Há alguns anos, em uma das vezes que estive com Pat Parelli, um dos mais respeitados horsemen de todo o mundo, passei alguns dias montando com ele nos Estados Unidos
Além de montar, também trabalhei os cavalos do chão e, principalmente, passei os dias tendo aulas com Pat, que a cada momento tinha uma explicação da parte física a partir da parte mental dos cavalos. Em uma das aulas, paramos por mais de uma hora para discutir sobre o ‘fazer um cavalo’, em termos de ideias, tempo, manobras, etc. Foi quando ele nos falou sobre três coisas importantes para se fazer um cavalo: princípios, propósitos e tempo.
Um cavaleiro precisa ser alguém de princípios sólidos, bons. Honestidade, responsabilidade, senso de justiça, amor ao que se faz, solidariedade, dentre tantas outras coisas que muitos julgam ‘antigas’, mas que são eternas e elogiadas quando encontradas. Isto faz a diferença porque se consegue criar um ambiente assim nas cocheiras, não somente no relacionamento com os cavalos, mas também com as pessoas. Vale lembrar que nunca alguém trabalha sozinho em se tratando de cavalos, e por isso o tratamento, a forma como se relaciona e a energia toda do ambiente faz sim a diferença.
Princípios podem ser também facilmente comparados ou mesmo lembrados como ética. Ética é quando se tem ideias honestas, não somente com os cavalos, mas com os concorrentes, outros treinadores e profissionais. Ainda vemos pessoas falando mal de outras, criticando outros trabalhos, fazendo críticas maldosas, criando situações entre proprietários e principalmente, até mesmo tirando cavalos de outros treinadores pela necessidade de dinheiro, reconhecimento, etc. Ao mesmo tempo, quem trabalha com raiva, angústia, medo ou desconforto com relação ao colega de profissão, vai com certeza passar estes sentimentos aos cavalos.
Um cavaleiro precisa ter propósitos claros. Não somente para os cavalos que trabalha, mas para sua vida. Onde se quer chegar? De que forma? O que se quer da vida no futuro? Como alcançar seus objetivos sem afetar os princípios citados acima? A partir disto, como planejar a carreira profissional, dos cavalos, dos potros novos? Qual o envolvimento das pessoas dentro dos planos particulares?
Por fim, tempo. Leva tempo para se fazer um cavalo. Quanto tempo é tempo para você? Quanto tempo é tempo para um cavalo? Será que a noção de tempo para um cavalo é a mesma do que para seu cavaleiro? Um cavaleiro pode ter no tempo seu principal inimigo ou seu maior aliado. Basta como encara o tempo. Se tiver pressa, vai sim ter o tempo como inimigo. Se tiver calma, souber enxergar as pequenas e discretas mudanças, vai ter o tempo como seu aliado.
Acho, realmente, que precisamos pensar nisto. Não somente quem monta, mas também os proprietários de cavalos que tem seus animais treinando com profissionais. Como são estas pessoas? Como tratam dos cavalos e das pessoas que trabalham com ele? Como tratam as questões de tempo? Vale, também, lembrarmos aqui dos criadores que muitas vezes colocam uma pitada a mais de pressão em seus cavaleiros para aprontarem os cavalos novos, em detrimento de coisas que para os cavalos nada valem.
Quem ainda não mudou seu pensamento, deve lembrar que princípios, propósitos e tempo são sim fatores importantes, que podem fazer toda a diferença no dia a dia dos cavalos e das pessoas…
Por Aluísio Marins
Fotos: cedidas