvimento de novos produtos começa, antes de mais nada, com a busca de ideias. As maiores oportunidades são encontradas quando se descobrem as necessidades não satisfeitas dos clientes aliadas às inovações tecnológicas.

Como sempre digo: o Agronegócio é o Brasil que dá certo! Precisamos ser otimistas: com trabalho sério, esmero e amor, tenho plena convicção de que a atividade sobreporá todas as mazelas. Eu acredito na força do campo!

Por Marcelo Pardini – narrador, poeta, jornalista, pós-graduado em Marketing e leiloeiro rural; titular da marca Agro MP – A voz do Agronegócio.
E-mail: contato@agromp.com.br | Instagram: agromp.marcelopardini
Crédito da foto: Arquivo Pessoal

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