Saúde & Bem-estar

Avaliação do perfil metabólico de equinos atletas

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Estudo feito na raça Quarto de Milha utilizando animais da modalidade Laço em Dupla

A produção de cavalos no Brasil movimenta R$ 7,3 bilhões no ano. O país possui o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Para o preparo físico do equino atleta, torna-se essencial um bom manejo, a manutenção nutricional correta e uma rotina de treinamentos adequada e compatível com raça e modalidade.

Caso esses fatores estejam desequilibrados, não haverá adaptação dos animais e possíveis alterações se mostrarão no rendimento individual, caso esse o condicionamento e o preparo do físico do atleta não sejam alcançados, ou o animal submetido ao exercício não se adapte, o próprio mostrará algumas alterações.

Dentre essas alterações, destacam-se as ocorridas no sistema cardiovascular e musculoesquelético desses animais. São os que mais sofrem devido ao desafio passado durante essa atividade. O hemograma e mensuração das enzimas Creatinoquinase (CK) e Aspartato Aminotransferase (AST), podem se mostrar alterados, podendo evidenciar uma descompensação na hemodinâmica e consequentemente um despreparo do equino atleta.

O proposto trabalho teve então como objetivo identificar os parâmetros cardiovasculares, que se alteram durante a competições de cavalos atletas de alta performance, visando determinar se esses animais sofrem algum distúrbio hemodinâmico.

Os resultados obtidos no experimento, não mostram nenhuma alteração significativa nos hemogramas, nas lâminas e nos exames bioquímicos das enzimas CK e AST, indicando que os animais utilizados para o trabalho estão em perfeitas condições de trabalho, ou seja, animais não são exigidos mais do que suportam, são animais que recebem em um treinamento e condicionamento prévio a competições.

Introdução

Considerado o cavalo mais versátil do mundo, o Quarto de Milha tornou-se nos últimos anos uma das principais raças dentro do mercado brasileiro de equinos. Esses animais são adaptáveis as mais diversas modalidades esportivas, com merecido destaque às provas de velocidade. A utilização de testes para a avaliação do desempenho atlético realizados a campo (pista), juntamente com as respostas fisiológicas obtidas pela ação do exercício e do treinamento, pode ser uma valiosa ferramenta para maximização dos resultados obtidos nas competições.

O programa de treinamento deixa de ser realizado somente de maneira empírica tornando-se um processo técnico, com embasamento clínico e fisiológico. O esforço físico de curto período e alta intensidade induzem alterações em variáveis hematológicas e bioquímicas nos equinos.

O esforço físico induz a liberação de catecolaminas que, ao promoverem a contração esplênica com liberação de hemácias para a circulação sanguínea, proporcionam melhor perfusão tecidual, principalmente para o sistema nervoso central e musculatura esquelética. Sendo assim, ao término do esforço físico ocorre a organização do desequilíbrio hemodinâmico e esta variável retorna ao seu valor de repouso, sem que a variação represente enfermidade.

O maior desafio ao se destinar um cavalo para a vida atlética é mantê-lo livre de lesões. Dentre as principais estratégias para a detecção e acompanhamento clínico de lesões musculares e manutenção da homeostasia, destaca-se a avaliação da atividade de enzimas marcadoras de injúria muscular no soro ou plasma.

equinos atletas

As enzimas mais comumente utilizadas para indicação de dano muscular são: aspartato aminotransferase (AST), creatina quinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH), embora esta última seja menos específica para avaliação de alterações do tecido muscular.

A AST, que catalisa a transaminação de L-aspartato e alfacetoglutarato em oxalacetato e glutamato, é encontrada em quase todos os tecidos, logo, a atividade sérica de AST não é específica para nenhum tecido, mas o músculo e o fígado podem ser considerados as principais fontes dessa enzima.

As mudanças séricas da CK ocorrem mais rapidamente do que as da AST, cujo aumento pode perdurar por semanas, em caso de doença muscular ou exercício, enquanto os níveis de CK podem diminuir em cerca de seis a 48 horas. Avaliação das lesões musculares, entre elas, as provocadas pelo exercício.

Embora a CK seja mais específica como indicativo de lesão muscular, quando comparada à AST, a determinação simultânea de AST e CK em equinos representa valioso potencial diagnóstico e prognóstico, em função das diferentes taxas de retorno aos valores basais de atividade sérica ou plasmática. Durante o período de competição, o fator estresse promove alterações físicas, bioquímicas e hematológicas nestes animais.

É de extrema importância a avaliação e compreensão das alterações bioquímicas produzidas por exercício de alta intensidade, e assim refletir alterações nas funções de sistemas diferentes por exercício e no tipo de energia utilizada.

A composição bioquímica sanguínea dos cavalos reflete com precisão a situação metabólica dos tecidos, assim podendo avaliar lesões teciduais, transtornos no funcionamento de órgãos, adaptação do animal diante de desafios nutricionais, fisiológicos e desequilíbrios metabólicos específicos, além de detectar patologias cardíacas, respiratórias e musculoesqueléticas, que são fatores limitantes à realização de  exercícios tornando assim a avaliação de perfil bioquímico complexa.

O presente estudo teve por objetivo identificar os parâmetros cardiovasculares que se alteram durante a competições de cavalos atletas de alta performance, visando determinar se esses animais sofrem algum distúrbio hemodinâmico.

Foram utilizados seis equinos atletas de Laço em Dupla da raça Quarto de Milha, machos, com faixa etária entre 7 e 11 anos, submetidos à criação intensiva, clinicamente sadios com peso médio de 500 Kg, provenientes da Fazenda Pingo D’Água, localizada no município de Iperó/SP. Todo o experimento foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA – UNISO) pelo protocolo 115/2017.

Esses animais são iniciados à doma com aproximadamente 30 meses. Após a doma propriamente dita, esses animais iniciam os treinamentos da modalidade. Ao se tornarem atletas já com um tempo de competição, os cavalos possuem uma rotina de treinamento entre 3 a 4 dias na semana, estes cavalos são aquecidos fisicamente aproximadamente 15 minutos antes de iniciarem os treinamentos.

Em épocas de competições, os mesmos animais também possuem férias, no terço final do mês de dezembro até final de janeiro, quando se iniciam as competições. Os animais foram  avaliados em três momentos ao decorrer do processo de treinamento rotineiro para uma prova de Laço em Dupla. Foi pré-determinado os tempos da seguinte forma: (T1) foram coletadas as amostras sanguíneas nesse primeiro momento dos animais no piquete às 14h, (T2) foi realizada a segunda coleta imediatamente após os animais correrem oito bois e (T3) a terceira coleta foi realizada nos animais após 4h do término do treinamento. Em T1, T2 e T3 foi realizada a de avaliação do Hematológica e também bioquímica das enzimas CK e AST.

Os animais foram contidos com a utilização de cabresto e posicionados de maneira correta, conferindo a integridade física de todos envolvidos. Para a obtenção das amostras, realizou-se a punção da veia jugular com agulhas descartáveis foi precedida por higienização com álcool 70%. O material foi acondicionado em tubos com anticoagulante EDTA K3, foram processados com os testes AST/GOT LIQUIFORM (para enzima AST) e CREATININA K VET® da Labtest (para a enzima CK) e tubo seco para as mesmas amostras.

As amostras biológicas foram acondicionadas em uma caixa de isopor a 4 graus sendo que o hemograma foi processado após 1 hora da terceira coleta (T3) no Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário Universitário da Universidade de Sorocaba onde foi analisado. As amostras de soro foram congeladas e analisadas as enzimas CK e AST, em laboratório terceirizado, após 24 horas do T3.

equinos atletas

Os hemogramas dos equinos estudados não sofreram alterações em relação aos tempos de cada coleta (tabela 1), mantendo-se dentro dos valores de referência para a espécie ERITROGRAMA: Hemácias (x106/µL) 6.5 a 12.5; Hematócrito (%) 32 a 52; Hemoglobina (g/dL) 11 a 19; VCM (µ3) 34 a 58; CHCM (%) 31 a 37; PPT (g/dL) 6,0 a 8,0 (LAB&VET).

Esse fato pode ser explicado e corrobora com os estudos de Lopes et al. (2009), que demonstraram a influência do estresse nesses parâmetros, quando os animais não estão condicionados para a atividade física proposta.

O exercício causa alterações reversíveis na ultraestrutura do músculo esquelético equino, como elevações na permeabilidade do sarcolema e das proteínas musculares, como creatina quinase (CK), aspartato amino transferase (AST) e mioglobina que são liberadas na circulação relataram que o pico de CK ocorre 6 horas após o exercício, e que após esse período os valores são semelhantes ao de repouso. A atividade sérica da CK fornece avaliação das lesões musculares, entre elas, as provocadas pelo exercício.

O efeito do exercício sobre as atividades enzimáticas de função muscular tem sido estudado em equinos em momentos antes e após atividade física. Assim, a permeabilidade do sarcolema aumenta durante o exercício, e a CK e AST podem escoar para o plasma. Um programa de treinamento adequado, que se ajusta ao condicionamento físico do equino, não leva a um aumento acentuado na concentração das enzimas de função muscular.

No presente trabalho não houve uma alteração preocupante e significante no hemograma e no bioquímico. Esses animais são preparados e condicionados ao exercício que são submetidos, foram exigidos sem ultrapassar seus limites.

Assim, frente ao estudo experimental e em virtude dos animais em questão e o potencial da raça Quarto de Milha para devidas atividades físicas, concluímos que os cavalos atletas da Fazenda Pingo D’Água são extremamente condicionados ao exercício que são exigidos e adaptados com a rotina de treinamento, pois não houve alteração nas concentrações plasmáticas das enzimas musculares.

Por Murilo Vieira Martins Alcalay, Paulo José Sanchez, Henry Wajnsztejn Nilson Santos
Fonte: Editora Passos
Fotos: Cedidas

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