Atleta olímpico de paracanoagem atualmente, Igor Alex Tofalini é um ex-peão de rodeio. Natural de Cambé/PR, morando em Londrina, ele montou em touros durante dez anos. Mas o destino não deixou que continuasse. Em 2011, sofreu uma queda na arena de um rodeio profissional. Um pisão forte nas costas levou a uma fratura na coluna e Igor ficou paraplégico.
Logo após seu acidente, o ex-peão procurou esportes adaptados em que pudesse seguir a vida. Não queria ficar parado. Começou, então, na natação e, no Iate Clube de Londrina, conheceu Gelson, seu treinador que dava aulas de canoagem. Desde a primeira vez que remou, foi paixão, que dura até hoje.
Mas o rodeio não ficou longe do seu dia a dia. Igor faz questão de manter uma relação com o esporte. Conta que mantém as amizades daquela época e assiste tudo ao vivo pelas redes sociais. Um companheiro nessa jornada é o também atleta paralímpico Fernando Rufino.
Aliás, os dois amigos ganharam apelidos que os ligam ao rodeio. Igor Tofalini é o Peão das Águas, enquanto Fernando, o Cáuboi de Aço. Conversamos com Igor Tofalini. Confira a entrevista!
Como você chegou aos rodeios?
“Desde menino fui criado no sítio da minha família. Adorava andar a cavalo e lidar com o animais. Sem dúvida, momento de felicidade muito grande. Até que conheci, ainda menino, um tropeiro de touros, na minha cidade, Cambé/SP. Sebastião de Souza (Tião) era proprietário da boiada e administrador de um haras na cidade.
Assim, fiz amizade com os filhos dele, Juninho e João. Quase todos os dias estava na fazendo dele, mexendo com os animais. Quando eu tinha 15 para 16 anos comecei a montar nos garrotes. O Tião me ensinou muito! Passei a treinar quase todos os dias na fazenda, até que comecei a montar muito bem.
Daí, o Tião começou a levar alguns garrotes para o rodeio amador. Era uma época que haviam muitos rodeios amadores. Mas, realmente me apaixonei pela vida de peão. E quando tinha 18 anos fui para o meu primeiro rodeio profissional. Foi no Castelo ElDorado, na cidade de Apucarana/SP. De cara fui finalista.
Para mim, algo muito prazeroso estar aos lados dos meus companheiros naquela final. Ali começou minha carreira no rodeio. Viajei por quase dez anos por muitos rodeios nos estados do Paraná e São Paulo. Nesse período conquistei vários títulos de campeão. Assim como quase todos os caubóis, sempre sonhei em ser um campeão mundial”.
O que você lembra do rodeio em que sofreu o acidente?
“Em novembro de 2011 me convidaram para participar de um rodeio na cidade de Paranacity/PR. Tinha sido vice-campeão lá no ano anterior. Naquela mesma semana teria outro rodeio em Iguaraçu/PR. Optei por ele, pois já tinha montado em Paranacity. Fui com outro amigo peão, Adriano Rodrigues. Chegamos cedo, por volta das 17h no primeiro dia. Conversamos com outros competidores e fomos ver a boiada.
Lembro de ficar perto dos currais, vendo os bois chegarem. Logo depois de ver onde era o alojamento, retornamos para o recinto até o início do rodeio. Naquela noite, quando saiu o sorteio, sorteei um bom touro. Sabia que poderia me dar uma das melhores notas da noite. Era o Jóia (do Beto Tribulato).
Tinha outro touro muito parecido com ele que entrou no brete. Coloquei minha corda e o Beto me avisou que não era o meu touro. Começou o rodeio, pularam uns cinco touros, até que chegou a minha vez. Me lembro que como era om boi, bem pulador. E eu estava em uma boa fase da carreira, muitos peões pararam para assistir minha montaria.
Ao abrir a porteira, o Jóia deu uns dois ou três pulos bem altos. Veio rodando para a direita, na minha contra mão. Com pouco mais de cinco segundos ele me derrubou para fora da roda. Então eu caí e ele me pisou na região inferior do abdome. Senti uma dor muito forte e ali mesmo fui atendido pelos paramédicos. Fizeram alguns testes na ambulância e suspeitaram de fratura de pelve.
O que foi mais difícil logo após o acidente na arena?
Os médicos me encaminharam imediatamente para o Hospital universitário de Maringá. Em primeiro lugar, fizeram uma ressonância e o diagnóstico de fratura na coluna veio nesse momento. Fiz um cirurgia de urgência para descompressão da medula. Foram 15 dias internado no intuito de recuperar os movimentos das pernas.
Dias de muita dor e angústia. Infelizmente, nesse período não apresentei a melhora que médicos achavam possível. Por isso optaram por operar novamente e estabilizar a coluna. Me transferiram para o Hospital Universitário de Londrina. Mais 15 dias e saí em uma cadeira de rodas.
Naquele momento soube que a minha vida iria mudar completamente. Fui para casa triste. Ao receber visitas de amigos e familiares, passou um filme na minha cabeça. Antes de mais nada, pensava o que eu deveria fazer dali para frente para dar continuidade à minha vida.
Nesse meio tempo, meu pai, em contato com um amigo, conseguiu uma consulta no Hospital Sarah, em Brasília. Lá passei por uma reabilitação de 45 dias, assim como aprendi a lidar com minha nova condição”.
E a canoagem, entrou em que momento na sua vida?
No Hospital Sarah conheci vários esportes adaptados, um deles foi a canoagem. De imediato tive uma sensação muito prazerosa. Já de volta ao Paraná, à convite de um amigo, fui conhecer um projeto de paranatação no Iate Clube de Londrina.
Tive contato com várias pessoas com deficiências diferentes. Em outras palavras, algo que eu não tinha vivenciado até então, contato com pessoas com qualquer deficiência. Assim sendo, consegui enxergar todas as capacidades daquelas pessoas.
Ingressei no projeto e pratiquei natação por quase um ano. Aprendi muitas coisas importantes ao lado daquelas pessoas. Fiz amizades e participei de competições. Mas não era algo que me satisfazia.
Inesperadamente, vi um baco passando ali mesmo no lago do Iate Clube. Perguntei para um amigo e ele me falou que lá tinha um escola de canoagem. E melhor, que o professor era amigo dele.
Então, meu amigo me levou para conhecer a canoagem. E conheci também o professor Gelson. Me recebeu prontamente, mesmo sem nunca ter trabalhado com pessoas com deficiência. No mesmo dia me colocou para remar e senti uma sensação indescritível”.
Como chegou ao patamar de atleta olímpico de paracanoagem?
“Assim que terminei essa primeira remada, o Gelson me perguntou se gostei. Meu sorriso falava por mim. Então respondi: ‘Adorei, posso voltar?’. Ele respondeu que sim e comecei a minha história na canoagem e na paracanoagem.
Aprendemos muito juntos até me tornar um atleta de alto nível. Foi um período de dedicação e trabalho duro. Mas colhemos bons frutos e muitas conquistas ao longo desses anos. Conheci a canoagem em 2013 e estou até hoje.
Nessa trajetória como atleta olímpico de paracanoagem, somei inúmeras conquistas. No Brasil, tetracampeão estadual, pentacampeão brasileiro. Já em competições internacionais, campeão pan-americano, campeão sul americano. Fui ainda semifinalista paralímpico Rio 2016. Até que cheguei ao sonhado título de campeão mundial, em Portugal, no ano de 2018.
Minha maior experiência na canoagem foi, sem dúvida, a participação nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Vivenciei momentos fantásticos ao lado de grandes atletas. Vi de perto o corpo humano ao extremo da habilidade, independente de qualquer limitação física”.
É verdade que você nunca se afastou do rodeio?
“Hoje, mesmo praticando outro esporte, continuo apaixonado pelo rodeio e todas as suas vertentes. Sou sertanejo de verdade! Com minha rotina atual de treinos e competições, tenho dificuldade de ir aos rodeios. Contudo, estou sempre acompanhando ao vivo e torcendo pelos meus amigos e companheiros.
Além disso, nas minhas folgas, estou sempre no sítio da minha família. Ao mesmo tempo em que passo um tempo com meus animais, aproveito para cuidar do meu projeto social de paraequitação. Nesse projeto proporciono o contato e lida com cavalos à pessoas com deficiência sem nenhum custo. Essa foi uma iniciativa que tive como forma de retribuir por tudo que o esporte me proporcionou”.
Por fim, conta para gente como está a temporada 2021.
“Esse ano, a primeira competição será em março, em São Paulo. Continuo na briga por uma vaga para as Paralimpíadas de Tóquio.”
Por Luciana Omena
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
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