Safári no Zimbabue – parte 1

Paulo Junqueira conta nesse artigo uma aventura e tanto com direito a dados históricos, bat cave, cavalgadas em montanhas e cavalos

A antiga Rodésia foi colônia britânica até 1980. Até que, após cerca de 20 anos de guerra, conseguiu sua independência. Mudou o nome para Zimbábue, que no idioma Shona significa ‘casa de pedras’ ou ‘casas veneradas’.

Antes de mais nada, o país é famoso pelas Cataratas Vitória, considerada uma das maiores cachoeiras do mundo. São muito bonitas, mas nada que tire o brilho da nossa Cataratas do Iguaçu.

Então, desde a independência até 2017 quem governou o País foi Mungabe, ditador que o comandou de forma ruinosa. Em 2006, durante um encontro de operadores de cavalgadas na África do Sul, conheci o casal Varden, do Zimbábue, e recebi um convite para visitá-los.

Para a maioria das agências de viagens do mundo, o País não oferecia condições necessárias para uma viagem segura. Em março de 2009, com a adoção do dólar como moeda oficial, a situação começou a melhorar.

Decidi, portanto, aceitar o convite do James Varden para um safari piloto de exploração. Contudo, eles não operavam comercialmente ainda, estavam em fase de implantação e organizando o safari.

Fomos ao famoso Parque Nacional Hwange, que tem grande quantidade de animais. E, por ser muito pouco explorado, oferecia condições excepcionais para um safári a cavalo.

Cavalgada nas montanhas no Zimbábue

Antes de ir para o Hwange, programei com o James uma cavalgada nas montanhas do norte do Zimbábue. Da capital Harare seguimos direto para Mavhuradonha, um  lugar com água corrente no idioma Shona.

Antes de chegarmos ao Lodge, paramos na fazenda Siya Lima. Ela foi a maior da região, empregando 2.000 pessoas com grande produção de milho, porcos, tabaco e gado. Além disso, tinha cerca de 50 cavalos de Polo. Inclusive, abrigava um campo de polo cross, modalidade mais praticada no País na época.

A casa da fazenda, muito bonita, tinha um pavilhão de cocheiras bem interessante, com enorme pé direito. Como na maioria das fazendas, quem assumiu a propriedade foi algum parente ou apadrinhado do ditador e não agricultores.

O estado de abandono em que encontramos a fazenda foi triste de ver. Com toda a certeza, um bom exemplo do fracasso da reforma agrária realizada por lá.

Paulo Junqueira conta nesse artigo uma aventura e tanto com direito a dados históricos, bat cave, cavalgadas em montanhas do Zimbábue

Kopje Tops

No final do dia chegamos à Kopje Tops Lodge. Jantamos no topo de uma construção que, além de servir como área para refeições, também era um ótimo mirante. Ademais, estava em uma altura acima da copa das arvores, muito interessante e bonito.

A construção da Kopje Tops teve a família inglesa Carew à frente. Primeiramente, com a ideia de operar safaris a cavalo intercalados com alguns dias de jogo de polo. Localizada junto ao rio Tingua, tem várias cabanas construídas com paredes de pedra.

Devido aos problemas políticos e a reforma agrária de 2000 – reforma em que simplesmente o governo expropriou violentamente praticamente todas as fazendas do País – os Carew voltaram para a Inglaterra. Assim, os Varden assumiram o local que, com muita dificuldade vem tentando manter. Sem a atividade de polo.

Paulo ao lado do guia Nesbert

Mavhuradonha Wildness

Em seguida, na nossa programação uma cavalgada para uma parte da enorme área conhecida como Mavhuradonha Wildness – Comuniuty Áreas Managment Program For Indigenous Resources Area. Em outras palavras, um tipo de área destinada a preservação, com belas florestas e montanhas.

Meu cavalo, o Apache, um tordilho muito bom, ideal para aquela região montanhosa.

Não foi um safari aonde vimos quantidade de animais, pois além da vegetação alta e tipo de terreno, a área é muito grande (600 km2). Mas, com sorte, encontramos alguns que estão criticamente ameaçados de extinção.

Por ser uma área totalmente selvagem, sem estradas, nem trilhas, a única maneira de percorre-la é a cavalo. De tal forma que esse fato transformou o safari numa verdadeira aventura!

A noite, retornamos para o Lodge de pedras, que tinha um charme especial com sua iluminação a luz de velas. Não tinha energia elétrica no local.

Bat Caves

No último dia de safari, o guia Nesbert nos acompanhou. Um antigo policial das forças britânicas até a independência do Zimbábue. Ele conhece muito bem a região, seu povo e costumes.

Assim, saímos cedo com destino a Bat Caves. Situado acima das Cavernas de Morcegos do Rio Tingwa. Montamos um acampamento remoto em área totalmente selvagem. Enquanto levamos nossos suprimentos no cavalo de carga.

À noite, pudemos ver o voo dos morcegos egípcios de fruta. Eles vivem nessa enorme caverna, cujos números são estimados em cerca de 20.000. A maior colônia conhecida ao sul do Equador.

Paulo Junqueira conta nesse artigo uma aventura e tanto com direito a dados históricos, bat cave, cavalgadas em montanhas do Zimbábue
Bat Cave

James Varden

James Varden é conhecido como um dos melhores guias profissionais e operadores de safari da África. Desde muito jovem mostrou grande interesse e amor pela natureza. Desse modo, ao deixar a escola começou sua carreira de guia de safari no Parque Nacional de Hwange.

Ele guiou nos principais parques e áreas selvagens do Zimbábue, como Mana Pools, Hwange, Matusadona e o Baixo Zambeze. De fato, tem muita experiência e é particularmente especializado em pássaros, botânica e fotografia da vida selvagem.

Fazer o safari a cavalo com ele foi uma grande oportunidade em partilhar de seu conhecimento especializado. Janine esposa do James cresceu com cavalos na Austrália e trabalhou por muitos anos como Jillaroo* em uma fazenda de ovelhas e gado em Victoria. Logo depois, ela foi para o Werribee Open Range Zoo, em Melbourne, como tratadora especializada em mamíferos africanos.

Os cuidados e a manutenção dos cavalos são de sua responsabilidade. Janine também tem um grande interesse em questões de conservação e comunidade rural no Zimbábue.

*Jillaroo é o termo usado para designar as jovens que vão para propriedades rurais da Austrália a fim de aprender como trabalhar em uma fazenda de ovelhas ou gado. Então, as Jillaroo’s e os Jackaroo’s (termo masculino) recebem treinamento para serem versáteis. Por isso também os chamam de ‘auxiliares de estação’.

Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br

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