Raiva em equinos traz prejuízo aos criatórios

Doença leva animal a morte em sete dias. Única forma de prevenir é com a vacinação

A raiva é uma zoonose neurotrópica de alta letalidade, que ocorre de maneira endêmica em vários países, causada por um vírus RNA da ordem Mononegavirales, da família Rhabdoviridae. É um vírus responsável por alterações neurológicas progressivas e fatais para a maioria dos mamíferos.

O vírus da Raiva é transmitido pela introdução da saliva contaminada no animal, sendo que no equino o método mais comum de infecção é a mordida de um carnívoro selvagem ou de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) infectados, que habitam em toda América do Sul.

A patogenia da raiva é semelhante em todas as espécies de mamíferos. O vírus se replica no local da inoculação, inicialmente nas células musculares ou nas células do tecido subepitelial, e, ao atingir  concentração suficiente, alcança as terminações nervosas. Este período de replicação que ocorre fora das células nevorsas é o responsável pelo período de incubação relativamente longo até o aparecimento de sintomas da raiva.

Após a intensa replicação no sistema nervoso central, o vírus se dissemina através do sistema nervoso periférico e autônomo para diversos órgãos e glândulas salivares, sendo eliminado pela saliva. É através dessa disseminação, também, que ele atinge as terminações nervosas sensoriais dos tecidos cutâneos em cabeça e pescoço, levando à possibilitar a coleta para biópsia do tecido da região para realização de exame ante-mortem em algumas espécies.

Ao realizar o exame físico no animal ou no humano, é necessário a avaliação das mucosas do paciente. Essa aferição é constituída, principalmente, em observar a coloração e o TPC (tempo de preenchimento capilar), tornando-se necessário, na maioria das vezes, entrar em contato direto com a mucosa. O uso de luvas é, portanto, obrigatório ao fazer o exame físico em qualquer animal ou humano com suspeita da doença da raiva.

Os principais sintomas da raiva são comportamentos anormais, ansiedade e excitação que precedem inquietude e paralisia. Conforme os sintomas se intensificam, podem causar convulsões e/ou parada cardíaca. De acordo com Rebello (2018), nos animais pode também causar, agressividade, isolamento dos demais animais, febre, ato de pressionar a cabeça contra a parede (“head pressing”), imobilização do nervo faríngeo levando o animal a parar de se alimentar e a beber água, provocar a produção excessiva de saliva, além de originar contrações musculares involuntárias. A evolução do quadro pode levar a paresia ou até paralisia dos músculos, retenção urinária, constipação, fotofobia e alterações na respiração e nos batimentos cardíacos, caracterizando um quadro de encefalite aguda.

O período de incubação do vírus no organismo pode variar de 20 a 90 dias em seres humanos e animais e seu período de transmissibilidade precede o aparecimento dos sintomas e se estende até a morte do animal. A partir do aparecimento dos sintomas, é estimado que o cavalo tenha em média de 5 a 7 dias de vida.

Tratamento e prevenção da raiva

O diagnóstico de raiva in vivo pode ser desafiador, uma vez que este tem baixa especificidade e dentre seus resultados pode haver falsos negativos. A suspeita deve ser considerada em equinos que apresentem sinais neurológicos rapidamente (progressivos ou difusos), porém, esses podem ser facilmente confundidos com outras doenças, ocasionando um diagnóstico tardio ou somente pos-mortem, como acontece na maioria dos casos.

Atualmente o diagnóstico da raiva em animais e humanos é confirmado por meio de exames laboratoriais, podendo ser realizado por meio de técnicas histopatológicas, imunológicas e biológicas.

O diagnóstico negativo para raiva em equinos que apresentaram sintomas de encefalites, exigirá o encaminhamento dessas amostras para o diagnóstico diferencial da encefalomielite equina tipos leste, oeste e venezuelana e para febre do Nilo Ocidental.

O médico veterinário deve sempre realizar a necropsia com luvas, máscara, avental e óculos de proteção, para a coleta de material de teste em casos de óbitos com suspeitas de raivas para confirmar a presença deste vírus. Desta forma, o risco de contágio humano e de outros animais é diminuído.  

Tratamento e prevenção da raiva

Como já mencionado, a raiva é uma doença letal e não possui tratamento. A maneira hoje utilizada para aliviar o sofrimento do animal é optar pela eutanásia, pois quando a doença se manifesta, devido a sua alta capacidade de propagação no organismo, há mínimas chances de reverter o caso.

A única forma de prevenção se dá através da vacinação dos animais saudáveis, principalmente nas áreas endêmica.A primeira vacinação pode variar entre os 3 a 5 meses de idade, seguida de reforço após 30 dias e realizar reforço anual em todos os animais saudáveis.  A vacina antirrábica pode ser adquirida em estabelecimentos autorizados. Entre o período da compra e da aplicação no equino é necessário deixá-la no gelo.

O cavalo que estiver com suspeita de raiva deverá ficar isolado até o seu óbito, porém a alternativa que encurta seu sofrimento é a eutanásia. Por ser uma doença de notificação compulsória é responsabilidade do médico veterinário e/ou do proprietário notificar obrigatoriamente esta ocorrência ao Serviço de Defesa Sanitária oficial (Casa da Agricultura ou Escritório de Defesa local).

Referências

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Por: Helio Itapema, Rachel C. Worthington, Leticia Del Buoni, Ayanne Walchhutter – Clínica de Equinos Itapema

Fotos: Pixabay

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