Um bom cavalo de trabalho

Pergunto a você: qual o melhor cavalo para o trabalho de fazenda, gado, enfim, rotinas de serviços gerais de uma propriedade rural?

Se falarmos em termos de raças, muitos de nós talvez nos remetêssemos diretamente aos cavalos ‘western’, às raças que estamos mais habituados e são mais conhecidas para este tipo de serviço. Um cavalo de trabalho, ou cavalo de serviço, tem algumas particularidades de comportamento e algumas particularidades técnicas que devem ser ressaltadas, para que então possamos falar de raças ou tipos.

Um bom cavalo de serviço deve ser calmo e confiante. Deve saber se poupar sem perder qualidade no trabalho. Deve ter a confiança de seu cavaleiro pela agilidade sem desespero, pela rapidez sem pressa e pela altivez sem desperdício de energia. Um bom cavalo de serviço deve ser paciente e calmo sem ser preguiçoso. Deve ter uma boa dentição e saber comer bem nas horas de alimentação, pois em algumas situações não ira comer por um tempo maior, portanto, deve ser um cavalo de bom aproveitamento e metabolismo alimentar.

Os cavalos de trabalho devem ter bons cascos, grandes sem serem exagerados, fortes e resistentes. Devem ter uma estrutura muscular condizente com o tipo de serviço que realizam. Musculosos mas não pesados. Devem ter ossos que sustentem sua musculatura, portanto ossos fortes, grossos e articulações saudáveis e resistentes. Um cavalo de trabalho deve ser grande, mas não deve ser pequeno – o suficiente para ajudar seu cavaleiro a subir e descer com agilidade e praticidade. Deve ter um dorso mais para curto do que para comprido, para que a agilidade dos posteriores seja sempre presente, uma garupa bem delineada e funcional, um pescoço leve, bem lançado, com paletas corretamente anguladas para um melhor rendimento de passadas ao longo do dia.

Da parte técnica, um bom cavalo de trabalho e serviço deve saber abrir uma porteira (tanto a de madeira como os colchetes e as porteiras de mangueiras com correntes), laçar e trabalhar com cordas, não se assustando quando estas se enroscam nas patas ou garupas. Um bom cavalo de trabalho deve carregar coisas na sela ou arreio sem se assustar. Deve ter trilhar um garrote ou tocar uma boiada, atravessar aguadas, atoleiros, barrancos, descidas, buracos e valetas. Um bom cavalo de trabalho deve ser leve de boca, manso de cabresto e deve saber ficar amarrado, parado, sem se desgastar. Deve aceitar capas, mantas e plásticos em seu dorso com a mesma calma de um bom cavalo de criança.

Não é fácil fazer um cavalo de trabalho. Demora, demanda de paciência e tempo. Demanda de uma pessoa que saiba exatamente o significado de ensinar e aprender. Permite-nos trabalhar nossa consistência, nossa perseverança e nossa dedicação. Erramos muito mais do que estes cavalos, mas geralmente colocamos a culpa neles. Voltemos agora à pergunta do inicio do artigo: qual o melhor cavalo para o trabalho? A conclusão que chego, e que obviamente não é a única correta, é que o melhor cavalo de trabalho não é o desta ou daquela raça.

O melhor cavalo de trabalho é o que reúne as características que citamos acima e muitas outras que não provavelmente não lembrei neste artigo. É o cavalo que tem seu cavaleiro como parceiro e não como problema, que encara o trabalho com prazer (mesmo que muitas pessoas ainda não acreditem que cavalos possam sentir emoções…), e que tem o sentimento do bem feito na cabeça. É o cavalo que reúne características morfológicas e funcionais que o auxiliem no dia a dia causando o mínimo de dor e desconforto possíveis. Volto à pergunta: qual a melhor raça? Para ser franco, quanto mais eu convivo com cavalos, e convivo com cavalos de muitas raças diferentes, mais eu acredito em indivíduos do que em raças.

Obviamente que as especificidades de cada modalidade nos pedem raças especificas, mas até nisso estou começando a mudar meu pensamento. Trabalho cavalos de raças de salto no dia a dia da fazenda, que reúnem as características citadas acima, e garanto que o trabalho sai bem feito. Ao mesmo tempo, trabalho cavalos western em aulas básicas de salto e o mesmo acontece. Tudo isto é muito diferente de se querer uma modalidade esportiva levada absolutamente a sério onde talvez uma raça seja mais determinante na escolha dos indivíduos, mas o que quero é levantar o pensamento sobre as características de um cavalo e não somente analisarmos as raças.

Viciamos em raças e temos nossas preferências, mas analise sempre o individuo dentro da raça. Faca um teste: troque ‘cavalo de trabalho’ por ‘cavalo de tambor’, ‘cavalo de salto’, ‘cavalo de enduro’, ‘cavalo de laço’, sem pensar em raças, mas pensando em características que você deseja para esta modalidade. Provavelmente você chegará na raça que estaria pensando antes do teste, mas, será que dentro desta raça 100% dos indivíduos possuem estas características? Voltamos na conversa dos indivíduos novamente…

Por Aluisio Marins, M V
Fotos: cedidas

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