“Uma vida não questionada não merece ser vivida.” (Platão)
Sempre que estou dando aulas ou clínicas comento sobre 2 maneiras de se montar cavalos. Estas duas maneiras estão diretamente ligadas à forma como estes montam, não em termos de técnica, mas sim de interesse geral sobre o que está acontecendo com o cavalo. Chamo estas duas maneiras referindo-me aos cavaleiros.
Existem, em minha opinião, os cavaleiros do “por quê?” e os “cavaleiros pilotos”. Os cavaleiros do “por quê?” são os cavaleiros questionadores, que procuram respostas palpáveis para tudo o que o professor pede em uma aula. Outro dia estava dando aula a 2 alunas. As duas do mesmo nível de equitação, iniciantes, com alguns meses de aulas. Ao solicitar que galopassem no pé esquerdo, uma partiu ao galope imediatamente, mas no pé direito. Fiquei quieto enquanto ela dava uma, duas, três voltas na pista até que o próprio cavalo retomou o trote e entrou no galope no pé certo. Cavalos de escola fazem isso normalmente. A outra aluna, quando viu que a amiga galopava no pé trocado, veio até mim, e questionou como faria para pegar o galope no pé certo, e principalmente por que era importante toda esta questão de “pés”.
Paramos toda a aula, expliquei tudo sobre galopes, montei um dos cavalos, e mostrei os “pés certos” a galope. Após isso, mostrei como pedir um galope no pé certo. Depois, as duas foram praticar. Solicitaram o galope, que aconteceu naturalmente, no pé certo. A pergunta que faço é: para quem quer simplesmente galopar, interessa mesmo o pé em que se está galopando? Dependendo do que se quer fazer, sim, ou não. Em uma aula de equitação, acredito que sim. E como se aprende a galopar? Galopando? Ou questionando primeiramente os “por quês” do galope? Talvez unindo estas duas coisas…
A primeira aluna, a que galopou no pé trocado, é uma típica “amazona piloto”. Faz e pronto. Cuida pouco dos detalhes e com isso tem uma montada que podemos considerar “grosseira” do ponto de vista de técnica. Galopa por galopar, vira o cavalo por virar, salta querendo somente que o cavalo passe para o outro lado do obstáculo. Faz muito na aula, se mexe muito, não quer “perder tempo”. Quando se pede um exercício, sai logo fazendo, sem antes planejar, pensar e executar. Sempre tenho que preparar muito bem o que quero para que ela faça bem feito. Já a segunda, anda menos na pista, pára para perguntar, questiona e tenta fazer o melhor que consegue, sempre após uma explicação sobre o que eu quero. Visualmente, para quem está assistindo a aula na cerca, dá a impressão que no mesmo período de tempo, a primeira (“amazona piloto”) fez muito e a outra fez pouco. Mas, quem será que aprendeu mais? Os cavaleiros e amazonas do ”por que” sempre aprendem mais, mesmo que visualmente falando executem menos…
Por : Aluisio Marins
Foto : cedida