Sempre que converso com competidores das diversas modalidades escuto um termo, que me intriga: “este cavalo foi honesto” ou “o cavalo não foi muito honesto na prova”.
Ser honesto na prova significa que o cavalo correspondeu bem a todas as solicitações do cavaleiro durante o exato momento em que estavam em pista. Ser desonesto ou “não honesto” significa o contrário. O cavalo não correspondeu como o esperado. Esta é uma visão do cavaleiro. E qual a visão do cavalo sobre isto? O que fez o cavalo ser ou não ser honesto na prova? O que faz um cavalo ser ou não ser honesto em determinadas provas e em outras não? Por que um cavalo não seria honesto? Será que o cavalo tem isso de ser ou não ser honesto?
Dia desses conversando com Jango Salgado, mundialmente conhecido treinador de rédeas, 2 vezes vice campeão mundial da modalidade (portanto, alguém com experiência de sobra…) acho que encontrei a resposta. Comentávamos sobre formas de treinamento, e que no treinamento em casa, sozinhos, quem tem o total domínio da situação como um todo (não somente técnica e controle do cavalo) é o treinador. Quando um cavalo erra ou deixa de fazer algo, o treinador corrige da forma que decidir, por quanto tempo quiser, sem qualquer interferência. Dentro disto, sabemos que existem treinadores com critérios excelentes de correção, mas também sabemos que existem os sem critérios. Sabemos que para os sem critério existe somente o “fazer” e não o “aprender”. Conhecemos cavalos que se desgastam mais do que o necessário (quando não mais do que o aceitável…) nos treinamentos, e sabemos que bom senso e aprendizagem não são a tônica de treinamento de alguns.
Pois bem, se analisarmos friamente, na hora da prova quem tem a maior parcela do controle de toda a situação (novamente não estamos falando de técnica ou controle do cavalo, mas sim de situação como um todo) é mais o cavalo do que o cavaleiro. Como? Será que um cavaleiro irá punir ou corrigir um cavalo na prova da mesma forma como faz em casa? Será que o cavalo vem confiante na sela do treinador que prioriza o “fazer” ao invés do “aprender a fazer”? Será que existe relação de confiança ou existe somente uma relação? E é nestas horas que o cavalo passa a ser desonesto pela visão do cavaleiro, pois quando não confia fica sempre se antecipando e esperando a punição. A sensação de desonestidade acontece quando tudo dá errado. Mas, por que tudo dá errado? Esta é a questão…
Por : Aluisio Marins
Foto : cedida