Agronegócio demanda profissionais mais especializados e relacionados à tecnologia

Dentre os trabalhadores mais procurados, destaque para cientista de dados agrícolas e engenheiro agrônomo digital

A atividade agropecuária cresceu 15,1% de 2022 para 2023, e teve total influência no desempenho do PIB do país, que fechou o ano com alta de 2,9%, totalizando R$ 10,9 trilhões. No primeiro semestre deste ano, o setor também apresentou elevação, de 11,3%, e mais uma vez puxou a expansão da economia brasileira (0,8% de alta frente ao quarto trimestre de 2023, na série com ajuste sazonal). Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mercado do agro

Sendo um mercado tão forte e pujante, não é de se admirar que cada vez mais investimentos sejam feitos, visando aumentar a produtividade e até mesmo lidar com as mudanças climáticas. E esse movimento todo tem resultado no surgimento de novas profissões.

Particularmente, a região Centro-Oeste do Brasil vive um bom momento, com uma demanda cada vez maior por algumas posições bem específicas. Glaucia Telles Benvegnú, diretora de relacionamento da consultoria Hunter4Agro, relatou à BBC News Brasil que nos últimos dois anos houve um aumento de 30% de profissionais que trabalham na região e, ao mesmo tempo, surgiram novas oportunidades.

”Há uma perceptível mudança no perfil das vagas, em razão da inovação nos processos produtivos e de cultivos, investimentos em tecnologias e crescimento nos negócios”, informou. “Nossos clientes buscam profissionais jovens com alto potencial para unir o agro com a tecnologia.”

Um levantamento de 2021 realizado pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), detalhou alguns profissionais que têm sido mais procurados em função da presença cada vez maior da tecnologia no setor.

Um deles é a de cientista de dados agrícolas. Esse especialista tem conhecimentos em análise de dados, estatística, programação e mercado agrícola, e trabalha com softwares usados em atividades como plantio e geoprocessamento.

Designer de máquinas agrícolas (profissionais com formação ou conhecimentos em design e desenvolvimento de produtos) e engenheiro agrônomo digital (alia engenharia agronômica com técnicas modernas de agricultura para construir fazendas baseadas em novas tecnologias) também entram na lista.

Outro especialista cuja demanda só cresce é o técnico em agricultura digital, função que une conhecimentos de tecnologia da informação (TI) e de processos do campo para usar técnicas digitais para aprimorar atividades como plantio inteligente e recirculação de águas.

Agricultura sustentável
A agricultura sustentável, cada vez mais necessária para mitigar os impactos no setor nas mudanças climáticas e conservar o meio ambiente, também está alimentando a demanda por gente especializada.

“As empresas estão criando metas de sustentabilidade e necessitam de profissionais para estruturar projetos que as direcionem”, observou Jonas Oliveira, gerente de sustentabilidade da área de proteção de cultivos na agroquímica Syngenta, à BBC News Brasil.

Para ele, a sustentabilidade é um guarda-chuva cada vez maior que oferece oportunidades para pessoas de diversas formações. “Hoje, meu time conta com profissionais de administração, agronomia, economia e engenharia agrícola, com experiências variadas, de usinas de etanol a bancos.”

Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), comentou que o crescimento agrícola do Centro-Oeste atrelado a uma crescente preocupação com a área ambiental fez aumentar também a demanda e, consequentemente, a migração de profissionais especializados em certificação ambiental para a região.

Senador Canedo, em Goiás, é a representante mais expressiva deste novo fluxo migratório. Essa foi a cidade com mais de 100 mil habitantes que teve o maior crescimento relativo do Brasil entre 2010 e 2022 – pelos dados do último Censo, sua população passou de 84.443 habitantes para 155.653, alta de 84,31%.

Sinop e Sorriso, ambas em Mato Grosso e com uma economia centrada na soja, também se destacaram: as populações subiram 73,36% e 66,32%, respectivamente. Quanto às capitais, todas figuram entre as cidades que tiveram maior crescimento em números absolutos de habitantes. Cuiabá (MT), por exemplo, ganhou 97.710 novos moradores. Campo Grande (MS), 111.164, e Goiânia (GO), 135.325.

“De uns três anos para cá, houve aumento na demanda por profissionais no Centro-Oeste, principalmente para posições voltadas ao agronegócio. E, aqui, falamos de defensivos agrícolas, sementes, fertilizantes, máquinas, ou seja, tudo que está relacionado à cadeia do agronegócio”, pontuou Erika Moraes, gerente da consultoria Robert Half.

De acordo com ela, a busca se dá por trabalhadores mais especializados e que, inclusive, dominem um segundo idioma. “Muitas empresas da região hoje têm relação com clientes e investidores externos, o que tornou a exigência do inglês bastante comum”, completou.

Fonte: Um Só Planeta
Foto de chamada: Reprodução/Getty Images

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