Mecônio: Saiba como a retenção afeta os potros

Caracterizada pela não evacuação ou evacuação incompleta do mecônio, retenção de mecônio pode afetar potros neonatos nas primeiras horas de vida

Chamadas de mecônio, as fezes eliminadas na primeira defecação são formadas por secreções glandulares do trato gastrointestinal, fluido amniótico e debris celulares, que, em condições normais, após a primeira mamada do colostro, são eliminadas.

De coloração castanho-escuro a negra e consistência variando de pastosa a firme, o mecônio tem a maior parte armazenado em parte do intestino grosso, incluindo o cólon e o reto, que normalmente é eliminado dentro dos primeiros dias de vida.

A ingestão do colostro é que promove o reflexo de defecação desse material. Se isso não ocorrer, não há a eliminação do mecônio e o leite fica bloqueado, assim os gases formados durante sua fermentação vão causar distensão e dor para o potro. A compactação, causada pelo acúmulo de mecônio que não foi adequadamente eliminado, localiza-se mais comumente no reto e cólon menor distal, ocasionalmente ocorrendo no cólon menor proximal ou cólon maior.

Tratamento

Em situações normais, o mecônio é liberado já nas primeiras horas de vida, sendo que a sua liberação é estimulada, principalmente, pela ingestão do colostro. A não evacuação ou a evacuação incompleta do mecônio pode gerar problemas, muitas vezes graves, com o principal sinal clínico de desconforto abdominal. O tratamento de escolha para esta patologia é o enema, com água morna e óleo mineral ou glicerina.

Enemas fosfatados comerciais também podem ser utilizados, porém podem causar hiperfosfatemia. Quando os casos não são resolvidos com esta terapia, pode –se utilizar enema com solução de acetilcisteína 4%, que tem ação mucolítica. Em situações ainda mais graves, quando as terapias conservativas não obtêm sucesso e há a presença de dor incontrolável, é necessário tratamento cirúrgico.

Diagnóstico

Estando a retenção de mecônio intimamente relacionada com a ingestão de colostro e sabendo que o prognóstico para esses casos é melhor, quanto mais rápido for realizado. Os cuidados e a observação adequada do potro neonato nas suas primeiras 24-48 horas de vida são importantes para prevenir este tipo de patologia, garantindo a saúde do neonato e evitando maiores prejuízos para o proprietário.

Apesar dos avanços da medicina, o estudo de recém-nascidos na veterinária não tem acompanhado o seu desenvolvimento com a mesma intensidade. Estudos relativos a fisiologia e a assistência neonatal ainda são escassas, o que contribui para o baixo grau de treinamento técnico e ineficiência do monitoramento e reanimação neonatal que costumam ser praticados.

Contudo, os potros têm uma constituição orgânica extremamente frágil e sensível, com quase 80% do seu peso em água corpórea. Além disso, eles não possuem o sistema imunológico maturo para reagir a estímulos específicos, como por exemplo os agentes infecciosos. Ademais, isso ocorre pela impossibilidade de transmissão de anticorpos maternos para o feto durante a gestação devido ao tipo de placenta da égua.

Após o nascimento, o potro passa de um ambiente extremamente favorável dentro do útero materno, para um ambiente hostil, com variações de temperatura, presença de possíveis predadores e a necessidade de adquirir independência alimentar. Os potros normais ficam em decúbito esternal em segundos e se colocam em estação dentro de em média duas horas depois do parto.

O reflexo de sucção quase sempre está presente ao nascimento e deve manifestar-se dentro de 20 minutos. A maioria dos potros normais mamam em duas horas de idade, entretanto podem necessitar de até quatro horas para mamar. Estímulos externos visuais, auditivos e táteis resultam respostas exageradas por parte do potro, e isto persiste pelas primeiras semanas de vida.

Causa

Em suma, a principal causa de retenção de mecônio é a não administração ou falha na ingestão de colostro, que pode estar relacionada a outros problemas, como distocia, prematuridade, baixo peso ao nascimento, asfixia neonatal e desidratação além de estreitamento pélvico nos potros do sexo masculino, ausência de abertura da ampola retal e má formação congênita do aparelho digestivo (agenesia do cólon maior e menor).

A retenção de mecônio é a causa mais comum de cólicas em potros. Inicialmente o animal apresenta esforço para defecar, mantendo-se em postura de cifose (dorso arqueado). Com agravamento do quadro clínico, 12 horas após o início da sintomatologia, o animal apresenta-se em decúbito, olhar fixo ao flanco, rolamentos constantes e polaciúria.

Do mesmo modo, é observada a distensão do abdômen e cauda erguida e, ao exame físico, apresentando sintomas de toxemia e desidratação, como mucosascongestas, taquipneia, taquicardia e elevação no tempo de perfusão capilar.

A terapia, nesses casos, quase sempre é simples, através de enemas mornos com água ou glicerina. Se até dois enemas não resolverem a impactação, deve-se administrar óleo mineral por sonda nasogástrica, considerando também outros fatores como: coloração de mucosas, estado do animal, desidratação, tempo de preenchimento capilar, frequência cardíaca, deve implementar terapia paliativa, para correção da desidratação e controle da dor. A partir da avaliação clínica e da progressão do caso, o tratamento pode se tornar cirúrgico.

Prevenção

Por último, cuidados adequados com o neonato, principalmente relacionado à ingestão adequada do colostro, previnem o aparecimento da retenção de mecônio. Além disso, um diagnóstico rápido garantirá maiores chances de resolução do problema, com consequente desenvolvimento adequado do potro. Sem maiores gastos com o tratamento e com boas perspectivas em relação às atividades que este animal irá exercer quando adulto, por isso é necessário estar em contato com um médico veterinário, profissional que tem maior capacidade técnica para a solução destes problemas.

Por Taís Teles Gomes
Médica Veterinária
Orientação: Profº Arthur Araújo Chaves – UniSALESIANO – Araçatuba
Foto: Divulgação

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