Nesta coluna, o chileno que estuda o comportamento animal em diversos ambientes e situações, conta sobre a sua dedicação ao livro que está escrevendo
Quando a equipe do Portal Cavalus e da Editora Passos me pediu para que eu falasse sobre o meu livro na hora eu topei. É isso que venho desenvolvendo há um ano e adoro falar sobre ele. Mas é bom alertar a todos que não é um livro sobre minhas técnicas de gestão comportamental. Para esse assunto, é melhor assistir a vídeos ou participar de cursos.
O livro está sendo formatado para falar de ideias, conceitos, crenças e histórias. E o projeto nasceu em um momento de desencantamento. Eu estive no Brasil por meses na minha segunda temporada. E olhei de fora, com perspectiva, para tudo o que estava acontecendo em relação às disputas legais entre organizações de animais e o mundo equestre.
Julgamentos foram, julgamentos vieram. Provas cancelados alguns dias antes de começar. Mudanças repentinas de local para outras cidades com lacunas legais. E uma quantidade de reais gastos com advogados e preparação de novas pistas.
Independente do modo pelo qual essas organizações de animais fazem seus pedidos, que na sua forma eu não compartilho, é evidente que a sociedade está exigindo que evoluamos, e eles estão em seus direitos. Mas, acima de tudo, que nós tenhamos argumentos em vez de nos ofender ou nos colocar na defensiva. É preciso assumir a liderança e avançar para fazer essas mudanças, ao invés de reagir.
Na Noruega, o chicote nas corridas é proibido. Na Aleamania e no Chile já é permitido em cavalos de corrida ‘bitless’ (sem embocadura). Na França, onde estou baseado no momento, eles já estão entendendo o jogo, mudando ou morrendo. Nós latinos sempre esperamos que europeus e americanos nos mostrem o caminho e dêem os primeiros passos, mas pode ser tarde demais até lá. Temos todas as ferramentas para fazer isso sozinhos.
Se apenas um terço do que foi gasto com advogados e formas de evitar cancelamentos em 2018 tivesse sido usado para criar sistemas para melhorar o manejo de cavalos, o problema teria sido resolvido e de forma definitiva. E o mundo do cavalo seria observado com admiração, atraindo mais público e investimento.
Neste caso, e em outros, nasce meu livro. No qual desenvolvo um conceito que chamo de ‘compassionship’. É um convite para evoluir e refletir, com um olhar futuro, com uma perspectiva compassiva, para que o nosso mundo dos cavalos não desapareça …
Por Ishbak Ari Shehadeh Vergara
Etologista equino e estudioso do comportamento animal