Ela é apresentadora, jornalista, publicitária, miss em 28 ocasiões, se autointitula como desinflueciadora nas redes sociais e orgulhosamente é a primeira mulher comentarista de rodeio. Michelli Soares é várias mulheres em uma só e como ela mesma diz, o seu lugar é onde ela quiser. E foi com esse pensamento que o mundo dos concursos de beleza levou essa paulista de Matão para o universo dos rodeios de cavalos.
“Eu gostava, mas era uma coisa distante, não venho de família tradicional do meio, mas quando ganhei o Miss Rodeio Brasil durante a Festa de Barretos é que as coisas começaram a acontecer”, lembra ela, feliz por sua trajetória que agora será coroada com o papel mais importante de sua vida: o de mãe. “Quem me acompanha pelas redes sociais sabe o quanto batalhei por isso. Posso afirmar, de coração: estou vivendo um grande sonho”, vibra Michelli Soares que abriu seu coração de forma especial para o Portal Cavalus. Acompanhe.
Como você foi parar neste universo tão peculiar quanto os de rodeios?
Fui miss, comecei participar de concursos com 11 anos e parei aos 21 como Miss Rodeio Brasil. Este foi o meu 28º título, A partir dele, vim para o mundo dos rodeios. Acho que isso foi em 2006. Eu gostava, mas confesso que era algo bem distante, não venho de uma família tradicional deste meio. Mas foi nesse Miss Rodeio Brasil, em Barretos, que passei a ter mais contato com os profissionais. Na época, eu apresentava o programa ‘Astros do Rodeio’, na Band, junto à Janaína Barros, onde mostrávamos a rotina de artistas e dos profissionais de rodeios.
E se tornar apresentadora foi natural?
O José Wilson Freire que tinha um campeonato chamado Top Team Cup, viu uma mulher nos EUA fazendo entrevistas e achou que aquilo poderia dar certo aqui no Brasil. Então, entrei de vez para este mundo. Deu match! (risos)
E como a sua família lidou com a sua entrada neste meio?
Evidentemente, eles se assustaram um pouco. Fui fazer reportagem no fundo do brete. Os peões também se assustaram, pois nunca tinham visto uma mulher, que também foi miss, maquiada e de salto alto no fundo do brete. Viram o meu profissionalismo e quando perceberam que estava ali para contar a história deles, tudo ficou mais fácil. Confesso que sofri um pouco no começo, porém as coisas fluíram e depois até mesmo a família, esposas e filhos dos competidores se sentiram mais à vontade.
Podemos dizer que você foi pioneira, certo?
Fui a primeira mulher a fazer isso junto à Tânia Celeguini que era a apresentadora da TV Rodeio. Fiquei muitos anos no Top Tean, tendo contato com diversas modalidades, embora ainda não tivesse com o Team Penning, algo que só agora é que comecei a ter. Na época tinha Cutiano, Sela Americana, Bareback e o Bulldog, ou seja, o rodeio tradicional mesmo. Aprendi muito, trabalhei com muitos profissionais, os melhores.
Você tem noção de quantos rodeios você participou ao longo destes anos?
Muitos, mas não tenho esse número preciso. Eu lembro que fui trabalhar como repórter de fundo de brete e decidi fazer faculdade. Tenho orgulho em dizer que sou jornalista e publicitária com diploma. Eu quis estudar. Enfrentei desafios para isso, entre eles, o professor que tinha asco por rodeios. Por ironia do destino, as aulas dele eram justamente às sextas, dia que eu faltava por estar trabalhando. Quase bombei no período, mas ele foi legal e entendeu a minha situação.
Comprovando ser uma mulher multimídia, você também foi pra rádio. Como foi isso?
Durante a pandemia, recebi uma proposta para trabalhar na Rádio Massa, que também transmitia pelo Youtube. Lá, eu aprendi a controlar a mesa. Fazia tudo isso. Foi muito bom ter esse contato com este veículo que tem grande penetração no público do cavalo.
E como surgiu a Michelli Soares comentarista de rodeios? Com certeza ela carrega muita coisa de todas essas experiências.
Sem dúvidas. Bom, eu era repórter ao lado do Esnar Ribeiro e certo dia, o comentarista não apareceu no rodeio em Goiânia. Decidiram que eu poderia fazer e lá fui eu, na cara e coragem. Foi no susto. Era pra ser apenas um dia e passei a fazer todos os finais de semana. Nunca sonhei com isso, as coisas foram acontecendo naturalmente. Daquele dia em diante virei a Michelli Soares comentarista e saiu a frase “lugar de mulher é onde ela quiser”. Quando virei comentarista, levei muita pedrada, mas já tinha a técnica e entendia.
E como você se sente neste papel de desbravadora nesse meio?
É muita responsabilidade, mas me alegra saber que sou referência e espero que eu tenha facilitado o caminho para outras comunicadoras. Acredito que hoje está mais fácil, embora ainda exista preconceito neste universo. Tenho carinho, respeito e educação por todos, mas também sei me impor quando preciso.
Como você está atualmente neste âmbito profissional?
Hoje sou apresentadora em Barretos e Jaguariúna, ao lado do Ney Macedo, que é uma fonte de conhecimento. O rodeio e, também, as mulheres, devem muito a ele. Eu trabalho muito e tenho o privilégio de ter o meu marido junto. Ele abandonou a vida dele para viver a minha. Temos uma rotina cheia. Dentro do rodeio, eu atuo como comentarista, apresentadora e ainda trabalho na Copa Truck. Ainda estou em um projeto novo como repórter no Velocidade na Terra (VNT) Brasil, composto por auto cross e kart cross. Ah, eu também trabalho com rede social, divulgando empresas. Ufa! (risos)
Pois é, como é esse trabalho como influenciadora digital?
É um marketing influencer, na verdade. Mas não me apego a esse título. Eu já tive depressão por ficar comparando a minha vida com a dos outros na internet, e sei que isso não existe. Não há vida perfeita. Por isso, eu mostro a minha realidade do jeito que ela é mesmo, de cara lavada, quando necessário. Tem pessoas que você nunca viu sem filtro, sem maquiagem, mas a gente tem que se mostrar, sim. Às vezes, encontro algumas pessoas pelas ruas e elas me reconhecem de todas as formas, porque eu me mostro maquiada, mas também descabelada. Por essas e outras eu sou a desinfluenciadora.
Aliás, como é a sua rotina no dia a dia?
Aí que está, não tenho rotina de casa (risos). Passo meses fora, viajamos muito, mas temos planos de ter filhos. Tive uma gestação, perdi o bebê, mas estamos tentando de novo e se Deus quiser logo vem aí. Por isso sempre falo que lugar de mulher é onde ela quiser: se quer ser mãe, dona de casa ou viver na estrada, está tudo certo. Já levei muita pedrada por ser mulher e ser comentarista de rodeio e sei que quando for mãe também levarei muitas outras. Nós que sabemos da nossa vida, ninguém tem direito de julgar. Sempre quis fortalecer a mulher dentro do rodeio e isso não é ser feminista, é apenas unir em uma área que antes era dominada por homens. Precisamos ir em busca de nossos sonhos.
O que você mais gosta dentro do universo dos cavalos, Michelli Soares?
Dentro da comunicação, recebi o convite para participar do Thirty Champion, este foi o maior contato com o cavalo. Estou aprendendo muita coisa. Também acho o Team Penning muito familiar, aconchegante, bem legal. É diferente do rodeio, que também é muito bom. Eu falo que trata-se de uma nova experiência que vem para crescer, somar e valorizar os profissionais.
Qual a história mais inusitada nessa trajetória?
Foi no rodeio de Barretos, quando temos 11 dias de trabalho bem puxados. Na ocasião, o então presidente, Jair Bolsonaro, ia passar lá às 16h e o diretor disse que iríamos abrir o sinal para o Youtube. Fiquei atenta e deixei de ir ao banheiro aguardando o sinal. Porém, ele chegou somente às 21h e eu acabei fazendo xixi na calça. Foi constrangedor, mas pela comunicação, está tudo certo. Está vendo como eu não tenho problemas em falar dos perrengues? (risos)
Michelli Soares, e as novidades para a próxima temporada?
A maior novidade é que estou grávida! Sim, estou pronta para o meu melhor papel: ser mãe. Estou muito feliz.
Por Wesley Vieira/Portal Cavalus
Com a colaboração de Adriane Passos
Fotos: Divulgação/Michelli Soares
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