Paulo Junqueira continua essa semana a série de textos de pessoas apaixonadas por cavalgadas
Para essa segunda parte do Cavalgar Nossa Paixão apresento essa semana o José Henrique Meireles Castejon. Meu companheiro de cavalgadas de longo percurso – fizemos juntos a cavalo os 750 quilômetros do Caminho de Santiago Compostela, os 1780 quilômetros da Estrada Real e a Travessia da Serra da Canastra.
Junto com o Pedro Aguiar e o Felipe Masetti Leite, somos os quatro membros brasileiros do Long Riders Guild. Entidade baseada na Inglaterra que reúne Cavaleiros de Longo Percurso, que realizaram longas viagens a cavalo ao redor do mundo.
Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
José Henrique
Levou sua paixão por cavalgar aos extremos! Já percorreu milhares de quilômetros a cavalo. Em setembro de 2013, saiu de Logroño, Espanha, próximo à divisa com a França e em 17 dias, revezando duas excelentes éguas sangue pura raça espanhola, Faraona e Malagueña, percorreu o Caminho Francês até chegar em Santiago Compostela. A viagem foi organizada mim e foi a primeira grande viagem a cavalo que fizemos juntos.
Em 2016, com 69 anos, realizamos juntos mais um desafio, cavalgamos os 1780 quilômetros dos quatro Caminhos da Estrada Real. O sobrinho Frederico Simioni e o hipólogo Sergio Beck nos acompanharam na primeira etapa, de mil quilômetros, de Diamantina/MG até Paraty-RJ.
A Travessia Serra da Canastra contou com 250 quilômetros que fizemos juntos com um grupo de amigos em 2017. Começamos em São João Batista do Glória e terminamos no Desemboque, uma vila muito antiga, mais de 300 anos. A vila de Desemboque era a única em uma imensa e rica região. Quando o ouro acabou, a vila morreu, e seus habitantes migraram, dando origem a várias comunidades, que se tornaram cidades, como Uberaba, Sacramento, Araxá.
De maio a julho de 2017, José Henrique realizou mais uma longa viagem a cavalo, a Cavalgada Integração Sul – Sudeste. Saiu de Avaré/SP para Bella Union no Uruguai. Foram 1800 quilômetros em 43 dias, com uma média de 42 km/dia.
Em junho de 2018, ele realizou a Cavalgada Origem – Mangalarga, saindo de Cruzília/MG, aonde percorreu 20 fazendas da família Junqueira. E seguiu até a Fazenda Invernada, em Orlândia/SP. Foram 720 quilômetros em 21 dias, sendo os quatro primeiros dias – 160 km – tendo como guia o Fernando Meirelles, da Fazenda Angaí.
Já em agosto 2019, José Henrique foi cavalgar na Chapada da Diamantina – Bahia. Foram 250 quilômetros em 12 dias, passando por Andaraí, Ibiocoara, Rumo, Colônia e Igatú. Nessa cavalgada, a grande aventura foi no Vale do Paty e no Vale do Capão!
Foram cinco dias muito bonitos, mas muito difíceis, com muita subida e decida na lama com muitas pedras, com vegetação densa e muitas cachoeiras. Nesses vales, José Henrique e o Francisco (Chico), funcionário que o acompanha em todas suas cavalgadas, foram montados em burros e mulas.
Como tudo começou
O contato inicial de José Henrique com um cavalo foi aos três anos de idade e dizem que chorou muito. Mas já aos seis anos participou junto com o avô materno de sua primeira caçada ao veado catingueiro.
E aí foi ‘mordido’ pela doença chamada ‘cavalo’, da qual não quis se curar nunca mais. A partir daí a paixão por cavalos só potencializou com outro esporte, o Polo. Nas caçadas foram 20 anos, até 1974, e no Polo foram 40 anos, até 2014. Nesse período suas paixões se misturavam: o cavalo, a criação e o esporte.
Desde Pirulito, seu primeiro cavalo, e seu ‘acesso’ ao mundo dos ‘com cavalo’ até os mais de 500 animais nascidos em sua criação, José Henrique tem um espaço especial nas suas lembranças para alguns que empolgaram mais. Emenciona o Topazio Mangalarga, do período das caçadas; Zip tordilho, Giz, um 3/4 PSI nas caçadas; e Carola, na criação para o Polo.
Quando parou de jogar Polo, logo buscou outra atividade em que pudesse estar em constante contato com cavalos e encontrou nas cavalgadas sua nova paixão. Aos poucos começou a selecionar uma tropa com cavalos Mangalarga, a maioria com sufixo da Vassoural (Fazenda Vassoural, Pontal/SP).
Como é de seu feitio, para sua primeira grande viagem a cavalo, já escolheu um grande desafio, fazer os 750 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela. Cada peregrino tem seus motivos, seus objetivos para percorrer o Caminho.
Os do José Henrique foram diversos: “Adoro cavalgar, queria conhecer o Caminho que é a história contada ao vivo”. Quanto à parte espiritual, diz que “tem princípios religiosos e tem principalmente muita fé”. Aproveitou a viagem para reafirmar sua fé em Deus, numa viagem contemplativa.
Como destaques desta primeira longa viagem a cavalo, afirma: “Uma coisa muito importante foi a interação homem/cavalo, o aprendizado no relacionamento interpessoal, pois a convivência diária é desgastante e aí aprendemos a ter a hora de ceder e a hora de prevalecer”.
Sobre essa viagem, conclui dizendo que: “a entrada na praça da Catedral de Santiago de Compostela é muito emocionante, cheia de sensações íntimas muito fortes, uma vibração muito intensa. Depois de muita luta, conseguir chegar é como vencer uma batalha! Gratificante!”
E José Henrique não pretende parar por aí: “vou cavalgar enquanto conseguir!”
Texto* do livro ‘Cavalgar Nossa Paixão’ – edição 2017
Editora EquusBrasil – www.equusbrasil.com.br
*atualizado
Fotos: Cedidas