Corrida de jegue movimenta economia no Nordeste

Jecana é realizada em Petrolina/PE, gerando emprego e renda para a região, além de resgatar a importância histórica do jegue para o povo nordestino

Páreo de Jegue?! Sim, por que não?! Em Petrolina/PE ocorreu nos últimos dias 11 e 12 a tradicional Jecana, a corrida de jegues, realizada na zona rural da cidade.

A festa, que voltou a ser realizada após a pausa de dois anos devido à pandemia, atrai apaixonados pelos jegues de todos os cantos do Nordeste. Afinal, o animal possui uma importância história e cultural muito forte na região.

A corrida é realizada na zona rural, na rua da comunidade do Capim, a 712 km de Recife. Com apenas três mil habitantes, a comunidade se multiplica com a chegada da festa, que atraí mais de 20 mil visitantes.

A Jecana recebe jegueiros, como são conhecidos os jóqueis dos jegues, dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.

Para essa edição, 45 jegues foram inscritos para levantar poeira nos 250 metros da pista que cruza a pequena comunidade.

Ao contrário das tradicionais corridas de cavalos, os jegueiros são crianças de 8 a 13 anos de idade, para que o animal possa aguentar o peso durante as provas.

Foi dada a largada! Vai jegue!

Na largada, os animais ficam enfileirados em grupos de seis conjuntos, nas baias. Os pequenos jegueiros ficam concentrados sobre seus animais, com uma mão no arreio e a outra levando uma garrafa de plástico que usam para agitar os jegues.

Assim como nos páreos “tradicionais”, a corrida é muito rápida. Um minuto separa o jegueiro da glória de ser o grande campeão. A cada páreo, três conjuntos são classificados para próxima fase, até chegar a grande final.

As etapas são acirradas e a poeira levantada pelos animais muitas vezes atrapalha a visão dos juízes mas, assim como nos grandes esportes, uma espécie de VAR, uma câmera fica gravando a passagem dos conjuntos, comprovando quem foram os grandes campeões.

Nesta etapa da Jecana, Tira-teima e Raio da Filipina, de Zabelê (PB) ficaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente.

Foram R$ 25 mil em prêmios, sendo R$ 7 mil para o primeiro colocado. Tira-teima foi montado pelo pequeno Enzo Gabriel, que não conteve as lágrimas e a emoção. O pequeno jogueiro tem apenas quatro meses de experiência e já venceu sua primeira prova.

A premiação distribuída é mais do que merecida, haja vista que o esporte exige um investimento alto. Cada jegue, segundo afirmou um dos proprietários, gasta mais de R$ 3 mil para participar de uma prova como essa, somados os custos com transporte, alimentação e remédios.

Os animais que participam das provas acabam conquistando valor agregado no mercado, chegando a custar até R$ 35 mil.

Jegue Fashion

Os animais que não estão aptos para as corridas também possuem um papel importante na festa. Eles são direcionados para o desfile, o Jegue Fashion.

Para o desfile, os animais recebem fantasias especiais com vários temas, para se exibirem na passarela, a mesma rua que foi a corrida. Ganha o animal que for avaliado com a melhor fantasia.

Início da Jecana

A festa teve início em 1971, idealizada pelo radialista Carlos Augusto Amariz. Ele atuava na região e estava preocupado com a situação do animal, dizimado da região.

Sua ideia, a princípio, era uma gincana de jegues, o que ele não imaginava é que 51 anos depois, a festa movimentaria a economia de Capim, bairro que fica a 35 km do centro da cidade. Ao todo, são 150 empregos diretos e indiretos criados pela festa, que acontece simultaneamente ao São João do vilarejo e termina com o Forró do Poeirão.  

Mesmo com tamanha importância para a região, o número de animais vem diminuindo. Segundo o IBGE, até 2013, o Nordeste tinha 900 mil jegues. Hoje, segundo o MAPA este número não passa das 400 mil cabeças. A queda se deve ao interesse do mercado chinês pela carne e pele do animal.

Por: Camila Pedroso

Fonte e fotos: UOL

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