A patela ou articulação femorotibiopatelar, popularmente chamada de soldra, é a maior e mais complexa articulação dos equinos. É composta por três compartimentos sinoviais podendo ou não ter comunicação entre si, sendo estes: a articulação femoropatelar, femorotibial medial e femorotibial lateral, e possui um intrincado de ligamentos e tendões, tendo, como os principais, os ligamentos patelares lateral, intermédio e medial, colaterais e ligamentos cruzados cranial e caudal. Quanto às estruturas ósseas, a soldra é composta pelo fêmur, tíbia e patela (anteriormente, rótula).
Esta região é frequentemente sede de afecções responsáveis por desencadear claudicação de membros posteriores nos equinos, não havendo grande correlação com a raça ou sexo dos animais. Num levantamento conduzido por Vaughan (1965), foi descrito que de 553 cavalos que apresentavam claudicação de membro pélvico, 41% das patelas examinadas possuíam alteração radiológica. Por este motivo, é muito importante a avaliação desta estrutura no exame de compra e a realização de check-ups periódicos de forma a garantir o diagnóstico precoce e aumentar as chances de recuperação completa do atleta.
Articulação Femorotibiopatelar
As condições patológicas mais comumente observadas nesta articulação dos equinos incluem a osteocondrite dissecante, o cisto subcondral e a fixação dorsal da patela. A região também é acometida por lesões de estiramento, fraturas, epifisite, lesões de menisco, além da osteoartrite, que pode colocar um fim à campanha atlética de um cavalo.
No geral, as afecções ósseas têm como fator causador traumas diretos, estresses biomecânicos, excesso de carga na articulação e, em alguns casos, genética. A osteocondrite dissecante (OCD) refere-se a uma condição em ocorre o desenvolvimento de fragmentos ósseos e/ou cartilaginosos ao longo de superfícies articulares, muito comum em equinos na fase de crescimento. Além das dores, claudicação e restrição de movimentos, a afecção se manifesta através da formação acúmulos de líquidos no local, que apresenta uma aparência volumosa (denominada de efusão sinovial), podendo progredir para osteoartrite da articulação acometida, ou seja, uma degeneração da cartilagem articular. Já o cisto subcondral, refere-se a formação de cisto(s) abaixo da cavidade articular em questão, que acredita-se ocorrer secundariamente à osteocondroses e/ ou traumas, também resultando em dor, inflamação e restrição de movimentos.
A epifisite, também conhecida como “síndrome do jarrete inchado” é uma condição comum em animais jovens, caracterizada pela inflamação e dor na região de epífise proximal da tíbia, e ocorre quando o crescimento ósseo é mais rápido do que a ossificação da epífise, fazendo com que o animal apresente claudicação, inchaço e sensibilidade na região.
A principal condição patológica que afeta os tecidos moles dessa região anatômica, é a fixação dorsal da patela, conhecida popularmente como “câimbra”, e ocorre quando o ligamento patelar medial fica preso na tróclea medial do fêmur, deslocando a patela, o que impede a flexão da articulação femorotibiopatelar. Devido ao aparato recíproco, ao impedir a flexão dessa articulação, o membro todo permanece estendido mesmo quando o animal tenta andar, resultando na alteração da marcha, com arrastamento de pinça. Os fatores predisponentes incluem membros posteriores retos, pouco tônus do músculo quadríceps femoral, interrupção abrupta do treinamento seguido de encocheiramento, ou lesões que possam levar ao estiramento dos ligamentos patelares.
Por conta da diversidade de afecções, com múltiplas apresentações e em alguns casos, podendo até não gerar quadro clínico evidente a princípio, é fortemente recomendável que o diagnóstico das claudicações seja conduzido por um médico veterinário capacitado na área. O exame de claudicação começa pela inspeção e palpação do animal como um todo, buscando por alterações como aumento de volume, assimetrias, alterações de aprumo e lesões externas que possam guiar o examinador ao foco da dor. Em seguida, o paciente pode ser examinado em movimento sob diferentes circunstâncias, a fim de avaliar qual é o membro e a região afetados, assim como o grau de claudicação.
As claudicações com origem na articulação femorotibiopatelar geram manifestações clínicas típicas de claudicação de membro posterior, tais como a diminuição da fase cranial da passada, menor deslocamento vertical do membro, mantendo-o mais próximo do chão com possível arrastamento de pinça, evidenciado pelo desgaste dorsal da muralha, além da movimentação assimétrica de garupa. Devido às manifestações inespecíficas, faz-se necessário o uso de testes de flexão e métodos diagnósticos auxiliares como, por exemplo, o bloqueio intra-articular e os exames de imagem como radiografia e ultrassonografia. Outros exames como a cintilografia, tomografia e ressonância magnética podem ser realizados.
Cada vez mais comum na clínica médica, pode-se considerar o emprego da artroscopia, que consiste numa técnica cirúrgica minimamente invasiva, proporcionando tanto o diagnóstico, quanto o tratamento da maior parte das lesões da região femorotibiopatelar. Esta é considerada a técnica de eleição para o diagnóstico definitivo de diversas condições patológicas articulares, apresentando baixos índices de complicações.
Por terem finalidades diferentes, a utilização conjunta dos exames complementares auxilia o veterinário a fechar o diagnóstico de maneira precisa, direcionando o tratamento ideal para cada paciente.
De forma a prevenir o surgimento e minimizar complicações das lesões no aparato femorotibiopatelar, é de suma importância um treinamento adequado, respeitando os limites físicos do atleta, um manejo cuidadoso com a nutrição e casqueamento, além do acompanhamento periódico por um veterinário capacitado
Artigo assinado por: M.V. Hélio Itapema, Rachel C. Worthington, Lethicia S. de Brito Uehara, Giovana Tinelli.
Foto: Reprodução/Banco de Imagens
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