Cavalgada e Cultura Equestre na Rússia

Paulo Junqueira, em sua coluna da semana, conta dessa cavalgada para quem busca conhecer uma cultura equestre secular e ainda participar de uma aventura nas montanhas do Cáucaso, ao longo dos montes Urais

Realizada no extremo oeste do país, ao norte da Geórgia, essa Cavalgada na Rússia tem como paisagem dominante o Monte Elbrus, a montanha mais alta não só da Rússia, como também da Europa.

O Elbrus tem uma calota de gelo permanente que alimenta 22 geleiras. Além disso, tem dois picos, ambos vulcões dormentes (não entra em erupção desde 50 d.C.). Seu cume oeste é o mais alto, com 5.642 metros.

Nessa viagem a cavalo, as paisagens são selvagens. Vemos penhascos e gargantas impressionantes, antigos sistemas de cavernas, cachoeiras e cânions. A saber, trata-se de uma cavalgada em trilhas, longe das rotas turísticas, sob as montanhas imponentes do Elbrus.

Da mesma forma que na viagem à Mongólia, para mim, o principal objetivo dessa cavalgada é a experiência cultural com os circassianos. Termo que inclui doze tribos Adyghe.

Oportunidade, então, de conhecer a história e as tradições dos cavaleiros circassianos, seus cavalos Cabardino e as selas cherkess/circassiana, que têm características únicas no mundo.

Desde os tempos antigos, os circassianos amam os cavalos. Em sua língua, eles chamam o cavalo de ‘Shi’, cuja tradução tem dois significados: irmão ou cavalo.

Paulo Junqueira conta dessa cavalgada para quem busca conhecer a cultura equestre secular da Rússia e participar de aventura nas montanhas

Cavalos Cabardino/Kabardin

Criados no Cáucaso, por tribos das montanhas desde o Século 16, a raça surgiu a partir de uma combinação de cavalos das estepes. Principalmente o Karabakh, o Árabe e o Turcomano.

Os Cabardinos, portanto, têm cascos duros e são bem musculosos. Seu sangue tem elevada capacidade de transporte de oxigênio, adequada para trabalhar nas altas montanhas.

Sela circassiana/cherkess

A sela circassiana/cherkess não se assemelha a nenhuma outra sela no mundo! É única em sua construção e detalhes, muito bem pensados. Antes de mais nada, detalhes esses que evoluíram ao longo de várias centenas de anos de história da equitação no Cáucaso. E, provavelmente, vários milhares de anos antes.

Como a maioria dos cabardianos passou uma parte significativa de sua vida na sela, viajando milhares de quilômetros por mês durante as operações militares, as projetaram a fim de cumprir alguns objetivos básicos: conforto do cavaleiro e do cavalo, estabilidade do cavaleiro e durabilidade da sela.

Ao olhar para a sela circassiana, ela parece grande, pesada e com o centro de gravidade muito alto. Mas, uma vez que você se senta nela e dá alguns passos, descobre a sabedoria dos antigos fabricantes dessas selas. Baseada em uma armação semelhante às utilizadas nas selas militares, distribuindo o peso do cavaleiro no dorso do cavalo.

Paulo Junqueira conta dessa cavalgada para quem busca conhecer a cultura equestre secular da Rússia e participar de aventura nas montanhas
Foto: copyright by Catherine Michelet e Paweł Krawczyk

Detalhes da sela

A armação é, relativamente, curta. Mas ela própria repousa sobre uma ‘almofada’ de couro longa e elástica. Assim, essa armação evita que a sela bloqueie o movimento dos ombros do cavalo enquanto espalha o peso em uma parte mais longa das costas.

Outro segredo dessa sela é uma almofada quadrada, feita de couro macio e recheado com pelo de cabra da montanha. Graças à sua forma específica, não apenas é confortável, como também com a pressão do corpo, aperta as pernas do cavaleiro, estabiliza-o e amortece-o, protegendo o cavaleiro e o cavalo.

Além disso, é muito útil em trilhas de longa duração, principalmente no trote. Ao contrário do que parece olhando as fotos, o cavaleiro não fica alto no meio dessa ‘almofada’. O quadril do cavaleiro, portanto, fica logo acima da armação, como nas selas inglesas.

Outro detalhe interessante são as três cilhas, sendo a última voltada para trás na barriga do cavalo (esta é opcional e quando usada, não é apertada). Isso melhora a estabilidade da sela durante descidas e subidas íngremes nas montanhas.

As competições equestres

Como bem descreveu o historiador Amjad M. Jaimoukha, os circassianos foram guerreiros nascidos no cavalo. E sempre foram famosos por suas habilidades equestres, que atingiu o seu apogeu na época dos lendários Narts. Tinham regras e códigos especiais e para coroar tudo, um deus, Zeik’wethe, designado como divindade evocado nas campanhas militares.

As competições equestres (Adigean) eram ocasiões para os heróis da aldeia mostrarem suas habilidades equestres. Cavaleiros intrépidos montavam em todas as posições: em pé ou agarrados ao lado do cavalo, em simulação de manobras de batalha.

Eles tinham a incrível habilidade de ficar sob a barriga do cavalo, a galope – uma manobra chamada ‘schinibech’epsh’ – com o intuito de confundir o inimigo. ‘Shurelhes’ – que significa montar-desmontar -, outra manobra em que um cavaleiro, a toda velocidade, salta e depois monta em seu cavalo, também fazia parte das apresentações.

Neste link – clique aqui – uma filmagem antiga (1965) de cavaleiros circassianos demonstrando suas habilidades.

Paulo Junqueira conta dessa cavalgada para quem busca conhecer a cultura equestre secular da Rússia e participar de aventura nas montanhas

Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br

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