Ao mergulharmos nos 50 anos de trajetória do Rancho Quarto de Milha, situado nas margens da Rodovia Assis Chateaubriand em Presidente Prudente/SP, nada melhor do que ouvir a história sendo contada por alguém que viveu e fez parte dela. A Revista Roper’s Sports conversou com Renato de Jesus Souza Silva, conhecido como Renato do Rancho, uma figura emblemática cuja vida se entrelaçou com a saga deste icônico local, tornando-se um capítulo essencial da sua narrativa.
Desde os seus 17 anos, quando iniciou sua jornada no Sindicato Rural de Presidente Prudente, Renato esteve imerso nos eventos que marcaram a região, incluindo a Exposição de Animais. Seu envolvimento com o Rancho Quarto de Milha foi quase um chamado do destino, como ele mesmo descreve. Desde então, se envolveu com o desenvolvimento do Rancho, testemunhando e participando ativamente de sua evolução.
Renato nos leva em uma viagem ao passado, recordando os primórdios das competições de rodeio e das primeiras incursões do Quarto de Milha no Brasil. Ele destaca o papel pioneiro do Rancho na promoção e difusão da raça, especialmente no contexto do trabalho com gado, moldando assim a identidade e o legado do Quarto de Milha no país.
Além disso, Renato compartilha suas memórias mais marcantes, desde a criação de clubes de laço até as emocionantes demonstrações pelo Brasil afora. Sua amizade com figuras como o lendário laçador Lucinei Nunes Nogueira, conhecido como Testa, e suas reflexões sobre o papel do Rancho Quarto de Milha no cenário atual das competições equestres revelam não apenas um profundo conhecimento, mas também um vínculo afetivo com essa história.
Rancho Quarto de Milha e os seus 50 anos
A entrevista oferece um olhar privilegiado sobre os bastidores do Rancho Quarto de Milha, sua importância na região de Presidente Prudente e seu impacto no mundo equestre brasileiro. Nesta entrevista especial, Renato do Rancho nos presenteia com suas memórias, sua sabedoria e sua paixão pela história que ajudou a construir. Confira a primeira parte desta entrevista:
RR – Como foi sua experiência ao fazer parte do Rancho Quarto de Milha desde sua fundação e acompanhar seu desenvolvimento ao longo dos anos?
Renato do Ranho: Nunca fui fazendeiro ou criador de cavalos, mas o destino me ligou ao Rancho desde a sua fundação. Ainda hoje chamado por pelo menos duas gerações do agronegócio como o “Renato do Rancho”, hoje com 66 anos, desde jovem tive ligação com a agropecuária regional, fazendo parte de vários momentos do seu desenvolvimento e, principalmente, da história do Rancho Quarto de Milha e da própria história da raça Quarto de Milha no Brasil.
Aos 17 anos, em 1974, comecei a trabalhar no Sindicato Rural de Presidente Prudente e como este, através da Sociedade Rural do Sudoeste Paulista, organizava anualmente a Exposição de Animais de Presidente Prudente, que chegou a ser a segunda mais importante do país, eu ajudava no escritório e também na inscrição das provas do rodeio.
Na época o rodeio consistia apenas em montaria em cavalos, sendo a montaria em touros apenas uma “brincadeira” iniciante, com o animal sendo amarrado num mourão e solto depois de montado. Mas com isso, o Rodeio da Expo-Prudente foi pioneiro na modalidade em todo o país, além de lançar o rodeio estilo texano, através do empresário Jorge dos Santos, que também lançou na locução o que viria a ser o nome mais famoso do rodeio brasileiro, o “Zé do Prado”.
Naquela época, além das montarias, no rodeio tinha também provas de Laço Comprido, Baliza e Tambor, onde nestas se destacavam os peões das fazendas da Swift King Ranch, com seus cavalos Quarto de Milha, novidade que surgia no Brasil, que venciam praticamente todas as competições.
Tanto que um grupo de criadores de Presidente Prudente e região se apaixonou pela nova raça e iniciou também suas criações, através principalmente da que viria a ser a principal linhagem do Quarto de Milha no país, a marca SKR (Swift King Ranch), que passou a ser referência nacional do cavalo de trabalho.
Quis a vida e o destino que eu entrasse também nessa história, pois quando o Domingos de Souza Medeiros (Dimanche) levou o esboço dos estatutos do então embrião do Rancho, o Clube de Adestramento do Cavalo Rural para datilografar, coube-me fazê-lo.
A minha relação com os cavaleiros prudentinos do novo clube equestre continuou nas atividades da Expo-Prudente, sendo que um dia, em 1979, o Geraldo Ribeiro de Souza foi ao Sindicato Rural e me convidou, então com 22 anos, para ser gerente do escritório do Rancho, então efetivado como Sociedade de Adestramento do Cavalo Rural.
Essa parceria inicial durou 11 anos, de 1979 a 1989, cuidando da parte administrativa e também das promoções e eventos do clube.
A diretoria do Rancho me dava liberdade para empreender, para não ficar apenas nas lidas burocráticas, pelo que pude oferecer também sugestões de atividades e projetos para o clube. Com isso, acompanhando a equipe de cavaleiros do Rancho Quarto de Milha nas demonstrações da raça, ajudei a organizar os primeiros Clubes de Laço da Alta Sorocabana, Alta Paulista, Norte do Paraná e do Mato Grosso do Sul, bem como os primeiros Campeonatos do Cavalo de Trabalho dessas regiões.
Fui um dos organizadores do 1º Campeonato Nacional de Team Roping (Laço em Dupla) e do Circuito Regional de Conformação e Trabalho, dentre outras provas pioneiras.
RR – Como você descreveria a importância do Rancho Quarto de Milha na história e na promoção da raça no Brasil, especialmente na região de Presidente Prudente?
Renato do Rancho: O Rancho foi quem difundiu pelo país o Quarto de Milha como o verdadeiro cavalo de trabalho. Na época a ABQM priorizava o Quarto de Milha de Conformação e Corrida, então com as provas iniciais de baliza, tambor e posteriormente com Laço de Bezerros e Laço em Dupla, o Rancho foi consolidando o Quarto de Milha como o verdadeiro cavalo para lida com gado, para o trabalho nas fazendas. Foi o Rancho que popularizou o laço de bezerros estilo americano, bem como o Team Roping (Laço em Duplas) dos quais foi pioneiro no aperfeiçoamento e desenvolvimento, recebendo, com apoio da ABQM, os primeiros cursos de juízes americanos dessas modalidades.
A partir de apoio na criação e organização dos primeiros clubes de laço na região de Presidente Prudente, as provas funcionais do Quarto de Milha se espalharam pela Alta Sorocabana, Alta Paulista, norte do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul e com os primeiros leilões da SKR e do Rancho a criação do Quarto de Milha se difundiu nessa região, chegando Presidente Prudente na época ser chamada de “Capital Nacional do Quarto de Milha”, pois centralizava em cerca de 200 kms ao seu redor a maior região de cavalos do País, concentrando nesta região dois terços da criação nacional.
Não perca a segunda parte desta entrevista, aqui no Portal Cavalus, na próxima terça-feira (25/06).
Por Natália de Oliveira/Revista Roper’s Sports
Fotos: Arquivo pessoal/Renato do Rancho
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