Mormo: presença constante ameaçando rebanhos

Conheça mais a respeito dessa doença equina em que o controle depende muito do manejo e atenção dos proprietários

 O Sindicato dos Médicos Veterinários no Estado do Rio Grande do Sul (Simvet/RS) emitiu nota recente após a divulgação de novos casos de Mormo no Estado. A entidade reforça que, desde 2015, quando foi registrado o primeiro caso da doença em solo gaúcho, vem se esforçando no alerta a criadores, usuários e veterinários para o controle e combate à zoonose, que compromete a sanidade dos equinos.

Segundo o Simvet/RS, os casos registrados nas cidades de São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha vão atrasar o Estado na busca pelo status de livre de Mormo, já que o protocolo foi aberto neste ano e são necessários três anos sem registros da enfermidade, sendo que a última havia sido em 2017.

Na nota, o sindicato se coloca à disposição para unir esforços com demais entidades e corpo técnico do Estado e Federal para contribuir da forma que for necessária para que novamente se faça a retomada da busca pelo status sanitário livre do Mormo. Mas o que é o Mormo?

Introdução

Considerada uma das mais antigas doenças dos equinos, sendo descrita por Aristóteles e Hipócrates no século III e IV a.C, causada pela bactéria Burkholderia mallei, o Mormo, hoje em dia, é uma grande preocupação para qualquer proprietário de equídeos, principalmente no Brasil, onde passamos por momentos críticos relacionados a uma possível ‘epidemia’.

Mormo é uma zoonose, infectocontagiosa, de carácter agudo ou crônico, que pode acometer tanto equinos como humanos, carnívoros, e eventualmente pequenos ruminantes. Seu primeiro relato no Brasil foi em 1811, o que desencadeou uma grande disseminação em vários pontos do território nacional, acometendo equinos, muares, e humanos.

A doença

O mormo é uma enfermidade com capacidade de se transmitir por via digestiva, respiratória, genital, cutânea, por fômites, alimentos, e água, principalmente em cochos e bebedouros. Porém a maior preocupação na disseminação da doença são os animais infectados que se apresentam assintomáticos, pois o mesmo elimina a bactéria mesmo sem apresentar nenhum sintoma da doença.  

Os sintomas da doença são febre, tosse, e corrimento nasal. Na fase crônica da doença começam a aparecer sinais na pele, formando lesões nodulares que evoluem para ulceras, e após a cicatrização apresentam aspecto de estrela.

Até meados de 2013 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recomendava a utilização dos exames Fixação de Complemento e Maleinização para finalidades de controle epidemiológico e diagnóstico. Sendo que os testes sorológicos podem apresentar alterações em até seis semanas após a utilização do teste de maleína.

Dia 29 de agosto de 2013 foi realizada uma reunião no MAPA em que foi informado que o exame Western Blot é mais sensível e preciso, consequentemente demonstrando uma maior confiabilidade no resultado quando comparado à Maleína.

O Western Blot é um método diagnóstico baseado em biologia molecular, a partir de imunodetecção de proteínas após a separação destas por eletroforese em gel e transferência para membrana adsorvente. Este método busca detectar, caracterizar, e quantificar múltiplas proteínas, principalmente aquelas que estão em baixas quantidades em determinada amostra, como por exemplo, bactérias em amostras colhidas dos animais.

O teste de maleína é baseado na reação de hipersensibilidade alérgica mediante à inoculação 0,1 ml de Derivado Proteíco Purificado (PPD) de maleína na pálpebra inferior dos cavalos suspeitos, com seringa de tuberculina. Sua leitura ocorre após 48 horas da inoculação, em que serão considerados animais positivos àqueles que apresentarem edema, blefarospamo, e conjuntivite purulenta.

A Fixação de Complemento é um teste sorológico em que há detecção de anticorpos específicos contra a B. mallei, que podem ser observados uma semana após a infecção. Nesta técnica o soro do animal é misturado com o antígeno, no qual haverá a formação de complexos imunes (ligação do antígeno específico de mormo com o anticorpo IgG), caso o animal seja soro-positivo.

Algumas amostras que reagiram positivas no teste de fixação de complemento estão sendo enviados à Alemanha para ser realizado o Western Blot e a Fixação de Complemento, uma vez que utilizam os antígenos CIDC e c.c.pro, que obtiveram 100% e 93,39% de sensibilidade, respectivamente, portanto sendo mais conclusivos que os exames realizados no Brasil.

Controle

Em nossa legislação há um capítulo voltado à erradicação do foco do Mormo, no qual apresenta os seguintes itens:

– Propriedades com caso positivo é considerado um foco da doença, portanto deve ser interditada e submetida à Regime de Saneamento

– Animais com exames conclusivos positivos devem ser eutanasiados imediatamente, com incineração ou enterro dos cadáveres no próprio local, fazer desinfecção das instalações e fômites. Estas medidas devem ser realizadas com supervisão de um veterinário oficial

– A eutanásia dos animais deve ser realizada por um veterinário oficial, e ter a presença de duas pessoas como testemunhas idôneas

– a interdição da propriedade será suspensa após o sacrifício dos animais positivos e realização de duas baterias, com intervalo de 45 a 90 dias, de Fixação de Complemento em todos animais da propriedade com resultados negativos

– Todos equídeos em trânsito ou que participarão de eventos de concentração animal  devem ser submetidos ao teste de diagnóstico negativo de mormo, além do atestado de sanidade validos para emissão de guia de transito animal.

Por Helio Itapema, Médico Veterinária, Clinica Itapema
Colaboração Ana Paula Monteiro, Guilherme Galdino
Dados do RS: fonte Assessoria de Imprensa
Fotos: equimanagement.com, so.city

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