Aluísio Marins comenta nesse artigo sobre o medo de andar a cavalo. O que é importante nessa situação?
Como trabalhar o medo de montar a cavalo? Acima de tudo, penso ser importante, especialmente para quem quer continuar montando, ‘quebrar’ esse ciclo. Assim sendo, não tem outro jeito, é preciso trabalhar dia a dia, com total ajuda do treinador.
E não tem mistério nenhum. Em outras palavras, a gente precisa colocar um pouquinho de técnica e de segurança para quem está com medo. E passar a conversar sobre o assunto, a fim de descobrir como saná-lo de vez.
Quer seja por um tombo, quer por qualquer outra situação, você pode criar uma insegurança no convívio com o seu cavalo. Para algumas pessoas, o processo pode ser mais difícil do que para outras.
Como proceder
Uma das coisas importantes que podemos fazer como instrutor em uma situação dessa é trabalhar para favorecer quem busca ajuda. Por exemplo, a cada sessão, saber a hora de começar, de exigir e a hora de parar.
É uma das coisas que eu falo sempre aqui com meus alunos, para os meus instrutores e os alunos que estão inseguros. Acima de tudo, é mais ou menos a mesma coisa que eu faço com o cavalo. Paro quando ele consegue fazer o que pedir ou quando está melhor.
Então, nessa linha de pensamento, a ideia é deixar que a pessoa vá para casa no melhor momento dela durante a sessão. Aumenta, sem dúvida, a confiança. É a técnica positiva, ou seja, tudo que você fizer vai estar certo se você tiver vontade e as coisas tiverem fluindo.
Além disso, podemos também abordar a pessoa de outra forma. Em vez de falar ‘está errado’, podemos falar ‘vamos fazer de outra forma’; ‘vamos pensar uma outra coisa’; ‘vamos tenta’.
Porque o negativo já veio com a pessoa que procurou ajuda. Então é isso que, a meu ver, precisamos limpar. Em outras palavras, é preciso fazer com que a pessoa acredite em si. E nesse processo, oferto cavalos bem experientes que serão uma verdadeira ajuda em tudo.
Então, para trabalhar esse medo a escolha do cavalo é muito importante. Colocar a pessoa em cima de um animal que faça com que essas coisas dêem certo. Não só o que eu falar pode ajudar, mas também a forma como o cavalo vai se comportar pode ajudar muito nesse processo.
Ir além
Uma coisa que eu gosto de fazer também é o trabalho de chão. Deixar cavalo e a pessoa, novata em equitação ou que tenha o medo, no redondel. Fico do lado de fora deixo fluir a relação deles. Sem dúvida, ajuda a passar segurança e confiança.
Sobretudo, criamos um espaço em que o cavalo está mais a vontade e faz com que a pessoa relaxe ao trabalhar com ele. Acaba sendo uma relação de troca, um confia no outro. Outro trabalho de chão é andar a passo.
Faço isso com os alunos que tem algum tipo de bloqueio. Não só montados a passo, como também com um instrutor montado e andando pelo rancho conversando sobre assuntos diversos. No momento em que todo mundo se desconecta do problema central, relaxa.
Algo como tirar a pressão. Quem está com o bloqueio se afasta um pouco, no entanto, sem se desconectar totalmente. Passa horas com o objeto do seu medo sem nem perceber. E o cavalo é um animal que se conecta muito através da energia. Vibra quando você vibra, por exemplo. é o espelho da sua alma.
Como ministro muitos cursos para uma diversidade grande de pessoas, já vivi situações de colocar no mesmo cavalo três pessoas com perfis totalmente diferentes e vê-lo se comportar com cada uma delas de forma diferente.
Antes de mais nada, o que pode ter desencadeado o medo é a própria tensão da pessoa sendo passada ao cavalo. Ao passo que ele começa a desenvolver esse comportamento de tensão. Muitas vezes, a pessoa nem percebe que tudo isso está relacionado.
Check-List
Para quem tem um centro de treinamento, por exemplo, e pode se deparar com esse mesmo tipo de problema, eu sugiro se preparar de alguma forma:
– tenha cavalos que te ajudem resolver esse problema. Eles precisam ser equilibrados e experientes, nem muito mansos nem muito ‘para frente’;
-transforme a sessão em algo positivo sempre. Por mais que essa sessão leve quinze minutos ou uma hora, ela tem que ser bacana e terminar de forma positiva;
-dar uma volta fora da pista, passear e andar a passo é muito importante nesse processo. No passo você vai conversando com a pessoa e ela se distrai. Quando perceber, deu tudo certo. E, sem dúvida, ela vai voltar para a cocheira com um sorriso no rosto;
-preste atenção no processo como um todo também e não só no resultado;
– trabalho de chão, coloca essa pessoa no manejo, por exemplo. Ajudar a escovar, entrar e sair da cocheira, pegar nas patas, dar ração, limpar o cocho, selar, limpar a sela, etc.
No treinamento do cavalo, a sessão de amanhã depende de como evoluiu a sessão de hoje. O mesmo a gente pode fazer quando está ajudando alguém a perder um trauma. Então, pense sempre em como você pode tirar essas coisas da frente dessas pessoas na baixa intensidade. E ganhando confiança aos poucos.
Eu tenho feito assim e tem funcionado. É algo que tem dado certo aqui na UC. O global, envolver a pessoa no universo do cavalo. Criar situações para que a pessoa que te procurou insegura possa vivenciar a historia do cavalo.
Por Aluísio Marins
Médico Veterinário e diretor da UC, instruindo cavaleiros a mais de 20 anos
Colaboração: Analúcia Araújo
Crédito da foto: Divulgação/ Chelsea Harders
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