Por onde anda Cashanova West LR?

O primeiro animal no Brasil a alcançar a marca dos 16 segundos, em 8 de novembro de 2008, e tornar-se uma lenda do esporte Três Tambores

Final do ano de 2008, a expectativa para que algo de extraordinário acontecesse estava em baixa. A programação de todos já era dar férias para os cavalos e aproveitar o verão. Em uma das últimas provas da temporada, a primeira etapa do Núcleo Quarto de Milha de Ribeirão Preto – NQMRP corria em Santa Rita do Passa Quatro/SP. Até que uma garota de 16 anos entrou em pista para a disputa da categoria Jovem C nos Três Tambores. Encerrada a passada, a fotocélula marcava 16s963.

O Brasil parou! Foi isso mesmo? Foi em pista oficial? A fotocélula estava em bom funcionamento? Não foi um treinador na categoria Aberta? Muitos questionamentos eram feitos em segundos, enquanto a organização da prova media a pista em frente ao público para validar o tempo. “Sabia que tinha feito um tempo muito bom, mas na hora não me dei conta que tinha batido o recorde”, relembra Gabriela Zampieri Ferro.

A jovem amazona e seu fiel escudeiro Cashanova West LR (Sir Cashanova X Kat Moon LR) entraram para a história do Quarto de Milha e dos Três Tambores. O primeiro tempo abaixo dos 16 segundos marcado no Brasil! Fruto do talento e o amor de Gabriela, aliados a força e velocidade do Cashanova. Era uma época em que a modalidade tinha dado um salto. As provas passaram a ter média de mil inscritos, muito investimento em genética estava acontecendo. Era só questão de tempo os cavalos baixarem as marcas.

Ela ainda lembra de tudo que aconteceu naquele dia: “Foi uma sensação inesquecível. Estávamos correndo o campeonato e eu estava focada na liderança e jamais me passou em quebrar o recorde. Estávamos em uma fase muito boa. Me lembro que naquele dia nossa sintonia estava bem afinada. Entrei na pista concentrada no Cashanova. Ele estava diferente naquele momento, não sei explicar. Quando estou na pista, não penso em nada, apenas concentro no que estou fazendo e, só quando cruzo a fotocélula, volto para a realidade.  Quando foi confirmado o recorde, minha barriga gelou e meu coração parecia que ia sair do peito de tanta emoção. Beijei muito o Cash e fiquei grudada nele. Estava muito feliz.”

E ela não imaginava que algo assim pudesse acontecer. Sempre buscou seu melhor, conta, mas nunca pensou em perseguir essa marca. E o que mudou depois? Gabriela conta que sofreram uma pressão muito grande após esse recorde. “Todos ficavam falando que era impossível fazer um tempo desses no Brasil. Ouvi muita crítica. Mas tudo mudou depois dessa prova. Aprendi, principalmente, a não ligar para o que os outros falam e entrar em pista para dar somente o meu melhor.”

Especialmente nos meses seguintes, sempre que o conjunto entrava para competir, havia uma pressão. “Foi bom por um lado, porque fez com que nos esforçássemos e nos dedicássemos ainda mais. Mas, por outro lado, era muita pressão, cobrança”. E eles seguiram indo às provas e ganhando. Com Cashanova, Gabriela foi campeã Nacional Gold Race ANTT, campeã Rodeio de Jaguariúna, fez segundo e terceiro no Rodeio de Barretos, campeã Copa dos Campeões Feminino 2010; Campeã Congresso ABQM Jovem 2010, campeão Congresso ABQM Jovem e Feminino 2009, campeã Nacional ABQM Jovem 2009, campeã Grand Prix Haras Raphaela Jovem 2009, ABQM Awards como melhor cavalo ranking geral e três tambores por dois anos seguidos 2007/2008, entre outros diversos prêmios em grandes provas.

Mais e afinal, por onde anda Cashanova West LR? Está vivendo tranquilo no Haras Ferro, em São Pedro/SP, e ainda corre prova. Não mais no ritmo de antes, mas ainda ganha e vai bem nas pistas, em ótima forma física, mas correndo apenas algumas provas que Gabi seleciona a dedo. “Mesmo com toda essa evolução da modalidade, em tudo, genética, pistas, etc, ele, aos 16 anos, concorre de igual para igual com a tropa de hoje, ele é diferente!”

Quando se conheceram, Cashanova tinha um ano e meio e Gabi, nove. Ele chegou potrinho ao sítio da família, depois que o pai dela vendeu um cavalo e recebeu como forma de pagamento dois outros, e um deles era o Cash. “Ele ainda está comigo e vai morrer em casa, se Deus quiser, bem velhinho (risos), mas a rotina dele está bem mais tranquila. Na época, tivemos ofertas irrecusáveis para eu vendê-lo, mas nunca nem passou pela minha cabeça”, conta Gabi, que faz medicina veterinária, sonho dela desde que era nova.

“Ele significa tudo pra mim. Sou o que sou graças a ele. Minha família construiu o haras por causa do Cash. Ele é o ‘cara’ para mim, mesmo sendo de um temperamento único, ele é de personalidade forte. Eu o amo de todo meu coração.”

Hoje, nove anos depois, muitos foram os tempos na casa dos 16 segundos, a modalidade evoluiu astronomicamente, o recorde mundial acabou de ser batido. Fica uma pergunta: onde isso tudo vai chegar? Será que um cavalo, em pista com dimensões oficiais, chegará a marcar 15 segundos?

Por Luciana Omena

Fotos Arquivo Pessoal

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