Flávia Dias Cajé, 32 anos, é paulistana, mas desde criança mora em Barretos/SP. Formada em Zootecnia, com especialização em Administração de Empresas e Coaching, uma das suas frentes de atuação no meio do cavalo é na propriedade da família, onde mora, no Rancho Santa Fé, em Barretos. Longe das pistas como competidora, atua em quatro frentes hoje em dia.
Ao lado do marido Ricardo, ela toca um negócio de produção de feno, em Frutal/MG. Flávia Cajé ainda divide seu tempo entre a gerência da Associação Nacional dos Três Tambores e organização de provas. Sem contar os cuidados com a filha Julia, de 2 anos e 9 meses. Por esse trabalho com eventos equestres, ela se envolve ainda nos bastidores, fazendo parte de decisões importantes para o esporte.
Conversamos com ela para conhecer sua trajetória e saber como divide seu tempo para dar conta de todos os afazeres. Confira!
Como foi seu primeiro contato com cavalos?
“Tive meu primeiro contato com cavalos por volta dos 4 anos de idade, meu irmão ganhou uma égua Mangalarga. Minha família não era do meio do cavalo, mas víamos a paixão do meu irmão por essa égua e isso me influenciou demais. E, de fato, eu me encantei com aquele amor e me apaixonei pelo cavalo naquele momento. Hoje vivo nesse meio há quase 20 anos.
Lá em casa, no Rancho Santa Fé, a gente não cria cavalos para a venda, apenas para nosso consumo mesmo. Compramos coberturas e tiramos potros de nossas éguas. Mexemos com cavalos de esporte desde que mudamos para Barretos. Eu entrei em uma escolinha de equitação e desde então tudo aconteceu. Fui passando por etapas, até que por volta de 2002 compramos nosso primeiro cavalo Quarto de Milha. E então não paramos mais”.
Flávia Cajé, a competidora
“Comecei no Team Penning, que fiz durante três ou quatro anos. Durante esse período comecei a competir nos Três Tambores, por 13 anos. Mas eu tive um começo muito difícil, pois me venderam um potro para começar a competir (risos). Infelizmente, ainda vemos muito isso no nosso meio. Por outro lado, acho que isso me deu força para não desistir e lutar tanto para melhorar dentro do esporte.
Tive alguns momentos importantes na minha carreira como competidora, mas tem dois que me marcaram mais. Em 2013 no Rodeio de Colorado, estava com dificuldade com o meu animal, então a Fatiana [Ferreira] me emprestou uma égua nova que tinha. Eu fiz o melhor tempo da noite no rodeio que, em minha opinião, é o melhor do Brasil. Por isso me marcou demais. Estava desanimada, não acertava com meu cavalo, e colocava a culpa no lugar errado. Esse dia foi incrível! Pude entender e perceber coisas que não enxergava.
Outro momento foi no Rodeio de Barretos 2010, final da ANTT. Fiz o melhor da noite em um dos cavalos mais difíceis que já montei. Claro que foi marcante de ter feito o melhor da noite na ANTT e em Barretos, onde estavam as melhores. Mas, o mais importante para mim, foi realizar esse feito naquele animal, que me desafiava a ser melhor a cada treino e a cada passada.
Sou tão grata ao José Carlos Mendes, que na época era o treinador, e também à Fatiana, que sempre acreditaram em mim. Me estimulavam o tempo inteiro a ser melhor e a me dedicar ao máximo. Hoje faço isso com o pessoal que treina no rancho, pois vejo a importância de ter alguém assim do nosso lado. Hoje quero ser essa pessoa para o outro”.
E você atua em quatro frentes de trabalho, não é? Fale um pouco sobre isso.
“Minha vida é bem corrida e sempre tenho que organizar mesmo para conseguir fazer tudo (risos). No rancho e no feno tenho uma parceria sólida com meu marido e isso faz uma grande diferença. Dividimos as funções.
Eu tinha parado totalmente de mexer com o rancho, inclusive aluguei durante um tempo. Mas voltamos pelo amor que temos pelos cavalos. Queremos que nossa filha conheça esse amor e possa viver isso em família, de tal forma que ela criará memórias para carregar pela vida toda. Isso é minha maior satisfação.
Desde que passei a fazer parte da diretoria da ANTT, tem sido um trabalho diário. Não tem domingo e nem feriado, mas também fazemos isso em equipe. Tenho sempre a ajuda da Graziella Agnes e da Graziela Mendonça, assim como o apoio de uma diretoria incrível que veste a camisa da ANTT.
Principalmente da nossa modalidade, os Três Tambores. Sinto um prazer imensurável em ver o resultado de tanto trabalho, pois amo e acredito na marca e no propósito da ANTT. O que para mim é o principal segredo do sucesso da Associação. Não desviamos do nosso propósito ao longo dos anos e tenho muito orgulho disso. Dessa forma, a organização de provas surgiu de modo natural, devido o trabalho que faço na ANTT”.
Estava com pouca atividade, né? (risos)
“Não (risos), mas foi algo realmente que surgiu naturalmente. E como gosto muito do que faço decidi aprender a fazer provas. Até para conseguir fazer o ANTT Barrel Show, a prova independente da ANTT que teve sua primeira edição em 2020. Por esse motivo busquei aprender tudo a fim de tocar a prova da ANTT da melhor maneira que pudesse.
Nessa jornada, contei com Sandra Carvalho, Adriane Passos e a equipe da Prova da ABTB. Todos me deram a primeira oportunidade de trabalhar em um evento organizado por eles. Isso foi em 2019, logo depois trabalhei em várias outras provas com a Sandra. Aprendi e aprendo muito com ela. Além disso, sou muito grata por sempre ter pessoas boas ao meu lado.
Em janeiro de 2020, portanto, criei a Cajé Assessoria e Eventos. Hoje trabalho também organizando provas em parcerias ou sozinha. Não idealizo fazer muitas provas e sim fomentar e disseminar nossa modalidade da melhor maneira. Sempre buscando excelência e transparência.
Sinto muito prazer em organizar provas e amo o que faço, e faço com prazer. O mais importante é que faço com parceiros e isso me deixa muito feliz. Penso que quando fazemos juntos, fazemos mais e isso aprendi ao longo desses 15 anos na diretoria da ANTT”.
Por esse trabalho com eventos equestres, você se envolve ainda nos bastidores, fazendo parte de decisões importantes para o esporte.
“Sim. Desenvolvi junto com a Sandra Carvalho a cartilha ‘Aplicação das normas de combate à COVID-19 em provas de Três Tambores’, logo no começo da pandemia em 2020. E com essa cartilha fomos a primeira prova oficializada pela ABQM em meio à pandemia. Sendo assim, acredito que servimos como parâmetro para outros organizadores no combate à Covid-19 em provas e eventos.
Hoje também faço parte do conselho fiscal da IBEqui – Instituto Brasileiro de Equideocultura, que é formado por várias associações de raça e modalidades. Esse projeto vai trazer ainda mais força e melhoria para o nosso meio.
Esses são os principais hoje. Mas tem também todo trabalho com a organização da ANTT, onde busco sempre as melhores condições para o esperte e seus competidores dentro das principais provas e rodeios do Brasil, sempre visando o fomento nosso esporte”.
Para encerrar, fale um pouco sobre o que te move hoje a viver sua vida ligada ao cavalo e ao meio equestre.
“Hoje, o que me move, ou melhor, quem me move (risos) é a minha filha Júlia. Quero ser o melhor espelho para ela ser um adulto melhor no futuro. Uma pessoa que pensa no próximo, que tenha gratidão pelo que tem e que também não tema críticas, pois elas não medem quem somos e sim quem fala.
Quero criar uma mulher forte e que tenha Deus no coração e por este motivo tento ser melhor a cada dia. Acredito que no cavalo ela vai conseguir aprender o que é união, respeito com o animal e com o próximo, trabalho em equipe. E o mais importante. vai aprender a perder e que para ganhar precisará trabalhar duro.
No esporte não ganhamos nada sem esforço e isso me faz querer continuar no meio do cavalo com a minha família. Sou extremamente grata à minha história no meio do cavalo e à todos que fizeram e fazem parte dela. Tenho muito orgulho da minha caminhada!”
Por Luciana Omena
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
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