Confira a quarta reportagem especial da Revista Top Marchador em parceria com o portal Cavalus sobre a história do surgimento do Mangalarga Marchador
O ‘Barão de Alfenas’ iniciou, além de uma nova raça de cavalos, uma linhagem de criadores que vararam os tempos. E, num exemplo raro de hereditariedade na história da equinocultura brasileira, a família chegou aos dias de hoje nas fazendas criando cavalos.
Sobretudo, os descendentes do Barão de Alfenas, e outros criadores, conseguiram conservar a genética da marcha até o renascimento da equinocultura brasileira no início na década de 70, e chegou ao auge em meados de 80. Mesmo a despeito da desorganização havida na equinocultura com a invenção do trem, do automóvel e outras formas de transporte.
A seguir, vamos dar uma olhada nas primeiras fazendas criadoras da raça Mangalarga Marchador. Além disso, nos seus titulares, muitos em linha direta com o Barão de Alfenas.
Campo Alegre
A Fazenda Campo Alegre, que o Barão de Alfenas recebeu como herança de seu pai, João Francisco Junqueira, tem uma importância crucial na história do Mangalarga Marchador. Além de ser o marco inicial da raça, forneceu também, com a ajuda dos reprodutores da Coudelaria Cachoeira do Campo, os primeiros reprodutores marchadores de tipo definido.
Por desmembramento hereditário, criaram-se importantes novos criatórios, como Bongue, Cachoeira, Narciso e Cafundó. O sobrenome Junqueira também se desdobrou, por casamentos, em Andrade, Reis, Meirelles e Araújo.
Sobrenomes, aliás, que formam a base dos criatórios sul-mineiros até os dias de hoje. Da Fazenda Campo Alegre saíram parte dos animais que formaram o plantel Favacho, um sufixo que ainda exerce influência na raça.
Favacho
A princípio, foi José Frausino que comprou o reprodutor Fortuna. Este que gerou os primeiros grandes sementais da raça: Gregório, Manco, Armistício, Colorado (também formador da raça Mangalarga Paulista), Gesso, Radical e Candidato.
Bem como, José Frausino foi também um dos primeiros e mais famosos caçadores de veados da família Junqueira.
Por esse hábito, os animais originários da Favacho caracterizam-se por serem fortes, resistentes, ágeis e de bom andamento marchado, uniformes na marcha batida. Quatro bons exemplos são os reprodutores Favacho Farol, Favacho RB, Zeus PFG e a reprodutriz Favacha Santiago. De antemão, a Fazenda Favacho está situada no município de Cruzília, no Sul de Minas.
O sobrenome Junqueira também se desdobrou, por casamentos, em Andrade, Reis, Meirelles e Araújo, sobrenomes que formam a base dos criatórios sul-mineiros até os dias de hoje. Dessa forma, da Fazenda Campo Alegre saíram parte dos animais que formaram o plantel Favacho, um sufixo que ainda exerce influência na raça.
Campo Lindo
Também situada no município de Cruzília, a Fazenda Campo Lindo é de 1870, e foi propriedade de José Frausino Junqueira, o bandeirante da Favacho. Mas quem fez a fama de Campo Lindo foi o seu filho João Bráulio Fortes Junqueira, nos meados de 1800.
Foi João Bráulio que criou o sufixo JB, importante e respeitado até os dias de hoje. O reprodutor que teve o maior impacto na reprodução da Fazenda Campo Lindo foi Bellini JB, que gerou sementais como Ouro Preto, Mozart e Clemenceau I.
Sem falar que o semental Bolívar, também filho de Bellini, serviu na Engenho de Serra, e Pégaso, Rádio e Canário foram reprodutores que tiveram grande influência na Fazenda Traituba. Outro reprodutor famoso, porém não da patrelinha direta de Bellini, foi Sincero JB, pai entre outros de Charlatão JG, que nasceu Dourado JB.
Traituba
Situada em Cruzília, a sede foi construída por volta de 1827, por João Pedro Diniz Junqueira, outro sobrinho do Barão. De antemão, com o objetivo de hospedar D. Pedro I. Mas, devido aos acontecimentos políticos adversos que marcaram o final do seu reinado, D. Pedro, infelizmente, não chegou a concretizar a sua visita à Traituba.
Ademais, o Major José Frausino Fortes Junqueira, outro filho de Frausino (da Favacho) e casado com sua prima, filha de João Pedro, é considerado o consolidador do criatório Traituba. Que, por esta razão, promove um grande intercâmbio genético com a Favacho.
Do Major José Frausino, os herdeiros da Traituba adquirem a paixão pelas caçadas, que determina o tipo de cavalo lá selecionado. Ou seja, animais com grandes qualidades funcionais, como agilidade, resistência e comodidade.
Na sequência, Pégaso, filho de Bellini, Rádio e Canário, todos da mesma linhagem, foram os expoentes da Traituba. Rádio conquistou, em 1943, o título de Campeão da Raça e de Marcha na Exposição de Lavras.
Angahy
Antes de tudo, a Fazenda Angahy foi fundada por José Garcia Duarte, por volta de 1735, e pode ser considerada o grande pilar do cavalo de marcha sul-mineiro. No entanto, até então, sem a nobreza dos cavalos do Barão.
Portanto, foi o seu genro José de Souza Meirelles que iniciou a seleção do cavalo Mangalarga. Isso pela influência de animais originários da criação do Barão, e seu bisneto, Christiano dos Reis Meirelles, que iniciou o criatório com a marca “C”. Acima de tudo, conhecida por seus animais marcantes e de destacada caracterização racial.
Inegavelmente, um marco na história da Angahy foi o grande genearca Caxias I. Este extraordinário reprodutor, junto com Bellini JB, da Fazenda Campo Lindo, constitui os dois principais ramos sanguíneos do Sul de Minas.
Caxias I, que nasceu em 1898, no ano do início do governo de Campos Salles e no auge do ciclo do café, enriqueceu a raça Mangalarga Marchador com seus filhos Caxias II, Yanque, Caxias Alazão e Mangalarga II. Outros reprodutores do nível de Mozart, V-8 JF, Sátiro, Mineiro e Miron também ajudaram a fazer a fama da Angahy.
Sobretudo, a Fazenda Angahy é vizinha de cerca da Fazenda Campo Lindo (de João Bráulio Fortes Junqueira). Tendo, portanto, o mesmo endereço, Cruzília.
Narciso
Desmembrado da Fazenda Campo Alegre (do Barão de T), ainda em Cruzília, a Fazenda Narciso teve como primeiro proprietário Antônio Gabriel Junqueira, um dos filhos do Barão de Alfenas. Da Fazenda Narciso saíram importantes reprodutores, que tiveram grande influência na formação da tropa sul-mineira.
Um deles, Abismo, é considerado um dos principais troncos da raça Mangalarga Marchador. Trovador, filho de Abismo, era afamado por sua refinada conformação e excelente andamento.
Pretinho, filho de Trovador, nascido em 1890, durante o Governo Provisório de Marechal Deodoro, é pai de The Money, por sua vez, pai do grande genearca Bellini JB.
Abismo também foi pai de Cana Verde, pai de Guera, e este pai do semental Caxias I. “Difícil encontrar palavras para traduzir tamanha importância deste criatório para a raça Mangalarga Marchador”, escreveu o hipólogo Sérgio Lima Beck.
Da Fazenda do Narciso saíram os animais que fundaram, no Distrito de Abaíba, outro núcleo de criação do cavalo Mangalarga Marchador, no município de Leopoldina, na Zona da Mata mineira.
Cafundó
A Fazenda Cafundó também é um desmembramento da Fazenda Campo Alegre, do Barão de Alfenas, também em Cruzília. Seu primeiro proprietário, Francisco Gabriel Junqueira, também conhecido por Francisco Andrade Junqueira, o ‘Chiquinho do Cafundó’, foi o décimo filho do Barão.
A Fazenda Cafundó, através do reprodutor Telegrama, deu início a uma das mais importantes linhas sanguíneas da raça Mangalarga Marchador. Nascido em 1867, durante o reino de D. Pedro II e um ano antes da morte do Barão de Alfenas, Telegrama era de pelagem tordilha, de frente leve e elegante e cômodo de andamento. Telegrama foi pai de Apolo, o padreador-chefe do criatório 53 (de José Frausino Junqueira Netto, filho de João Bráulio, da Campo Lindo).
Apolo foi pai de Armistício JF (Favacho) e Armistício foi pai do grande Candidato, pai de Favacho (velho), que gerou Favacho RB. Este se destacou por ter gerado um grande número de Campeões Nacionais de Marcha. Da Fazenda Cafundó nasceu e saiu também o Coronel Severino Junqueira de Andrade, fundador, em 1912, de um dos mais importantes criatórios da atualidade – a Tabatinga.
Boa Vista
A Fazenda Boa Vista, outro desmembramento da Fazenda Campo Alegre, do Barão de Alfenas, também se situa em Cruzília. Seu fundador foi o próprio Barão, que a construiu para seu quarto filho, Joaquim Tibúrcio Junqueira, que foi o responsável por outra linhagem Pilar.
Com o seu falecimento, a Fazenda Boa Vista e toda a tropa passou às mãos de seus filhos Joaquim Tibúrcio e Domingos Theodoro, que venderam a Fazenda Boa Vista e adquiriram a Fazenda dos Criminosos, na vizinha vila de Silvestre Ferraz, hoje município de Carmo de Minas. Espalharam seus exemplares por toda aquela região, onde estão localizados os municípios de Cristina, Maria da Fé e Itajubá, fundando outro importante núcleo de criação do Cavalo Mangalarga.
Bela Cruz
Bela Cruz, outra fazenda situada em Cruzília, foi uma parte destacada da antiga Fazenda Campo Alegre, ainda nos tempos de João Francisco Junqueira, o patriarca.
Foi de propriedade de José Francisco Junqueira, irmão do Barão, e palco de um acontecimento trágico em 1833, a rebelião dos escravos de Bela Cruz, que ceifou a vida de José Francisco Junqueira, de um sobrinho, do filho do Barão e de toda a sua família, com exceção de uma filha, que se escondeu no jardim da fazenda.
Esta fazenda foi abandonada por vários anos. Não fosse este acontecimento, a linhagem Bela Cruz se confundiria com a própria linhagem Campo Alegre, a inicial e fundadora da raça Mangalarga Marchador.
A criação de cavalos foi retomada por volta de 1850/1855, com a seleção do Capitão Prudente dos Reis Meirelles, da Fazenda Angahy, que se casou com Francisca Junqueira, neta do Barão. Além de iniciar a linhagem de cavalos, ele também reconstruiu a sede da fazenda e construiu a Casa Bela Cruz, em Cruzília, onde hoje funciona a sede do Museu Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador.
Capitão Prudente também forjou a famosa marca “R”, de seu sobrenome “Reis”. Aliás, sua criação foi continuada pela seleção de seu filho Francisco Teóphilo dos Reis a partir de 1890. Cego, Sertão, Farrapo (o primeiro Campeão Nacional da Raça), Arubé, Ariano, Furacão e vários outros garanhões importantes da raça nasceram na Bela Cruz.
Engenho de Serra
Localizado na BR-383, km 191, no município de São Vicente de Minas, foi construída no século 18, data aproximada também da construção da Fazenda Pitangueiras, localizada no mesmo município.
Citamos a Fazenda Pitangueiras, pois ao longo dos anos as histórias destas fazendas são misturadas, havendo sempre uma relação familiar entre os proprietários.
No início do século 19, Gabriel Francisco Junqueira (Barão de Alfenas) casou-se com Constância Ignácia de Andrade, da Fazenda Pitangueiras, sobrinha do Tenente Joaquim Manoel de Andrade, da Fazenda Engenho de Serra.
Depois, no final do século 19, Severino Eugênio de Andrade, da Fazenda Engenho de Serra, casou-se com Maria Ribeiro de Andrade (Maricota), neta de Francisco Gabriel Junqueira (Chiquinho do Cafundó), da Fazenda Cafundó, no município de Cruzília, e bisneta do Barão de Alfenas.
Portanto, aumentando a relação entre as famílias e impulsionando o criatório do cavalo Mangalarga Marchador na Fazenda Engenho de Serra. Ambas as fazendas receberam por herança este novo casal, começando assim a famosa marca “S”, de “Severino”.
Ademais, Nasceram na Engenho de Serra os garanhões Abismo (Seta Caxias), Baluarte, Ouro Preto e vários outros importantes reprodutores formadores da raça.
Fonte: Top Marchador
Crédito da foto: Divulgação/Top Marchador
Veja mais notícias sobre o Mangalarga Marchador no portal Cavalus