Na maioria dos países do mundo existem centenas de Parques Nacionais aonde se permitem cavalgadas. Ademais, organizadas obedecendo critérios que visam a proteção de seu ambiente.
Cavalgar em um Parque Nacional é uma experiência de contato com uma natureza diferenciada e preservada. Além disso, proporciona melhor consciência e compreensão de seus valores naturais e culturais, a conscientização da importância de preservar aquele local para que ele continue existindo.
A maioria dos Parques Nacionais que permitem cavalgadas tem um Código de Boas Práticas com orientações para minimizar os impactos sobre os valores naturais e culturais. Isso inclui garantir que os cavalos sigam por caminhos apropriados, geralmente em trilhas de manejo pré-estabelecidas.
Infelizmente o Brasil é um dos poucos países do mundo aonde ainda não se permite cavalgadas em Parques Nacionais/Unidades de Conservação. Desse modo, a ABTE – Associação Brasileira de Turismo Equestre vai apresentar ao ICMBio, responsável pela gestão das Unidades de Conservação federais, uma Proposta Técnica de Normatização de Turismo Equestre em Unidades de Conservação.
Vale ressaltar, entretanto, que a Proposta não contempla todos os Parques Nacionais. Somente aqueles que são adequados às atividades de turismo equestre. Espero que em breve seja possível cavalgar em Parques Nacionais no Brasil.
O Turismo Equestre em Unidades de Conservação contribuirá, sem dúvida, para o desenvolvimento sustentável dessas áreas e seu entorno. Eu já cavalguei em muitos Parques Nacionais ao redor do mundo, experiências inesquecíveis. Destaco alguns nas linhas a seguir.
Parque Nacional Nahuel Huapi – Bariloche – Argentina
Primeiro Parque Nacional da Argentina, o Nahuel Huapi tem a oeste uma cadeia de montanhas que separa a Argentina do Chile. Subimos até essa divisa, uma das cavalgadas mais bonitas que já fiz na vida. Uma vista espetacular para vários picos e vulcões no lado chileno. Ao mesmo tempo em que no lado argentino, o famoso Monte Tronador bem próximo.
Parque Nacional Los Glaciares – Calafate – Argentina
Localizado no sudoeste da Patagônia, também na fronteira com o Chile, o Los Glaciares abriga 47 geleiras, altas montanhas cobertas de neve, lagos, rios glaciais, florestas e estepes subantárticas. Fiz várias cavalgadas nesse parque em diferentes viagens. Assim, em cada uma explorei uma região e fica difícil dizer qual é mais espetacular. Mas arrisco dizer que a vista do Mirante do Glaciar Upsala é surreal.
Parque Nacional Lanin – Junin Los Andes – Argentina
Parque conhecido pelo vulcão Lanín, permanentemente nevado, pelo lago Huechulafquen e os bosques de árvores centenárias de grande porte. Nessa cavalgada percorri a cavalo a floresta mais bonita que conheci (Coihues, Lengas, Araucárias – que eles chamam de pehuén e cipreste patagônico). Essa foi uma viagem especial que organizei para uma filmagem com a EPTV Globo de Campinas. Os cavalos de nosso guia mapuche nos levaram a lugares incríveis.
Parque Nacional Los Cardones – Salta – Argentina
Los Cardones é uma das maiores reservas da Argentina. Nela cavalguei num mar de cactos da espécie cardón. Um cardón vive cerca de 400 anos e depois seca. Os moradores locais dizem que debaixo de cada cacto da espécie cardón existe um indígena enterrado.
Parque Nacional Cotopaxi – Equador
Primeiramente, o Cotopaxi é um dos vulcões ativos mais altos do mundo. A CNN Travel inclui essa cavalgada pela avenida dos vulcões como uma das melhores cavalgadas do mundo. Dessa forma, cavalgar na companhia dos chagras, que são os vaqueiros dos Andes Equatorianos, foi uma oportunidade para conhecer a cultura equestre dos altos campos andinos do Equador. Merece destaque a beleza cênica dos 11 vulcões que existem na Cordilheira.
Parque Nacional Bryce Canyon – Utah
Composto por uma coleção de gigantescos anfiteatros naturais, o Bryce Canyon foi formado pela erosão de rios e rochas sedimentares. É uma cavalgada em cenários de filmes do Velho Oeste.
Parque Nacional de Yellowstone – Wyoming
Primeiro Parque Nacional do mundo, essa foi a primeira viagem a cavalo que fiz fora do Brasil. O parque é enorme e muito diverso. Vi muitos animais, incluindo os bisões, muito interessantes, me lembraram dos filmes com índios.
Parque Nacional do Grand Canyon – Arizona
Cavalgar no maior cânion do mundo está na lista de desejos de muitos. Com toda a certeza, é uma cavalgada de tirar o fôlego. Desci com uma mula da empresa de Fred Harvey, que desde 1887 opera com mulas no parque. Na descida dá para observar as camadas de rocha revelando a linha do tempo da Terra.
Parque Nacional Hustai (ou Khustain Nuru) – Mongólia
A razão de minha visita ao parque foi para ver os cavalos Takhi (cavalos de Przewalski), reintroduzidos na região em 1990. Foi uma experiência incrível poder chegar perto (relativamente) deles e observá-los. Ademais, o cavalo de Przewalski é o único cavalo realmente selvagem do mundo (que nunca foi domesticado). A viagem a cavalo na Mongólia foi uma experiência de convivência com um povo que mantém suas tradições pastorais e cuja cultura está baseada em cavalos.
Parque Nacional de Göreme – Capadócia – Turquia
Cavalgada em uma paisagem espetacular, totalmente esculpida pela erosão. O vale de Göreme e seus arredores contêm santuários, moradias, aldeias e cidades subterrâneas, tudo escavado na rocha. A cavalo passamos por lugares que não estão em rotas turísticas. Essa cavalgada é, sobretudo, classificada pela National Geographic como Top Horseback Ride.
Parque Nacional da Peneda-Gerês – Portugal
Única área protegida portuguesa classificada como Parque Nacional. Antes de mais nada, nas vilas de seu entorno são preservados valores e tradições muito antigas. A principal razão de minha viagem até lá foi para cavalgar num Garrano e ver esses pequenos cavalos selvagens vivendo em liberdade pelo parque, convivendo com seu predador, o lobo ibérico. Montei num garanhão muito bom e durante a cavalgada tive oportunidade de encontrar gado da raça barrosã e os famosos cães de Castro Laboreiro.
Parque Nacional Hwange – Zimbábue
Esse parque deve entrar na lista de qualquer amante de safáris. Inegavelmente, ele tem uma das maiores diversidades de mamíferos dentre os parques nacionais do mundo, incluindo cerca de 50 mil elefantes. Bem como uma das maiores populações de cães selvagens (que estão ameaçados de extinção). Fiz essa viagem quando estavam organizando o primeiro safári a cavalo do parque, uma oportunidade de grande aprendizado.
Parque Nacional de Petra e Wadi Rum Area Protegida – Jordânia
Desde tempos imemoriais o povo nômade do deserto da Jordânia cria cavalos. Montando em cavalos árabes, explorei a antiga cidade nabateia de Petra, uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo, e o deserto de Wadi Rum, uma paisagem desértica impressionante. Dormindo em tendas de pêlo de cabra aprendi com meu guia sobre tradições beduínas. Além disso, a hospitalidade é uma das características mais marcadas deles. Acreditam que se tratarem bem alguém em sua tenda terão o mesmo tratamento quando forem fazer uma visita em outro acampamento. Não apenas um simples ato de educação, mas também de sobrevivência, pois sabem que as jornadas no deserto são difíceis.
Parque Natural de Maremma – Toscana – Itália
Região acidentada da Toscana, conhecida pelos cavaleiros/vaqueiros ‘butteri’ que ainda trabalham a terra como o fizeram por séculos. Em outras palavras, montando um cavalo Maremmano, raça nativa da região, percorri caminhos traçados pelos etruscos e romanos.
Parque Nacional Madonie e Parque Nacional do Etna – Sicília – Itália
Numa mesma viagem a cavalo visitei dois Parques Nacionais. Comecei pelo Madonie, aonde subimos montanhas com afloramentos rochosos que datam de milhões de anos. Nas partes mais altas, vistas espetaculares a perder de vista. O final da cavalgada foi na base do Etna, vulcão ativo mais alto da Europa e um dos vulcões mais ativos do planeta. Só para ilustrar, ele está em um estado de erupção quase contínua há meio milhão de anos. Explorar a área do Etna a cavalo revela, sem dúvida, uma história escrita na lava.
Parque Nacional de Camargue – Reserva Natural Nacional – Sítio RAMSAR – Patrimônio Europeu – Reserva da Biosfera da UNESCO – Provence – França
Meu principal objetivo nessa viagem foi conhecer a raça de cavalo Camargue ou Camarguês, nessa bela região aonde vive o famoso horseman Lorenzo. Considerada uma das raças mais antigas do mundo, durante séculos, o cavalo Camarguês viveu selvagem no ambiente hostil dos pântanos e nas zonas úmidas do delta do Ródano. Aqueles que os domesticam e trabalham na lida com o gado são conhecidos como Le Gardians. Esses vaqueiros são realmente seus ‘guardiões’, pois preservam a raça e suas tradições. Cavalguei alguns dias nessa bela região montando um Camarguês, acompanhando os ‘guardiões’. Foi mais um rico de aprendizado sobre tradições e cultura equestre.
Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
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