“Isso é loucura. Tantas pessoas estão me enviando mensagens. Eu não consigo acompanhar”, comenta José Vitor Leme no sábado, 14 de novembro, logo após sair do AT&T Stadium. Ao marcar 95,75 pontos e vencer a terceira rodada da PBR World Finals o brasileiro foi declarado campeão mundial PBR 2020 antecipado, com duas rodadas de antecedência. “Essa jornada é incrível. Esse é meu sonho. Minha vida. Mas sei que ainda há muito trabalho a fazer”.
Em 27 anos de PBR, José Vitor Leme foi o 19° atleta diferente a levantar a taça e o sétimo brasileiro, completando 11 títulos para o Brasil. Aos 24 anos, desde 2017 nos Estados Unidos, o ex-jogador de futebol afirma: “quero fazer algo impossível, algo que ninguém jamais fez na PBR”. José Vitor Leme se espelha na trajetória do ídolo JB Mauney. Pretende quebrar recordes e conquistar mais títulos mundiais. A fivela de ouro, sem dúvida, lhe cai bem.
O atual campeão do mundo começou a montar bezerros aos sete anos de idade, em Ribas do Rio Pardo/MS. Rapidamente se encantou com o esporte Montaria em Touro. Seu pai, Antônio, costumava participar de cavalgadas e tem uma fazenda de gado. Inegavelmente, o destino está ao lado de José Vitor Leme. Mas, um revés mudou um pouco o rumo dos planos.
Como tudo começou
Seus pais se divorciaram quando ele tinha 13 anos. Portanto, deixou o rodeio em segundo plano e se dedicou ao futebol, que começou a jogar aos 11 anos, e ao caratê. Seu talento e capacidade atlética em campo o levaram à categoria de jogador semiprofissional. Mas o desejo de ganhar a vida no rodeio não saia da sua cabeça. Restava então aguardar uma oportunidade.
No Brasil, é preciso um convite para ingressar na elite do rodeio. Aos 17 anos, José Vitor Leme finalmente encontrou uma oportunidade em Rochedo, cidade próxima a Campo Grande, onde morava com a mãe, Silvia. Mostrando garra desde sempre, foi ao rodeio pedalando sua bicicleta, já que ele não tinha outro meio de transporte na época. Para ser conhecido e chamado para disputar nos rodeios de renome, ele teve que começar de alguma forma.
Ganhou do pai uma corda de montaria, botas e esporas. Toda a ajuda é bem-vinda e Seu Antônio queria ajudar no sonho do filho. Mas, por muitas vezes, o dinheiro era curto para as viagens aos rodeios e a manutenção do equipamento. O agora campeão mundial não se abateu e improvisou. E o pai não mediu esforços: “devo tudo a ele”, conta logo após falar com Seu Antônio por telefone ainda no estacionamento do estádio.
Também conversou com a mãe e os dois choraram de emoção. Com toda a certeza, orgulho. A intenção de melhorar de vida e dar uma vida melhor para eles segue seu curso de forma satisfatória.
José Vitor Leme em ascensão
Em novembro de 2017, o brasileiro pousou nos Estados Unidos com uma vaga na final da segunda divisão, Velocity Tour. Chegou com três títulos o currículo – campeão da temporada da PBR Brazil, campeão da final e novato do ano. Em seguida, montou na final mundial e não caiu de nenhum touro. Encerrou sua temporada de nove dias como campeão da etapa, novato do ano nos Estados Unidos e mais de US$ 300 mil no banco. Não voltou mais para casa. Determinado, colocou na cabeça que só pisaria no Brasil novamente com a fivela dourada no cinto.
Três anos depois, José Vitor Leme tem dois vice-campeonatos, um título e uma conta recheada. Só em 2020 somou US$ 1,6 milhão em ganhos, somando o bônus pela vitória. Em 2017, usou parte de seus ganhos na compra de uma casa nova para a mãe. Agora ele espera que o pai deixe ele comprar uma nova fazenda ou ajudar a fazer melhorias na atual. O campeão planeja bastante seus gastos e opta por guardar ou investir em algo que o ajude no futuro, como sua boiada.
Desde que pisou pela primeira vez em solo norte-americano sua vida deu uma reviravolta de 360°. O sucesso estrondoso de 2017 colocou José Vitor Leme na lista de apostas dos novos talentos da PBR. Ele logo tratou de passar para outra lista, a dos favoritos ao título de campeão mundial. Foram três temporadas incríveis, sempre no topo da tabela. Mais do que isso, mostrando performances regulares, seriedade e, acima de tudo, foco.
Exemplo
O caminho de José Vitor Leme para sua primeira fivela de ouro foi nada menos que implacável. Ele começou a treinar, treinar e treinar em casa, dias, semanas e meses. Ser segundo lugar por dois anos seguidos mexeu com o brasileiro. Ele praticava quase diariamente, mesmo depois de abrir uma vantagem de mais de 590 pontos na classificação mundial na segunda semana de setembro. Se recusou a acomodar. Queria ter certeza de que seguraria aquela taça de campeão nas mãos.
“Meu choro hoje [quando confirmou o título antecipado] é diferente. Foi um choro de alegria, diferente do ano passado. É difícil para alguém trabalhar tanto durante o ano, e liderar a maior parte do ano, e então terminar em segundo lugar. Isso é tão difícil que muitos desistem”, arremata o campeão, sem esquecer que além da sua determinação teve muita ajuda dos amigos, outros cowboys brasileiros que também competem pela PBR.
A obsessão de José Vitor Leme com a excelência valeu a pena nesta temporada, mesmo antes de ele deixar o AT&T Stadium com o título mundial de 2020. Ele já estava nos livros de recordes da PBR. Em 2020, teve 67,89% de aproveitamento nas montarias, com sete vitórias em etapas, nove notas na casa dos 90 pontos e 16 vitórias em rodadas. Só não pontuou em apenas quatro dos 20 eventos da Unleash The Beast que competiu.
Os maiores ídolos do esporte, como Justin McBride, Guilherme Marchi e Adriano Moraes, o reverenciam. Mas não é a toa, José Vitor Leme trabalha duro e muito. De volta para casa, em Decatur, Texas, ele já pensa em 2021. Mas agora passa um tempo no Brasil. Finalmente pôde voltar!
Por Luciana Omena
Fonte: PBR
Crédito das fotos: BullStockMedia/PBR
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