Saiba as reais competências do bem-estar animal e o porquê se faz tão necessário na atualidade
O tema bem-estar animal está mais em alta do que nunca. Dessa forma, a própria sociedade tem se mostrado exigente e interessada com relação ao assunto. Nos eventos equestres realizados por todo Brasil, em diversos estados, com as mais variadas modalidades, sejam elas regionais, tradicionais ou novas, a preocupação com o bem-estar dos animais envolvidos não é somente uma necessidade. Sobretudo, já se tornou uma realidade.
Assim sendo, é notória a preocupação com o tema entre os diversos seguimentos e diferentes espécies animais. Como, por exemplo, pets, silvestres e produção. Com os animais participantes dos esportes equestres não é diferente. Muito pelo contrario, a preocupação com a integridade de equinos e bovinos participantes desses eventos se faz cada fez mais presente.
Isso se torna visível em algumas atitudes de grandes entidades e órgãos competentes. Um exemplo disso é a criação do Manual de Boas Práticas Para o Bem-estar Animal em Competições Equestres de 2016. Acima de tudo, uma iniciativa pioneira da Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A saber, com contribuição efetiva da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha.
Mas afinal, o que é bem-estar animal e como se faz presente em uma competição equestre?
De uma maneira simples e objetiva, porém não menos correta, podemos interpretar da seguinte maneira: mudando a ordem das palavras de ‘o bem-estar animal’ para ‘o animal estar bem’.
Estar bem em todos os sentidos da palavra. Portanto, bem sanitariamente, fisicamente, clinicamente, mentalmente e perante o ambiente que se encontra. Em primeiro lugar, essa interpretação ajuda a complementar o conceito clássico e conhecido mundialmente das cinco liberdades.
Todos os animais devem: ser livres de medo e estresse, livres de fome e sede, livres de desconforto, livres de dor e doenças e ter liberdade para expressar seu comportamento natural.
Colocar em prática o bem-estar animal dentro e fora das pistas em um evento de competições equestre é uma ação, no mínimo, desafiadora. Com toda a certeza, deve começar pela conscientização de proprietários, veterinários, treinadores, tratadores e todos os envolvidos com os animais.
Cuidados
O cuidado efetivo começa no momento em que os animais adentram o recinto, pois todos devem estar sanitariamente sadios. Antes de tudo, com comprovação através da devida documentação exigida pelas autoridades sanitárias.
Essa exigência garante que todos os animais, equinos e bovinos, que estejam concentrados em um mesmo local, não corram o risco de contrair alguma enfermidade de caráter infectocontagioso.
Ou seja, que possa causar infecção e se disseminar por contágio, uma vez que, nesses eventos os animais chegam de diversas localidades podendo trazer consigo algo bastante indesejável, como é o caso das diversas enfermidades.
Por mais que as condições de transporte sejam excelentes, toda viagem é cansativa. Assim sendo, o que esperamos na chegada é um bom lugar para descansar, como um bom hotel ou a nossa própria casa, por exemplo.
Com os animais que viajam para eventos isso não é diferente, por isso, o ideal é garantir estruturas como baias e currais que atendam todas as necessidades do animal. Desse modo, fazendo com que fiquem confortáveis e livres para expressar seu comportamento. Estando o mais próximo possível do seu local de vivencia habitual.
Nas pistas
Acima de tudo, dentro das pistas os cuidados com o bem-estar animal se refletem na segurança e no desempenho dos atletas. Uma gestão adequada e especifica das pistas esportivas de competições, sem dúvida alguma, garante o sucesso do evento.
Mas intrínseco a isso está à preocupação com os animais, pois praticamente todos grandes eventos são realizados em pistas cobertas. O que propicia que tais atividades estejam sendo praticadas em um ambiente controlado e protegido.
A composição do solo onde os animais competem é um detalhe importantíssimo. Não somente com o intuito de proporcionar um bom desempenho atlético, mas também para evitar eventuais problemas relacionados à qualidade do piso. A saber: quedas, escorregões, entorses ou qualquer outro acidente que por ventura venha causar risco a integridade física dos animais.
Além disso, a atuação de profissionais técnicos no que diz respeito à inspeção de equipamentos utilizados nos animais e a fiscalização do cumprimento de regras já se faz presente em diversos eventos. Com o intuito de assegurar boas práticas na utilização desses equipamentos e condições reais de saúde dos animais durante toda a realização das provas.
Logo após as competições, o bem-estar animal também é necessário no que tange a antidopagem. A realização de coleta de material para exame antidoping em equinos é uma prática que vem para garantir maior lisura, credibilidade e transparência às provas equestres.
Porém, seus benefícios vão além. De certa forma, tal procedimento evita que qualquer animal que não esteja apto para competir por motivos de saúde venha participar da prova sob o efeito de fármacos. Ou seja, mascarando sintomas ou até mesmo encobrindo doenças.
Prevenção
Primordialmente, além de toda preocupação, é preciso tomar atitudes preventivas a fim de evitar ao máximo qualquer tipo de situação que possa representar algum risco aos animais. Não se pode deixar de pensar que doenças não escolhem hora nem lugar para se manifestarem e que também acidentes acontecem.
Com base nessa premissa, os grandes eventos de concentração animal procuram se assegurar desses riscos com a permanência de plantões veterinários. Prestam atendimentos em caráter de urgência de emergência 24h por dia, enquanto houver a presença de animais no evento.
Outra ação de grande valia e impacto positivo, e por esse motivo está se tornando comum frente aos eventos, é a atuação do profissional intitulado juiz de bem-estar animal.
Grandes associações de equinos, como é o caso da ABQM e entidades de modalidades equestres específicas, por exemplo, a Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ), contam com os serviços de médicos veterinários ou zootecnistas neste sentido.
Em outras palavras, são profissionais que exercem a função de fiscalização quanto ao cumprimento de regulamentos e normativas da própria entidade e das autoridades competentes.
Bem como auxílio e orientação aos participantes e praticantes das provas. Esse tipo de conduta sem dúvida alguma reforça ainda mais o cuidado e a segurança que existem com os animais que participam de eventos equestres.
Conclusão
Frente a todas essas iniciativas ligadas diretamente ao bem-estar animal nos esportes equestres, fica evidente a atual preocupação que existe por parte de todos os envolvidos com o segmento. Entretanto, a importância do tema deve ser difundida cada vez mais, bem como a execução de suas práticas e a discussão sobre políticas que o envolvem.
E mesmo que a ciência que estuda o bem-estar animal venha se desenvolvendo de maneira relativamente lenta e que os desafios estejam sempre presentes, ainda assim, sua evolução é certa. O respeito e os cuidados com os animais se tornaram uma responsabilidade social e quando estendemos esse conceito para o setor do agronegócio, uma das principais conseqüências são os resultados econômicos satisfatórios para o mercado.
A chamada indústria do cavalo é hoje, sem dúvida, parte fundamental desse setor da economia. Tendo em vista que a renda gerada pelo complexo do agronegócio do cavalo no Brasil é extremamente expressiva.
Em valores de abril de 2015 o setor totalizou R$ 16,15 bilhões, onde R$ 5,84 bilhões foram oriundos do seguimento de esportes e lazer. Esses são dados da ‘Revisão do Estudo do Complexo Agronegócio do Cavalo’ de 2016. Trabalho coordenado pela Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com a colaboração da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).
Nesse contexto, a temática do bem-estar animal chega para agregar ainda mais valor ao setor e consolidar sua real importância. Mostrando que se faz necessária e que veio para ficar.
Por Dr. Orlando Filho
Médico Veterinário; Tecnólogo em Agronegócio; Gestor em Equinocultura; Superintendente Técnico Suplente da ABQM
Fotos: Cedidas/ABQM
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