Paulo Junqueira Arantes, da Cavalgadas Brasil, relata mais essa experiência incrível
A Amazônia sempre foi uma região que atraiu exploradores e aventureiros de todo o mundo. Por outro lado, a exuberância do encontro dos rios Amazonas e Tapajós e sua biodiversidade sempre foram destaques da região.
Às 21h parti de São Paulo com destino a Manaus, escala de meu vôo para Santarém. Com aquela mistura de curiosidade e ansiedade que tenho sempre que vou a um destino novo, cheguei as 3 da madrugada na cidade de Santarém. Apesar do horário, um bafo quente foi minha primeira sensação ao sair do avião.
Mesmo tendo chegado tarde, saímos cedo no dia seguinte pois a cavalgada estava marcada para às 9h. Tínhamos uma viagem de carro até a Comunidade de Cucurunã, aonde o pessoal já nos esperava com os cavalos arreados.
As selas eram bem básicas e os cavalos aquém do que eu esperava. Conversando com eles sobre as condições dos animais, percebi que não tinham como mudar muita coisa. Resolvi, então, fazer só um dia de cavalgada, suficiente para ter uma noção da região e conhecer a famosa região de Alter do Chão.
A famosa praia de Alter do Chão
A cavalgada seguiu em boa parte por algumas das praias bonitas e inusitadas de Alter do Chão. Na época de vazante do rio Tapajós, surgem várias praias na região. Banhadas pelas águas esverdeadas do Rio Tapajós, elas se transformam em mais um paraíso amazônico.
Juntamente com as praias, valeu muito a pena conhecer a FLONA – Floresta Nacional do Tapajós. Uma imersão pela Floresta Amazônica, com direito a ver várias Sumaúmas, árvore gigante da Amazônia (conhecida como a ‘árvore da vida’) e também seringueiras. Além de muitas plantas curiosas, como as que servem de papel e repelente natural contra insetos.
Ficamos hospedados no Beloalter Hotel, que tem uma curiosa construção de duas suites de madeira distribuídas em três andares ao redor de uma enorme arvore.
Posteriormente, no dia seguinte, viajamos cedo para a região de Ituqui, aonde fomos cavalgar numa grande fazenda de gado. Nosso destino inicial foi o porto aonde o Irapuã já nos esperava em seu barco Eldorado (chamado de navio pelos locais).
Com três cabines para passageiros, é um barco bem no estilo daqueles que vemos fazendo viagens pelos rios da região amazônica. Esta era uma experiência que eu tinha vontade de vivenciar, foi muito interessante.
E, como estávamos só nós, eu, Francisco de Belém, parceiro Cavalgadas Brasil na Amazônia, Irapuã e Manuel, seu comandante/piloto, tive a oportunidade de conversar bastante com eles. O Manuel em seus 69 anos de vida no rio, tinha muitas histórias para contar.
Na saída de Santarém já vemos bem nítido as águas do rio ‘divididas’ em duas cores. Na realidade, é o trecho em que o rio Tapajós e o Amazonas se misturam e correm juntos, paralelos, apresentando uma imagem no mínimo curiosa, pois parece que não se misturam. Uma faixa marrom e outra azul escuro.
A navegação no Rio Amazonas
Mas isto só acontece por pouco tempo. Depois de meia hora, passamos navegar só no rio Amazonas até chegar na Fazenda Eldorado. É uma fazenda de pecuária que no inverno amazônico (dezembro a julho) enche de água e os animais tem que ser transferidos.
Durante a navegação, cruzamos com alguns ‘barcos boiadeiros’. Acima de tudo, foi interessante observar e entender como funciona o transporte de tudo na região.
Voltando ao Manuel, uma das histórias que ele contou durante nossa viagem, foi a de quando uma vez estava no meio do mato e ouviu o barulho da onça d’água (animal com corpo de onça e cabeça de boi). Para fugir teve que passar numa área cheia de espinhos e ficou todo arranhado.
O Irapuã já havia me prevenido que pessoas como o Manuel realmente acreditam nas lendas da região e se percebem que não acreditamos no que falam, preferem calar. Como me disse o Manuel: “pessoas letradas não acreditam porque não vivem aqui”.
Mas depois das ‘historias’ e da interessante experiência da navegação no Amazonas, estávamos prontos para nossa cavalgada. Na chegada eu pedi ao Irapuã para fazer um reconhecimento da tropa. Eram oito no total, todos cruzados de Quarto de Milha com Marajoara.
Considerando as condições de doma e manejo, fiquei positivamente surpreso com o que encontrei e escolhi o Andarilho (pampa claro). As selas tipo ‘Marajó’ eram incômodas e pequenas, mas nada que impedisse a cavalgada.
A cavalgada na fazenda
Saímos cruzando área de pastagem, contornado alguns Aningais (planta de várzea) até chegarmos ao rio Mica aonde fizemos nossa parada para lanche. Ficamos observando a movimentação dos botos e de um jacaré Açu. Diferente dos jacarés do Pantanal, este é grande e violento.
Antes de sairmos para a cavalgada o Irapuã pediu a seu pessoal para pescarem nossa refeição. Assim, quando voltamos no final do dia, uma bela caldeirada de peixe (tambaqui e o namorado) nos esperava no barco.
Para completar a refeição provei Mangostin, fruta originaria do sudoeste asiático que foi introduzida no Brasil nos anos 40 e até hoje é produzida na região.
É uma árvore grande – chega a 25 metros – e bonita, e sua fruta muito gostosa. No dia seguinte, saímos para mais uma cavalgada percorrendo os campos da fazenda e conhecendo um pouco da cultura desses vaqueiros da Amazônia.
Nossa despedida de Santarém, ou Perola do Tapajós como também é conhecida a cidade, foi um almoço no restaurante Nossa Casa. De fato, mais uma experiência da culinária paraense e tapajônica, com peixes frescos regados a temperos pouco comuns a quem não é da região.
Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
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