Há alguns anos, tivemos na UC um curso chamado Equitação Inteligente
O curso visou colocar aos alunos as três dimensões do ‘montar a cavalo’: física, mental e emocional. Explico: a física é o que você deve criar no seu cavalo em termos de controles, códigos de comunicação e como você opera o cavalo fisicamente em termos de biomecânica, ação das ajudas, etc.
A mental é como você e seu cavalo podem cada vez mais ficarem sincronizados em pensamentos e ações a partir do seu conhecimento sobre o comportamento natural, instintos e formas de aprendizado. Parte de você e não dele está busca pelo conhecimento. A dimensão emocional é a forma como vocês reagem a tudo o que ocorre enquanto estão juntos, seja montado ou não. São as respostas, reações e formas como vocês resolvem as coisas que acontecem quando estão juntos.
Eu me lembrei desse curso tempos depois quando eu fui ministrar um curso para cavaleiros de Três Tambores. A grande questão dos ‘tamborzeiros’ é como o cavalo vai virar os tambores sem derrubar, no menor tempo possível. Isto significa que todo mundo fica preocupado com a forma como o cavalo vai virar, se vai ou não se desequilibrar, se vai cair com a espádua ou não, etc, ou seja, com a parte física do momento.
E a parte mental? E a emocional? Muita gente, e provavelmente até mesmo você, pode achar que tudo isto é besteira. Conto aqui um caso deste curso: o cavalo derrubava o tambor. Na largada ficava como louco empinando e se antecipando, andando de lado. Trabalhamos esta ansiedade e a ‘loucura’ toda até que o cavalo se acalmasse. Quando se acalmou, largou em um galope organizado, cadenciado e mais tranquilo.
Mais devagar do que o galope de prova, mas sem dúvida muito mais organizado. Virou os três tambores super bem, redondos e impulsionados. Por quê? Porque quando se acalmou (emocional), começou a organizar melhor seus pensamentos e atitudes (mental) e então foi para o tambor e o virou corretamente (físico). Até aí tudo certo, mas e o cavaleiro? Teve que se acalmar (emocional), pensar no que queria e como queria, quando queria (mental), e então executou tudo o que planejou (físico).
Portanto, quando em algum curso, clínica, treinamento, alguém lhe falar sobre equilíbrio do seu cavalo, lembre-se que antes do equilíbrio dele, vem o seu. Tanto o físico quando o mental, como o emocional. Sai de dentro para fora e não de fora para dentro. Talvez até do seu coração…
Por Aluísio Marins
Médico Veterinário e reitor da UC, instruindo cavaleiros a mais de 20 anos
Foto: finishline