Saúde & Bem-estar

Uso de células-tronco no tratamento da tendinite equina

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A revolução no tratamento veterinário dos cavalos de esporte

O incremento dos eventos esportivos nas diversas modalidades e a rotina intensa de treinamentos e provas, tem predisposto os animais a lesões musculoesqueléticas. Onde se destacam as tendinites, como uma das principais afecções do aparelho locomotor do equino atleta.

Este tipo de lesão tem como fatores predisponentes a fadiga, condições inadequadas dos locais de treinamento, e traumatismos definidos pelo excesso de treino. Em cavalos de esporte, a estrutura mais afetada é o tendão flexor digital superficial (TFDS) e a maioria das lesões ocorre nos membros anteriores.

Após as lesões, a alta tendência à desorganização estrutural das células tendíneas, bem como o longo tempo necessário para a recuperação plena das mesmas, comprometem seriamente a performance, reduzindo a vida útil ou até encerrando a carreira atlética do animal, o que tem representado um importante impacto financeiro na indústria equina.

As terapias com células-tronco são ferramentas promissoras para o tratamento das lesões tendíneas. A utilização desse novo recurso é uma prática ainda recente na Medicina Veterinária, mas com um enorme potencial para se desenvolver, tornando-se uma ferramenta útil no tratamento das enfermidades do aparelho locomotor nos equinos de esporte.

A tendinite

É fundamental lembrar que a tendinite é a inflamação do tendão e das junções músculo-tendíneas, ocorrendo, nos equinos, com maior frequência no tendão flexor digital superficial.

A causa mais comum para que ocorra a tendinite é o esforço exagerado de extensão sobre os tendões, causando distensão das suas fibras que, por não suportarem a tração mecânica, podem apresentar severas rupturas parciais, desenvolvendo amplas e dolorosas reações inflamatórias locais.

Treinadores e proprietários devem saber que essas extensões exageradas sobre os tendões podem se dar devido a várias causas: treinamentos excessivos, ferrageamento impróprio, trabalho com animais jovens, utilização de locais de treinamento com solos inadequados (cimento, areia e grama), obesidade, eixo falângico longo e outros fatores hereditários.

Para entender melhor o processo, os responsáveis pelo treinamento dos animais necessitam estar cientes de que a capacidade de o equino trabalhar depende do movimento ou do deslizamento dos tendões por longas distâncias entre os tecidos moles e as estruturas adjacentes.

Assim, ao realizar o exercício, o tendão flexor digital superficial trabalha com margens muito pouco seguras – próximas ao ponto de rompimento, que vai de 12 a 16% de estiramento. Além disto, o calor que o tendão produz em sua região central devido à repetição da tensão e relaxamento realizado durante o movimento resultará em micro traumas subclínicos, que ao se intensificarem, irão causar a tendinite propriamente dita.

A tendinite se instala com edema, deslocamento de fibras colágenas, rompimento de capilares locais e das arteríolas, o que resultará em hemorragia no interior do tendão, podendo se estender até o paratendão. Após alguns dias, o coágulo será substituído por tecido conjuntivo de granulação.

As lesões e degenerações dos tendões podem ocorrer em diversos graus de intensidades, oscilando entre um grau de leve estiramento, até a ruptura total do tendão.

Infelizmente, na maioria das lesões tendíneas dos equinos, existirá grande perda de tecidos, ocorrendo respostas extensas nos tecidos peritendíneos, ocasionando fibroplasia tendínea e adesões, impedindo o restabelecimento da capacidade normal do deslizamento do tendão e redispondo o animal a novas recidivas que giram em torno de 56%.

Para o adequado diagnóstico e tratamento da tendinite, o Médico Veterinário deverá ser chamado. Ele irá realizar um exame investigativo com metodologia científica (anamnese, exame físico, inspeção e palpação), perspicácia e muita paciência, estabelecendo um protocolo de exame que contenha todas as informações do ambiente em que o animal vive, seu manejo e características das afecções de claudicação.

A princípio, o exame clínico básico será fundamental no diagnóstico e no prognóstico da claudicação. As lesões graves são identificadas com a presença de edema, elevação de temperatura e dor a palpação.

Lesões subclínicas não são tão facilmente identificadas e necessitam de observação cuidadosa dos tendões após o exercício. Além disso, o uso do ultrassom como forma de diagnóstico aumentou a capacidade de definir a extensão das lesões.

A terapia celular no tratamento das tendinites

Além dos tratamentos tradicionais utilizados nas tendinites (uso deanti-inflamatórios sistêmicos e locais, crioterapia tópica, terapia de contraste, hidroterapia, ultrassom terapêutico, laser e  ‘shock wave’), a utilização de células-tronco obtidas do tecido adiposo

 (terapia celular) tem reduzido o tempo de recuperação das lesões em 30% a 40%, garantindo o rápido retorno dos animais ao treinamento e às atividades esportivas, configurando-se em um recurso promissor na Medicina Veterinária atual.

A chamada medicina regenerativa tem como objetivo tratar doenças degenerativas e lesões traumáticas através do transplante de células precursoras (células-tronco) do próprio equino ou de doadores compatíveis, visando o direcionamento e ampliação do processo de reparo dos tecidos lesados por tecido mais próximo ao original, promovendo uma regeneração e não uma reparação.

A grande novidade dessa nova forma de tratamento é que no tratamento convencional a cicatrização do tendão flexor digital superficial ocorre pelo processo de reparação, resultando em uma estrutura com elasticidade diminuída e com altas taxas de recidiva, e mesmo assim levando de três a 24 meses. Já no tratamento com células-tronco, ocorre uma regeneração dos tecidos, diminuindo a possibilidade de recaídas.

O implante autólogo (do cavalo para ele próprio) tem sido o tratamento de escolha, sendo a medula óssea e o tecido adiposo as localizações de coleta de eleição, devido à baixa incidência de lesão do local manipulado e possibilidade viável de coleta no cavalo adulto.

É essencial que o Médico Veterinário responsável pela aplicação da terapia celular tenha experiência e qualificação na área, garantindo a eficácia da coleta, criopreservação, viabilidade celular e implante que influenciam no resultado final. Já é fato que o uso de células-tronco vai revolucionar o tratamento veterinário de cavalos de esporte.

A terapia celular é uma realidade no mercado, com comprovação tanto em animais experimentais quanto naqueles em atividade esportiva, surgindo como aliada importante na recuperação de cavalos de esporte, os quais antes teriam tido suas carreiras precocemente interrompidas.

Nos Estados Unidos e na Europa, a tecnologia já é bem difundida e utilizada, reduzindo o tempo de recuperação de lesões graves em até três meses e reduzindo o risco de novas lesões. Nos exames de ultrassonografia pós-implante, é possível acompanhar a regeneração, recuperação e a formação de células e fibras tendíneas, sem ponto de cicatrização, o que é fundamental para a prevenção de recidivas.

Por Diego Guillermo Valent Ramos
Médico Veterinário
Fonte: Editora Passos

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