Cavalos consanguíneos são aqueles que possuem um grau de parentesco próximo entre si, sendo frutos de acasalamentos entre indivíduos da mesma linhagem genética. Porém, o que se convém chamar de consanguinidade no ramo da criação de cavalos é tido pela ciência como endogamia. “Muitos criadores acreditam que a duplicação de ancestrais influentes em um acasalamento significa que há uma chance melhor de duplicação de ‘bons genes’, e há muitos exemplos de cavalos de alta classe que aparecem no papel como sendo estreitamente consanguíneos”, ressaltam os médicos-veterinários Hélio Itapema, Rachel Campbell e Beatriz Tofani.
Os médicos-veterinários explicam que endogamia entre equinos se dá quando, em um determinado acasalamento, o parentesco entre os pais é maior do que o parentesco médio da população. “Como consequência, determinadas combinações de pares de alelos acabam sendo fixadas, uma vez que há um aumento de indivíduos homozigotos. Como existe um ancestral em comum entre pai e mãe, os alelos, pedaços de DNA que se pareiam para formar diferentes genes, serão idênticos, permitindo a manifestação de características que poderiam não estar presentes nos pais”.
Crescimento da prática
Um dado revelado pelos profissionais diz respeito às pesquisas recentes que, também, mostraram um aumento acentuado na endogamia nos últimos 45 anos, segundo eles, em grande parte devido à popularidade de certas linhagens. “No entanto, também se sabe há muito tempo que a endogamia pode ter consequências negativas para um animal, além de alguma característica deletéria visível, ainda podem ter redução da fertilidade e capacidade atlética, pois mutações prejudiciais podem se acumular no genoma”, ressaltam.
Os médicos-veterinários salientam que cavalos criados de indivíduos não aparentados sem endogamia podem ter vantagens em saúde, tamanho e qualidade de vida. “Enquanto a endogamia produz homozigotos cruzando cavalos aparentados, a chamada heterose permite que pais de diferentes linhagens sejam heterozigotos – cujos genes são formados a partir de alelos diferentes dos mesmos genes em homozigotos”.
Eles avaliam que, neste caso, há vantagens tanto, em termos de capacidade reprodutiva, quanto na seleção exigida pelos criadores. “Isso porque, ao invés da consanguinidade, a busca é por pais com características de interesse comum que serão fixadas na prole por meio de cruzamentos”.
Ainda de acordo com os profissionais veterinários, valorizações de pureza racial e o uso de endogamia para garantir isso foram fortemente entrelaçadas na tradição de criação de cavalos. “Portanto, há a necessidade de considerar e incentivar a manutenção da diversidade genética nesses processos de forma a vincular a segurança da criação aos interesses do criador”.
Nível aceitável de endogamia
Quando questionados se há alguma forma de evitar a prática quando não houver segurança, eles contam que a endogamia pode ser feita a fim de evitar efeitos nocivos sobre indivíduos e espécies. “Para tanto, uma estratégia eficaz é definir um nível aceitável de endogamia e, por meio de simulações em computador, calcular os prováveis acasalamentos. Em casos de níveis acima do aceitável, um dos pais é substituído por outro indivíduo de igual mérito genético”, finalizam
Por Hélio Itapema, Rachel Campbell e Beatriz Tofani
Edição de Wesley Vieira/Portal Cavalus
Foto: Banco de imagens/Freepik
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