Outro dia estava trabalhando um potro em fase de doma, iniciação. Era um cavalo quente, de movimentos rápidos e uma agilidade incrível.
Passeando pelo pasto, retornando para a cocheira ele assustou com um passarinho que levantou vôo. Saiu de lado com tanta força e utilizando de sua rapidez girou sobre os posteriores e parou. Na hora, eu estava relaxado na sela, e senti uma fisgada na virilha. Sim, “abri” a virilha tamanha a força e a rapidez do cavalo, e obviamente minha distração. Cheguei de volta à cocheira, retirei todo o equipamento, dei um banho no potro e soltei-o no piquete. Sabia que no dia seguinte talvez eu não teria condições de montar, e comecei a pensar no que fazer com o potro para que ele continuasse o bom trabalho que vinha fazendo. Optei por um trabalho que não fazia há muitos anos, mas que para aquele momento talvez servisse para o potro – o charreteamento.
Não charreteio um potro fazia muito tempo, pois pela maneira que trabalho não encontro necessidade para tal. Fiz por um tempo, deixei de fazer e venho tendo bons resultados nos potros que inicio. Mas, para aquela situação, talvez o charreteamento pudesse ser útil, pois colocaria o potro de sela, andando para frente. Particularmente não gosto de ficar puxando na boca dos potros que inicio, então tratei de não utilizar muitas curvas, mas tentar ir o mais reto possível. É o jeito que eu trabalho, e respeito todos os outros jeitos. Enquanto eu andava atrás do potro, vim pensando em algo que ouvi de um treinador de pólo que tive na adolescência.
Dizia-me ele que sempre que vemos uma técnica ou ferramenta, nunca devemos discordar ou simplesmente abolir tal procedimento ou ferramenta do nosso cotidiano com os cavalos. Devemos considerar esta técnica como uma ferramenta que entra em uma caixa. Ela é guardada, e, quando ou se necessária, ou mesmo por opção de cada um, pode ser retirada da caixa e ser utilizada. Aprendi isto com 14 anos de idade, e nunca mais esqueci. Sempre que vejo algo novo posso até discordar momentaneamente, mas sempre tento entender e gravar como se faz ou se utiliza, pois pode ser que um dia eu necessite. Muitas coisas eu nunca mais uso, muitas coisas uso de vez em quando, muitas coisas uso frequentemente.
Charretear aquele potro me fez trabalhar algumas coisas: o potro não ficou parado, trabalhou de sela, embocadura, etc. As guias utilizadas no charreteamento serviram para que o potro assimilasse e entendesse que poderia caminhar com objetos estranhos ao lado, e com isso aprendeu algo novo. Trabalhar com uma “caixa de ferramentas” é sempre muito bom, pois podemos utilizá-la a qualquer momento, ficamos sempre abertos a novas idéias, técnicas e ferramentas, nos força a ouvir mais as pessoas e principalmente a tentar compreender melhor como podemos melhorar cada vez mais a vida dos cavalos.
Por : Aluisio Marins
Foto : Cedida