“Vou levar esse menino”. A frase, dita por um dos maiores locutores de rodeio do Brasil, Zé do Prato, soou quase como uma profecia diante dos pais de Leandro Sato. Não havia promessa de dinheiro, mas sim de aprendizado, de ofício, de futuro. Naquele instante, nascia não apenas um sonho, mas uma trajetória que atravessaria gerações e arenas em todo o país.
Assim começou a história de um garoto do interior, que poderia ter seguido tantos outros caminhos. Mas o destino quis que sua voz se tornasse o instrumento da emoção. Uma voz que faria vibrar arquibancadas, que se tornaria referência, que carregaria a tradição dos rodeios de antigamente.
Natural de Poloni, interior de São Paulo, Leandro Sato cresceu entre a vida simples do campo e a curiosidade pelo universo das montarias. Ainda criança, arriscou os primeiros pulos em bezerros, mas logo entendeu que o destino dele não seria em cima do animal e sim no microfone.
A primeira oportunidade veio em 1989, em Nhandeara/SP, em um rodeio amador promovido pela Cia Oscar de Rodeio. A notícia corria: havia um locutor japonês. A expectativa virou surpresa quando Leandro Sato ergueu a voz. Ali, nascia não apenas um locutor, mas um contador de emoções.
As grandes referências
Leandro Sato sempre buscou inspiração nos ídolos. Zé do Prato e Asa Branca foram as principais referências, mestres de uma agilidade rara, capazes de transformar oito segundos em espetáculo inesquecível para o público. Mas também se espelhou em outros nomes que marcaram a história, como Zé Ribeiro, Orestes Ávila e Paulinho Pena Branca.
“O que mais me fascinava neles era a rapidez de raciocínio, a forma como dominavam a arena e contagiavam o público. Eu queria chegar perto daquela energia”, lembra.

Da Ferradura à Paulo Emílio
Foi com a Cia Ferradura que Leandro Sato aprendeu os primeiros passos, passando quatro meses mergulhado no universo das narrações. Logo em seguida, recebeu um convite que mudaria sua trajetória: o tropeiro Paulo Emílio o chamou para narrar em sua companhia, já na época uma das uma da mais respeitadas do Brasil.
Vieram então as grandes arenas: Colorado, Bauru e, em 1996, o tão sonhado Rodeio de Barretos, onde dividiu a arena com os maiores locutores da época. “Foi quando eu pensei: cheguei!. Estava no meio de todos os grandes que eu sempre admirei.”
A voz que virou música
Um dos marcos de sua carreira foi o lançamento do CD ‘Bailão do Peão’, ao lado de Barra Mansa (in memoriam) e Mara Magalhães. O trabalho foi sucesso absoluto e ajudou a consolidar seu nome também fora da arena.
Família, pausa e retorno
Anos depois, uma mudança no rumo profissional fez com que Leandro Sato priorizasse família. Passou a narrar mais em rodeios regionais, sem abandonar o microfone, mas optando por acompanhar de perto o crescimento dos filhos.
Agora, incentivado por amigos, como o empresário DJ Mamute, e pelo público, o locutor retorna às grandes arenas, com uma agenda que volta a se estender pelo Brasil. “Estou muito empolgado e feliz por essa aceitação. Quero retomar com o mesmo afinco e profissionalismo de sempre.”
Leandro Sato, a voz da tradição
Mais do que um narrador, Leandro Sato é parte viva da tradição do rodeio brasileiro. Sua voz carrega o eco dos tempos de fita de rolo e vinil, atravessa gerações e segue firme na era digital. É a lembrança dos rodeios de antigamente e, ao mesmo tempo, a prova de que a emoção nunca envelhece, e como ele mesmo diz: “Tá na corda, tá no boi… Salvem salve nação de bota e chapéu”.
Colaboração: Carla Prado/Western Prado
Fotos: Arquivo Pessoal/Igor Mentsan
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