Com toda a certeza, cavalgar em diferentes países é uma ótima oportunidade para conhecer a cultura local e as diferentes tradições equestres espalhadas pelo mundo.
Desse modo, em uma cavalgada fora de nosso país de origem, temos a chance de conhecer diferentes raças, outros estilos de equitação. Bem como aprender sobre as tradições, a cultura equestre local. E, assim, também conhecer e usar diferentes equipamentos de montaria.
Neste último quesito, a variedade de selas, estribos e freios é imensa. Assim, no texto de hoje escrevo sobre alguns estribos e selas que tive a oportunidade de usar pelo mundo afora. Desde estribos de ‘corda’ artesanais aos ricamente ornamentados. Típicos de cada região/país, a maioria com características únicas.
Estribos
As primeiras versões de estribos datam da Índia no Século 2 a.C. Originalmente feitos de fibra ou couro, eram apenas tiras simples, para colocar o dedão do pé. Somente no Século 8, os estribos chegaram à Europa e representaram o maior avanço na equitação de todos os tempos.
E como escreveu o grande mestre Bjark Rink, os estribos desempenharam um papel importante na expansão da civilização moderna. Eu tenho uma pequena coleção de selas e estribos que usei em diferentes cavalgadas ao redor do mundo, vou mostrar alguns deles.
Brasil
Na ilha do Marajó encontrei o estribo mais ‘curioso/diferente’ de nosso país. Ele é bem pequeno, para colocar somente o dedão do pé. Devo lembrar que na ilha, em boa parte do ano, o vaqueiro lida com os Búfalos na água. Por isso cavalgava descalço, sem botas.
Hoje em dia é mais difícil encontrar um vaqueiro que ainda use esse tipo de estribo. Mas, a maioria usa bota de borracha. A sela Marajoara também é bem peculiar, única no gênero. Fabricada em Soure, ‘capital’ da Ilha, com couro de Búfalo e madeira local.
Peru
A cavalgada que fiz no Vale Sagrado a caminho de Machu Picchu, com cavalos Paso Peruano, foi uma experiência inesquecível. Nela usamos a sela típica peruana, que é fruto de mais de 400 anos de tradição.
Primeiramente, foi moldada pela necessidade de conforto ao viajar longas distâncias e cruzar terrenos difíceis à cavalo. Aquelas usadas em desfiles são obras de arte com detalhes em prata. Levam, sobretudo, até um ano para serem feitas. Produzidas à mão e projetadas para distribuir o peso corporal por uma grande parte do dorso do cavalo, minimizando assim a tensão do cavalo e do cavaleiro.
Os estribos parecem uma caixa de madeira, são pesados e muito bonitos. Quando os espanhóis chegaram ao Peru não encontraram nenhuma fonte local de ferro para fazer estribos. Então, projetaram o estribo da caixa de madeira e o adornaram com prata.
Chile
Quando fiz a Travessia dos Andes, da Argentina ao Chile, a sela era de armação de madeira. Continha ainda várias peles de ovelha em camadas sobre o topo e estribos tipo gaiola de couro. Ao cruzar para o Chile trocamos de cavalos.
Os cavalos Argentinos não podem entrar no Chile. Os estribos das selas tradicionais chilenas são de madeira, muito bonitos, entalhados artesanalmente. Já vi em alguns lugares sendo usados como decoração.
Mongólia
Os mongóis cavalgam de pé nos estribos. As selas e estribos tradicionais são quase uma obra de arte. As selas são de madeira, bruta, cobertas somente tecidos decorativos. Sem condições para quem cavalga em nosso estilo, por isso usei uma sela de trilha.
Portugal
Eu já cavalguei em várias regiões de Portugal. Por exemplo, na região do Parque Peneda Geres, divisa com a Espanha; no litoral próximo a Lisboa; no Ribatejo e no Alentejo. Na maioria das cavalgadas usei as selas tradicionais portuguesas, originalmente concebidas para touradas e trabalho com o gado no campo.
O punho e a patilha altos oferecem segurança ao cavaleiro ao executar mudanças rápidas de direção e ritmo. Os estribos de madeira, em forma de caixa, são frequentemente adornados e gravados com o nome da Quinta ou Herdade.
Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
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