Esportes equestres promovem a igualdade de gênero entre atletas

Seguindo regras iguais, homens e mulheres disputam pelos mesmos prêmios nas competições esportivas da raça Quarto de Milha

Sobre a sela, conduzindo cavalos Quarto de Milha, homens e mulheres concorreram em condições de igualdade nos esportes do 29º Congresso Brasileiro de Conformação & Trabalho. As provas foram promovidas pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha, em Avaré/SP.

O evento reuniu 12 modalidades equestres, constituídas por categorias mistas, nas quais homens e mulheres seguem as mesmas regras para atingir o objetivo de se consagrarem campeões. As estrelas principais das competições são os animais e os competidores. Tanto o cavaleiro quanto a amazona têm o papel de conduzir o cavalo durante as apresentações, de modo com que ele execute com destreza as manobras necessárias para chegar ao pódio.

“As oportunidades para homens e mulheres ainda não são as mesmas em diversos aspectos do cotidiano, mas nas provas equestres, dentro e fora da pista, todos são iguais. Na ABQM, não existe nenhuma prova ou categoria exclusiva para homens. As mulheres podem participar de todas as competições em condição de igualdade”, garante Cicinho Varejão, presidente da Associação.

Essa condição vale tanto para provas individuais como para as disputas em equipe. Nas modalidades de Ranch Sorting e Team Penning, homens e mulheres podem fazer parte de uma mesma equipe. “Com exceção da categoria Feminino, nenhuma outra é separada por gênero. Os requisitos que determinam a participação do competidor é a idade, a experiência, baseada nos pontos acumulados na ABQM ou o nível, amador ou profissional, do atleta”, explicou Henrique Campana, diretor de Esportes da ABQM.

Usando como exemplo o próprio Congresso, na categoria Aberta Livre no Ranch Sorting, os dois primeiros lugares foram de duplas mistas. Juviliana Aparecida da Silva foi campeã ao lado de Dimas Donizete Siqueira, e Gabriela Alves Pimenta vice ao lado de Osmir Francisco. Gabriela voltou ao pódio do Team Penning Aberta Livre em segundo lugar formando trio com Antônio César Gumiero e Rodolfo Cassio do Nascimento.

Entre os destaques desse evento, uma das duas únicas treinadoras mulheres da Rédeas está de volta às pistas. Pela Aberta Sênior, Renata Ricci ficou com o título do Congresso ao apresentar Holly Jac Dun It e marcar 213,5. Os dois concorriam também pela Aberta Sênior Castrado e AQHA, onde ficaram com o primeiro prêmio. Na Aberta Junior, ela foi terceiro lugar com Golden Little Cielo, 212,5 pontos, segundo pela AQHA. As duas performances estão no top 10 desse Congresso.

Renata, até hoje, é a única mulher a ter feito parte da equipe brasileira de Rédeas dos Jogos Equestres Mundiais. Ela foi ao evento na primeira participação da modalidade em WEGs, em Jerez de La Frontera, Espanha. “Essa participação foi super importante para minha carreira, mas não foi fácil, era um caminho novo. Mas valeu muito a pena. Foi um momento, que logo no começo, serviu para que as pessoas me reconhecessem como atleta, treinadora e profissional”, relembra ela, que treina profissionalmente desde 1999.

Com seu Centro de Treinamento aberto desde 2000, Renata estava há dois anos sem participar de provas da ABQM. Em 2011 ficou internada vários meses por causa da Síndrome de Guillain-Barré. Quando teve alta do hospital e passou por toda recuperação para aprender a voltar a andar e fazer as tarefas do dia a dia, sua musculatura ainda estava fraca para que ela voltasse a trabalhar no ritmo de antes.

Renata Ricci com o marido Pedro da Silva

As atividades do seu CT não pararam, mas de 2012 até agora, Renata apresentou pouco. Não sentia segurança física para montar muitos cavalos e ir as provas. Até que em 2018 fez um tratamento intensivo para ganhar massa muscular, fortalecer os músculos e ganhar também fôlego e resistência, com muita dieta, academia e musculação.

Hoje se sente mais segura,  montando mais cavalos e programou seu retorno às pistas no final do ano passado em uma prova de núcleo. “Depois disso, ainda fiquei mais 60 dias sem treinar e voltei em março, treinando para o Congresso. Uma coisa bacana disso é que ganhei a prova no Holly Jac Dun It, um cavalo que vi quando julguei uma prova no Sul”.

Lucas Leite Ribeiro é médico, redieiro e amigo de Renata. Foi através da ajuda dele que ela fez esse tratamento ano passado, mudando sua rotina. Depois que Renata voltou do Sul falando bastante desse cavalo, que serviria para Lucas montar, ele fez uma surpresa para ela. Comprou o animal, não só porque precisava de um cavalo de prova, mas com a missão de fazer Renata voltar às pistas. Nada acontece por acaso e não só ela voltou como venceu!

Nesses quase 20 anos de profissão, Renata afirma que nunca sentiu preconceito por ser mulher em meio a treinadores homens. “Lembro, muitos anos atrás, de ouvir algumas pessoas falando que jamais mandariam cavalo para uma mulher treinar. Mas, preconceito direto, eu nunca sofri. Hoje em dia já vejo esse lance de ser mulher com outros olhos, por sermos consideradas mais cuidadosas e detalhistas”.

“Nunca me senti preterida, pelo contrário, não falta trabalho e cavalo por aqui”. No Centro de Treinamento Renata Ricci, inclusive, há um número interessante de amadoras, suas clientes, montando com ela e seu marido, Pedro da Silva.

Outro momento de destaque foi nas provas de Cinco Tambores, nas duas classes mais concorridas da modalidade, a Aberta com 20 inscrições e a Amador com 16. O conjunto formado por Mariana Mazo Betti Pio da Silva e a égua Xalana Agae, de propriedade de seu pai Geraldo Pio da Silva Júnior, de Bariri/SP, levou os dois troféus.

Mariana Mazo Betti Pio da Silva

Essas conquistas aumentaram ainda mais a farta galeria de prêmios obtidos pela amazona nas categorias Jovem e Jovem Principiante no Congresso Brasileiro, Campeonato Nacional e Copa dos Campeões.

Também vem chamando atenção a categoria Amador nos Três Tambores. Em grandes provas, assim como no Congresso, as mulheres dominaram o pódio. Renata Lauck Souza foi campeã com B2B Lovergirl Rolls, Patricia Ribeiro de Oliveira segundo lugar com Tres Diamond Six RCH, e Caroline Rugolo, terceiro com PG Blue Max Jazzy. E se continuarmos pesquisando, vamos encontrar mais registros como esse em diversas modalidades e categorias.

De acordo com o Departamento de Esportes da ABQM, 6106 inscrições foram realizadas para a primeira etapa do Congresso. A segunda etapa está marcada para 23 a 28 de abril, no Rancho Quarto de Milha, em Presidente Prudente/SP. As inscrições foram encerradas dia 15 de abril para os competidores de Breakaway Roping, Laço Cabeça, Laço em Dupla, Laço Individual, Laço Individual Técnico e Laço Pé.

No Laço, as mulheres vêm ganhando espaço também em categorias antes dominadas pelos homens. Muito mais laçadoras estão se inserindo nesse espaço de forma robusta e definitiva. Não só há uma proliferação de provas exclusiva de Laço Feminino, no Team Roping e no Breakaway Roping, como elas estão laçando em provas abertas como as da CPLD, por exemplo. Algumas inspiradas pelos maridos e namorados, outras porque acabaram se apaixonando pelo Laço.

Por Luciana Omena
Colaboração: Juliana Antonangelo/ABQM
Fotos: Divulgação/ABQM

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