Saúde & Bem-estar

Síndrome do navicular: o que há de novo sobre a doença que atinge alguns cavalos

Saiba todas as novidades sobre a síndrome do navicular neste texto escrito pelos médicos-veterinários Rachel C. Worthington, Hélio Itapema e Renan Modesto

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Síndrome do navicular o que há de novo sobre a doença que atinge alguns cavalos

A síndrome do navicular, hoje conhecida como síndrome do aparato podotroclear, é assim chamada por ser caracterizada como uma doença degenerativa com processos complexos, que envolvem lesões em uma ou mais de uma estrutura dentro do casco, não somente o osso navicular, sendo uma das causas mais comuns de claudicação aguda e crônica em cavalos de esporte, muitas vezes responsável por sua aposentadoria precoce. 

A origem desta doença é multifatorial, nem sempre sendo bem esclarecida. Mas o fato é que a dor proveniente desta síndrome provém de lesões em uma ou mais estruturas do aparato podotroclear. 

Sua ocorrência tem maior prevalência nos membros torácicos, mas pode ocasionalmente acometer os membros pélvicos. A maior incidência nos membros torácicos é atribuída ao fato destes suportarem 60 a 65% do peso do animal, estando sujeitos a maiores impactos com o solo, enquanto os membros pélvicos atuam majoritariamente com a função de propulsão. 

O aparato podotroclear é composto pelo osso navicular (sesamoide distal), situado entre a segunda e a terceira falange, tendão flexor digital profundo, Bursa do navicular, ligamentos colaterais (suspensórios) e distal (ligamento ímpar). A síndrome do navicular é caracterizada por alterações de composição e função mecânica da cartilagem, do osso subcondral e/ou dos tecidos moles adjacentes (tendões, ligamentos ou Bursa). 

Quais são os sinais clínicos da síndrome do navicular?

Os sinais clínicos variam de um cavalo para outro, o que torna desafiador o diagnóstico, mas a crescente disponibilidade de técnicas de exames de imagens avançadas, tais como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, juntamente com outros exames de imagem – como o ultrassom, termografia, cintilografia e o raio-x (com ou sem contraste), vem ajudando a melhorar o entendimento da doença e a localizar com maior precisão a estrutura envolvida. Adicionalmente, os avanços nos estudos dos cascos fornecem novas abordagens para administrar a síndrome do navicular e conciliar saúde com a vida esportiva destes animais. 

O entendimento sobre o casco e as estruturas existentes em seu interior tem importância fundamental para a prevenção e tratamento das lesões e alterações da síndrome podotroclear. Animais com cascos que se encontram fora das proporções ideais para a conformação do indivíduo estão sujeitos a apresentarem sinais importantes de alterações na podotroclea. 

Entre os sinais que levam à suspeita da síndrome do navicular, pode-se citar: 
– Animais que projetam os membros torácicos para frente quando estão em repouso; 
– Animais com cascos de pinças longas e talões escorridos, com abaulamento dorsal das paredes dos cascos; 
– Encurtamento da fase cranial do passo; 
– Diminuição da performance progressiva; 
– Tropeços durante o exercício ou claudicação que se apresenta mais evidente ao círculo; 
– Reação à determinados tipos de trabalho, tais como saltar ou realizar trotes alongados; 
– Dor nos talões/ranilha ao pinçamento do casco ou nos bulbos. 

Como fazer o diagnóstico da síndrome do navicular

O diagnóstico da síndrome do navicular comumente é feito através do histórico e sinais clínicos, na resposta ao bloqueio anestésico dos nervos digitais palmares e nas alterações encontradas nos exames de imagem. O aprimoramento no diagnóstico precoce das lesões que causam claudicação tem levado os médicos veterinários e ferradores a uma intervenção com melhores resultados para o tratamento e diminuição da velocidade de progressão da doença. 

É importante proceder com uma avaliação estática (postura, conformação do animal e dos cascos, testes de prancha) e uma avaliação dinâmica (observar movimentação, cadência, resposta aos diferentes tipos de piso – duro ou macio, trabalho). O ângulo palmar ou plantar negativo ou, mais corretamente, o ângulo do bordo solear da falange distal em relação ao solo tornou-se um foco em meio às discussões sobre a síndrome podotroclear. 

O ângulo palmar ou plantar negativo resulta da perda das estruturas dos tecidos moles (especialmente do coxim digital) na região palmar/plantar do casco e esta perda de massa induz a falange distal a descer em direção à seção palmar/plantar da cápsula do casco (retroversão falangeana). 

O resultado é uma mudança na posição da articulação interfalangeana distal (IFD), que coloca a articulação em dorso-flexão e uma distorção da conformação do casco. Como consequência, ocorre alteração na distribuição do suporte de peso na superfície solear do casco e aumenta a tensão no tendão flexor digital profundo (DDFT).

A perda de massa /densidade nas estruturas de tecido mole do aparato podotroclear impede ou diminui a dissipação de energia do impacto com o solo, levando a uma menor absorção do choque e conduz à sobrecarga de outras estruturas e articulações. Uma alteração comumente observada (além da deformidade nas paredes do casco e dos talões escorridos) é a alteração da ranilha, que pode se apresentar prolapsada ou projetada através dos bulbos. 

Por muito tempo procedeu-se com a elevação do talão dos cavalos acometidos e com o emprego, por exemplo, de ferraduras ortopédicas fechadas, mas é importante saber que enquanto a primeira ação pode levar a um impacto ainda maior sobre os tecidos moles, a segunda pode levar a uma atrofia e posterior aumento na deformidade dos cascos, com sobrecarga de outras estruturas. Os ajustes dos ângulos palmares/plantares e latero-mediais atuam de forma permanente, uma vez que estarão agindo sobre todas as estruturas durante as 24 horas do dia, diferente da ação do emprego de uma ferradura ortopédica sem as adequações prévias de casqueamento, onde apenas agirá enquanto o animal estiver sendo exercitado. 

Tratamento

O tratamento da síndrome do navicular frequentemente requer uma combinação de estratégias, que vão desde o tratamento medicamentoso, uso de suplementos, alimentação e manejo, até a fundamental integração com o ferrador que irá determinar estratégias para a correção e adequação dos cascos do animal através do realinhamento dos ângulos, talões, proporções e na escolha da ferradura ideal para cada etapa, permitindo a correção biomecânica dos cascos.

Por Rachel C. Worthington, Hélio Itapema e Renan Modesto, médicos-veterinários
Foto: Banco de Imagens/Freepik
Imagem de exames: arquivo de Hélio Itapema
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