A história da competidora com a Vaquejada vem de berço, tendo como espelho no esporte o pai e os irmãos!
Ser vaqueira para Simone Silva Vanderlei Fernandes está no sangue, pois cresceu nesse meio vendo o pai, Luiz Vanderlei, e os irmãos Jairo e Junior, montarem a cavalo e correrem Vaquejada. Hoje com 30 anos conquistou o espaço que queria nesse universo que é quase 100% masculino. Porém o talento, a paixão pelo esporte e a seu empenho nunca a deixou desistir, mesmo que tenha parado por um tempo.
Casada com Davi Fernandes, também vaqueiro, é mãe de Davi, que desde pequeno já sonha em ser um grande profissional de Vaquejada seguindo o passo dos pais e do avô. Residente na cidade de Santana de Ipanema, interior de Alagoas, onde nasceu, Simone nos conta um pouco da sua história nesse imenso universo da Vaquejada. Confira!
Como conheceu e como foi seu envolvimento com a Vaquejada?
Simone: Desde criança, pois meu pai Vanderlei e meus irmãos Jairo e Junior competem. Sempre os via irem para as Vaquejadas e voltarem com troféus lindos. A lembrança que tenho é de uma vaquejada em Santana do Ipanema, tinha uns dez anos. Lembro que meu pai estava na disputa, foi campeão dos campões e ganhou um troféu enorme, quase do meu tamanho na época. Aos 12 anos comecei a ir passar os cavalos com meu irmão Jairo Vanderlei e ele e meu pai começaram a me ensinar e treinar. Comecei batendo esteira para meu irmão nas Vaquejadas.
Mas hoje você compete puxando boi, como foi essa mudança?
Simone: Uma vez corri puxando boi numa Vaquejada em Carneiros, sem nunca ter montado antes no cavalo e quase bati a senha. Foi aí que percebi que não queria mais só bater esteira, a vontade era derrubar boi. Desse dia em diante comecei a correr puxando.
E como era nas Vaquejadas, você competia junto com os homens, ou já tinha uma categoria Feminina?
Simone: Na época eram poucas meninas que conhecia correndo, não tinha categoria Feminina, corria com os homens mesmo. Quando tinha 15 anos, meus pais se separam e meu pai e meus irmãos foram morar no Maranhão, o que dificultou um pouco as minhas idas a Vaquejada. Mas não desisti, corria num cavalo emprestado de um primo, ia com ele para as vaquejadas.
Quais as dificuldades que enfrentou ou enfrenta em relação ao esporte?
Simone: Bem, eu me casei com um vaqueiro, e as dificuldades começaram aí. No inicio do namoro, ele me apoiava e acompanhava nas vaquejadas, mas com o tempo começou a reclamar, principalmente quando queria ir e ele não podia. O preconceito tomou conta dele, ai reclamou tanto que chegou ao ponto de deixar a vaquejada de lado. Com uma nova fase na minha vida, trabalho, faculdade de serviço social, casamento, me afastei por um tempo.
Como foi esse retorno para a Vaquejada?
Simone: Depois que casamos, meu esposo comprou uma potra, a Malu, e começou amansar de esteira. Nesse momento minha esperança renasceu! Em 2015, finalmente consegui convencê-lo a comprar um cavalo de puxar e deixar que eu voltasse a correr. E assim, ele deixou o preconceito de lado. A felicidade não cabia em mim quando vi que ia voltar. O Garoto foi amor à primeira vista. Voltei efetivamente à ativa este ano. Hoje, meu esposo é meu esteira, temos uma relação de cumplicidade e companheirismo dentro e fora das pistas. Ele me apoia, incentiva e não mede esforços para proporcionar a prática desse esporte. Esta do meu lado sempre, ombro a ombro.
Como é o envolvimento da família no cavalo hoje?
Simone: Um caso de amor por nossos cavalos, aqui em casa todos respiram cavalo e Vaquejada.
Como é ir às provas ao lado da família, em que isso ajuda no desempenho?
Simone: Incrível, muito bom ter eles do meu lado nesse momento, mostrando que vaquejada é um esporte lindo, que tem amor, família, amizades e sobre tudo respeito. Com relação ao desempenho, tenho meu esposo como esteira, que me apoia e ajuda dentro da pista. Somos uma família cheia de cumplicidade, companheirismo e respeito, demonstrando isso para quem está presente nas vaquejadas, e assim fortalecendo o esporte e sobre tudo a categoria Feminina. Derrubamos muito o preconceito, que infelizmente ainda existe.
Qual Campeonato você segue? Tem a categoria Feminina?
Simone: Em Alagoas não temos muito incentivo para a categoria Feminina, tivemos uma oportunidade ano passado, quando os circuitos ALQM e AVAQ começaram a colocar o Feminino como teste. Mas as demais corridas ainda são difíceis ter. Então, esse ano resolvi acompanhar o circuito AVAQ depois que comecei a correr no Garoto.
Em sua opinião, qual a importância dessa mudança de visão na Vaquejada em relação do Bem Estar Animal?
Simone: Muito importante, pois quebra as barreiras com relação ao preconceito e os maus tratos aos animais na prática desse esporte. E assim garantindo e zelando pelo bem estar animal dos cavalos e bovinos participantes.
Como você busca melhorar a performance dentro da pista?
Simone: Como não tenho muito tempo para treinar no momento, busco dar o melhor de mim dentro da pista e ouvir o meu esteira durante a carreira, tentando ficar calma, mas é difícil. E penso no meu filho que está na torcida por mim na arquibancada, vibrando por cada valeu o boi e chorando se for zero (risos). Por ele também busco melhorar sempre, para no final fazer ele feliz dando o troféu para ele, que esta colecionando no seu quarto todos os troféus da mamãe.
Qual cavalo que mais marcou a história de vocês e por quê?
Simone: Um que marcou de maneira especial foi o cavalo que eu corria batendo esteira para meu irmão, ainda quando era adolescente, ele se chamava Asa Branca. Depois de muito tempo tive que vender para comprar um de puxada, foi difícil me despedir. Cuidava das crinas dele como do meu cabelo, eram enormes e lisas. E atualmente, é o Garoto e a Malu que vêm com bons resultados em pista, além de ter marcado a nossa volta efetivamente ao esporte.
Qual título que ainda não tem e deseja conquistar?
Simone: Estou na luta para conquistar o titulo de campeã da categoria Feminina do Circuito AVAQ 2017, e sonho em participar de vaquejadas grandes em outros estados.
Quem é seu ídolo nesse esporte?
Simone: Com certeza o meu pai, Luiz Vanderlei!
Por Verônica Formigoni
Colaboração Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal