Há séculos, quando a China ainda nem havia erguido sua Muralha o povo da Mongólia já era nômade e passava seus dias a cavalo
Gelo e ossos pré-históricos em um deserto paradisíaco com dunas que chegam a 800 metros de altura, florestas e rios dentro de um Parque Nacional intocado, cavalos selvagens e um povo nômade como não existe mais em lugar nenhum do mundo. Tudo isso numa viagem aonde dormimos em acampamentos em que esse povo vive a centenas de anos. Uma Travessia na Mongólia é quase uma viagem através do tempo.
Segundo relatos chineses, que remontam a séculos antes de Cristo, a região correspondente à Mongólia atual foi ocupada por diversas tribos nômades. Os Hunos, que foram os maiores cavaleiros da historia, aparentemente migraram para oeste a partir das estepes da Mongólia. No final do século XII, um jovem chamado Temujin unificou algumas tribos mongóis e turcas, e depois de vencer varias batalhas, foi aclamado por todos os mongóis como Genghis Khan (poderoso governante) e a partir daí saiu com a maior cavalaria de todos os tempos, para conquistar parte do mundo.
A tradição equestre mongol é um patrimônio cultural vivo desde o tempo dos Hunos e Genghis Khan. Ainda hoje, os mongóis criam seus cavalos livremente em uma condição semi- selvagem, em grupos de éguas com um garanhão. A figura do cavalo é tão essencial na cultura do país, que ela é central também no seu sistema de crenças.
Boa parte do território do pais é ocupada por estepes e desertos. A Estepe do Gobi é o único remanescente de estepe intacto no mundo. Tendo mantido grande parte da sua milenar tradição nômade, a Mongólia é um dos únicos lugares do mundo aonde você pode interagir de verdade com povos nômades, com sua cultura única (centrada na vida de pastoreio), a paisagem agreste e a vida selvagem. Os pastores que representam quase metade da população do pais, levam uma vida semi- nômade, mudando os seus animais com as estações do ano como fizeram durante séculos.
Nossa cavalgada é uma experiência impressionante, o constante visual ‘vazio’ e a vastidão de horizonte completamente silencioso e sem árvores, completamente desprovido de cercas. Nenhum traço da atividade humana, exceto os pastores e seus rebanhos vagando na paisagem. Cavalgamos por zonas de transição do Gobi com estepes, semi estepes áridas, dunas e formações rochosas gigantes. Gobi no idioma mongol significa deserto é uma área totalmente inóspita e cobre um terço do pais. Trata-se de uma área de extremos em que no verão a temperatura chega a 40º e no inverno menos 40º.
Cavalgamos por duas áreas muito diferentes. Do nordeste de Ulaanbaatar para o deserto do norte, a primeira parte da viagem é sobre as estepes sem árvores e, em seguida, rumo ao norte, a segunda parte está no Gorkhi -Terelj National Park e Khenti Khan Zona de Proteção Especial, que é uma floresta de montanha. Passamos por montanhas, estepes, florestas e prados arborizados e campos ao longo dos rios. Em muitos trechos estamos refazendo os passos de Gengis Khan.
Na Mongólia existem milhares de camelos bactrianos (asiático) sendo que dois terços estão no Gobbi e muitos deles ainda são selvagens. Mesmo que lentos para nossos parâmetros equestres, cobrem 5 km por hora e sua capacidade de carga e resistência são incríveis. Carregam tranquilamente 250 kg e podem ficar uma semana sem água e um mês sem comida! (em compensação, um camelo sedento pode tomar 200 litros de água em um dia). No convívio com esse povo vamos poder entender a importância desses animais na vida deles. Junto com os cavalos, os camelos fazem parte da família. Deles vem a lã e o leite.
O contato com este povo muitas vezes se dá pela linguagem da mímica, mas para ter aulas de arquearia basta observar como lidam com o arco e a flecha. Tomar um tarãg, iogurte de leite de iaque, com nosso jolooch (guia), acompanhar as disputas festivas que envolvem arquearia e lutas tradicionais são só algumas das experiências inesquecíveis desta viagem.
Por Paulo Junqueira Arantes
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