Expedição Parque Nacional Lanin

Paulo Junqueira em sua coluna da semana nos conta sobre uma das melhores cavalgadas que já fez

Organizei essa viagem em 2009 para o Programa Terra da Gente, da EPTV, afiliada da Rede Globo em Ribeirão Preto/SP. Dessa forma, chamamos de Expedição Parque Nacional Lanin. O local, sobretudo, fica na província de Neuquén, Argentina.

Fui com o Dirceu Martins, experiente jornalista da emissora, e o cinegrafista Antonio dos Santos, o Tonão. A saber, os dois foram os responsáveis pelo programa especial, que foi veiculado em todo Brasil.

Paulo e Dirceu

Índios Mapuches

Primeiramente, saímos bem cedo de San Martin de Los Andes e em duas horas chegamos a casa do Ceferino, o guia Mapuche que nos conduziria pelos próximos dias, já dentro do Parque Nacional Lanin.

Os Mapuches são um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. Foram os únicos a vencer militarmente os conquistadores espanhóis, no século 16. Em síntese, somente os Mapuches podem cavalgar dentro do Parque com seus cavalos.

O meu, o Caramelo, era forte como todos os cruzados crioulos da tropa. Ao passo que assistimos o carregamento do cavalo ‘cargueiro’ com as barracas, comida e equipamentos.

Expedição Parque Nacional Lanin Paulo Junqueira em sua coluna da semana nos conta sobre uma das melhores cavalgadas que já fez
Ceferino

A base utilizada para acomodar a carga é bem diferente das que vemos no Brasil (balaios e bruacas). Antes de mais nada, o Ceferino usava um equipamento com base de ferro que era do exército argentino, para carregar equipamentos/ armamentos pelas montanhas na divisa com o Chile.

Como íamos passar algumas noites fora, cada um levou em seu alforje seus pertences pessoais. Logo depois de uma hora, saímos em direção ao Lanin, passando na saída ao lado de uma cachoeira antes de começar subir. De fato, subimos de 950 a 1500 metros.

Bosques impressionantes

Frequentemente cavalgo no Brasil em vários ecossistemas com belíssimas arvores. Sobretudo, desde floresta na Amazônia, passando pela Mata Atlântica, até as matas de Araucárias no sul do Brasil.

Porém, o que encontrei cruzando os bosques do Parque Nacional Lanin nunca mais vi em nenhum outro lugar do mundo. Em síntese, quantidade e tamanho impressionantes, de várias espécies, com destaque para as Lengas, Araucárias e Coihue.

Subida forte

Definitivamente aquela era uma subida muito forte, a forca e resistência de nossos cavalos me surpreenderam. Em alguns momentos precisamos descer e puxar os cavalos e em outros momentos, por segurança nem puxar e sim ‘tocá-los’ na frente.

Ao alcançar o topo da montanha, depois de mais de uma hora subindo, chegamos numa grande área chamada ‘malline’. Terra úmida de degelo que tivemos de atravessar antes de iniciar mais uma subida, a do Barbecho, montanha de pedra aonde está o ponto mais alto de nossa viagem.

Almoçamos (um lanche) no topo (1.730 metros), com uma vista 360º impressionante. A sudoeste o Lanin, e ao fundo a noroeste no Chile, os vulcões (ativos ou ‘vivos’, como dizem os locais) Villarica, Chosuenco e o Mocho. E bem abaixo de nós os lagos Paimun e Huechulafouen.

Logo após uma hora filmando e fotografando essa vista maravilhosa, começamos a descer, passando por pequeno trecho com neve.  O caminho quase todo em areia vulcânica, sempre com o imponente Lanin a nossa direita.

Posteriormente, alcançamos a divisa com o Chile e tirei aquela tradicional foto junto da placa que tem num lado escrito Chile e do outro Argentina. No final do percurso cruzamos um bosque de Araucárias que, de acordo com nosso guia, são pré históricas e cresceram num terreno de areia vulcânica.

Laguna Verde

Eram quase cinco horas quando chegamos a Laguna Verde, nosso destino neste dia. Um pequeno lago com água do degelo do Lanin que tem uma cor verde esmeralda. Um ótimo local para nosso acampamento, junto a laguna e com uma visão privilegiada (nordeste) do Parque.

Soltamos nossos cavalos para um merecido descanso e começamos a montar o acampamento, juntar lenha para o fogo e o cozinheiro preparar o churrasco (ovelha e frango). Eram 21h ainda estava claro quando o ‘assado’ ficou pronto. Assim sendo, todos comemos com muita vontade, acompanhados de bom vinho argentino.

O francês Thibaut, chefe de nossa expedição, é um experiente guia de montanha, que trocou seu amor pelos Alpes por uma paixão pelos Andes. Durante o inverno, por exemplo, suas expedições são travessias na neve com raquetes.

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Entrevistando o guia francês com o Lanin ao fundo

Clareira e rio transparente

No dia seguinte acordamos as seis horas e às oito e meia já estávamos montados. Em resumo, o tempo tinha mudado, estava nublado e com previsão de chuva. Atravessamos durante uma hora um bosque de araucárias e bambu e depois outro de Lengas.

Por fim, chegamos em uma bela clareira na beira de um rio transparente, que podia-se ver rochas e peixes no fundo e que parecia estar a metros de profundidade. Nesse local fizemos nosso lanche de almoço. O Thibaut preparou um pic nic à francesa, com uma variedade de queijos e embutidos.

Nesse ínterim, os cavalos foram soltos para descansar e comer. Não estivesse tão frio seria um bom lugar para nadar. Descansamos um pouco e seguimos nossa viagem cruzando mais bosques até chegar na beira do lago Huechulafouen.

Local de uma pequena praia rodeada de arvores, que passamos nossa segunda noite. Na praia só tinha um pequeno espaço plano e resolvi montar ali minha barraca e os demais ficaram num campo um pouco acima da praia.

No dia anterior eu não tinha tomado banho e desta vez criei coragem e entrei na água fria do lago. Passado o choque inicial, até que foi bom. Dormir ali escutando o barulho da água que estava a poucos metros e um super céu estrelado, foi uma experiência única.

Termas Lahuen

De manhã uma lancha veio com nossa bagagem que tinha ficado na Hosteria. Para aliviar nossos cavalos entregamos o que tínhamos nos alforjes e ela seguiu pelo Lago até as Termas Lahuen para onde seguimos a cavalo num percurso bonito, contornando o Lago. Ao final de mais um dia de cavalgada, chegamos nas Termas.

Observando o Lanin

Uma miragem! ‘Umbicado’, como dizem os argentinos, dentro do Parque Nacional Lanin estas Termas se apresentaram como o ‘Gran finale’ para uma expedição tão especial como a nossa.

Uma estrutura pequena com requinte e qualidade. Piscinas com diferentes temperaturas, diferentes tipos de massagens e terapias, e uma gastronomia requintada. Depois de um dia e meio neste paraíso, seguimos para San Martin de Los Andes. A cidade é pequena mas tem o charme dos destinos de inverno.

Infelizmente, depois de alguns anos, o Thibaut voltou para a França e essa cavalgada não existe mais. Porém, consegui uma em região próxima que não fica devendo muito para essa: a Cavalgada no Parque Nacional Nahuel Huapi.

Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
Crédito das fotos: Mario C. Ptasik
Na foto de chamada: A vista 360 graus no topo da montanha

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