Papo com Rafael Corrêa Paoliello

Quem vê sua estante cheia de troféus e fivelas, pode não imaginar a pessoa que ele é. Além de talentoso nas pistas, é um exemplo fora delas

Todo esporte precisa de ídolos para o seu fomento e Rafael Correa Paoliello, com certeza, é um deles no Laço em Dupla. Podemos começar esta matéria listando os títulos, mas também podemos falar do seu lado família e exemplo para os iniciantes. Seja qual for a forma que nos referirmos a ele, a imagem que passaremos é de uma pessoa simples, que ama o que faz, que escolheu ser treinador e viver do cavalo por vocação. As vitórias são consequência de toda dedicação e muito treino.

Ele é cinco vezes campeão do ABQM Awards, o ‘Oscar’ da raça Quarta de Milha, privilégio de poucos. Nascido em Araçatuba/ SP, começou a laçar aos seis anos. Seu avô, Francisco Carlos Furquim Corrêa (In Memorian), foi um dos primeiros a criar um animal Quarto de Milha no Brasil, então ele nasceu em uma família que lhe deu todas as condições de praticar o esporte equestre e estar sempre em meio aos cavalos.

Do lazer para profissão. Viver do cavalo era um sonho. Depois de um intercâmbio nos Estados Unidos, onde chegou  a competir nos campeonatos do High School (colegial), ele teve outras experiências internacionais, e só após a faculdade de Zootecnia, em 2007, é que definiu que ganharia a vida como treinador e competidor.

Fotos: Miguel Oliveira

Ele tem títulos de Potro do Futuro, Campeonato Nacional, Congresso, Copa dos Campeões, Campeonato Mundial da AQHA, Laço Técnico PH Eventos, Semana do Cavalo de Laço Haras Twin Brothers, Grand Prix RW Haras Raphaela, AGQM, entre outras. Rafael é um dos nomes mais renomados do Laço no Brasil.

Confira a entrevista!

Portal Cavalus: Como percebeu que levava jeito para treinar cavalos de Laço?

Rafael Paoliello: Já competia em provas grandes durante a faculdade e percebi que tinha aptidão para treinar os animais, foi aí que comecei a pensar que poderia ser minha profissão. Decidi que viveria do cavalo, como treinador e competidor da modalidade Laço em Dupla. Tornei-me profissional e montei meu Centro de Treinamento, na Fazenda onde cresci em Rubiácia/ SP, pertinho de Araçatuba. Foi quando ganhei meu primeiro Potro do Futuro, onde eu mesmo iniciei o treinamento do cavalo, foi ai então que me deu a certeza que eu podia ter êxito como treinador. Ainda na faculdade, com o auxilio do Adalberto, enfrentei o desfio de pegar para treinar mais dois potros de dois amigos que confiaram em nosso trabalho, o Rafael Lemos ‘Batido’ e o Fernando Benavente ‘Paina’, e no ano seguinte ganhei novamente a prova. Já tinha potros de outras pessoas treinando e as coisas foram acontecendo naturalmente, até hoje.

PC: Qual o peso na sua formação como profissional da experiência nos Estados Unidos nos vários momentos da sua vida?

RP: Pra mim foi fundamental ter passado estes anos nos Estados Unidos . Foi lá que adquiri novas técnicas com profissionais que eram meus ídolos desde criança. Consegui enxergar e aprender que seria possível ser um profissional de respeito e viver do cavalo. 

PC: Você imagina que todos os que vivem do cavalo devem passar por experiências parecidas com sua alguma vez na vida?

RP: Eu acredito que pra quem tem a oportunidade com certeza deve ir, pois é onde nasceu nosso esporte e por isso os melhores laçadores e professores estão lá. Quando a gente acompanha um pouco as competições americanas, conseguimos enxergar o grande potencial do Laço em Dupla. Conseguimos aprender não só sobre laço, mas sobre organização de provas, infraestrutura, absorver conhecimento com os profissionais que já estão na estrada há muitos anos, como respeitar nossos parceiros, nossos animais e encarar o esporte como uma profissão, coisa que no Brasil ainda é bastante difícil devido a falta de reconhecimento, dificuldade de arrumar patrocínio e etc, mesmo tendo melhorado bastante nos últimos anos.

Fotos: Miguel Oliveira

PC: Assim como o Juninho Testa, que está indo muito bem nos rodeios da PRCA. Nunca teve vontade de mudar-se e tentar essa mesma jornada?

RP: Eu acho que todo laçador sonha em participar de rodeios e um dia se classificar para NFR, mas é uma façanha que realmente não é fácil. Vejo o Juninho como um dos maiores laçadores do mundo, um fenômeno quase que incomparável. Quem não conhece a dimensão do laço e a força do esporte nos Estados Unidos não tem ideia da façanha que o Testinha realizou. Tenho certeza que com sua juventude, talento e humildade em pouco tempo teremos um brasileiro campeão mundial da PRCA, e eu estarei presente torcendo por ele, que é um grande merecedor de tudo que esta conquistando.

Hoje, esta ideia de mudar para os Estados Unidos, não faz parte dos meus planos devido toda a estrutura que montamos. Graças a Deus as coisas relacionadas ao cavalo estão caminhando muito bem aqui no Brasil. Mas, com certeza, quero continuar indo para os Estados Unidos para competir e me reciclar, continuar aprendendo sempre. Como já fazem dois anos que participo do Campeonato Mundial da AQHA, também tenho do sonho e o objetivo de ser campeão mundial no Laço Técnico.

PC: Qual o melhor laçador do mundo hoje e porquê?

RP: É uma pergunta difícil de responder, porque existem vários laçadores que estão em um nível muito similar. No Laço Técnico meu maior espelho, e é a linha de treinamento que tento seguir, é do JD Yates, que é o maior ganhador de Laço Técnico de todos os tempos. Já no Laço Cronometrado eu poderia citar alguns nomes. Na cabeça, na fase atual, eu gosto muito do Travor Brasile, Clay Trian e Kalleb Driggers, já no Laço Pé seria o Jade Corkill, Patrick Smith e o Juninho Testa.

PC: Como você encara os troféus do ABQM Awards por cinco anos seguidos?

RP: O Awards para mim significa a conquista dos meus objetivos a cada temporada. É muito gostoso depois de um ano de muito trabalho e dedicação ser premiado. A impressão que temos quando ganhamos este troféu é de que o dever foi cumprido, e além disso, é um estimulo ainda maior para iniciar  próximo ano.

Um prêmio desse nível nunca é possível de ser realizado sozinho, tenho vários sócios nestes troféus (risos). Primeiro lugar Deus, ao meu irmão Rodrigo que está sempre ao meu lado me ajudando dentro e fora da pista, minha família sempre me apoiando, os clientes que confiam em nosso trabalho, meus patrocinadores, minha equipe do CTRP, dentre eles treinadores, auxiliares, tratadores, veterinários e ferradores que estão junto comigo batalhando duro em nosso dia a dia.

PC: Existe um caminho para o sucesso?

RP: Com certeza existe e este caminho para o sucesso. Não é fácil, mas é possível de ser alcançado, e depende do esforço e da persistência. O sucesso, na maioria das vezes, não acontece da noite para o dia, requer paciência e muito suor.

Para tentar alcançá-lo, eu tenho na minha cabeça sempre melhorar, buscar aprender coisas novas com outras pessoas, jamais achar que já sou bom o suficiente. O aprendizado é uma coisa que não tem fim. E quando as vitórias chegarem, jamais esquecer a humildade, simplicidade, respeito com as pessoas e os animais. Acho também que para chegar ao sucesso, um dos principais ingredientes, além dos citados acima, é gostar e ter amor pela profissão.

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