A domesticação dos burros

Há indícios que a domesticação dos burros africanos ocorreu mais de cinco mil anos a.C.

A domesticação dos burros estaria relacionada com os processos agrícolas. Quando ocorreu, transformou antigas sociedades pastorais e estados antigos.

Os burros são animais resistentes ao deserto. Sua capacidade de transportar cargas pesadas em terras áridas permitiu aos pastores movimentarem-se mais longe e com mais freqüência. Enquanto transportavam os seus agregados familiares com os seus rebanhos.

A domesticação do burro também permitiu a redistribuição alimentar em larga escala no nascente estado egípcio e expandiu o comércio terrestre na África e na Ásia ocidental.

A hipótese da utilização dos burros (Equushemionus ou Equusasinus) está no aproveitamento do tempo. Com a agricultura percebeu-se que não bastava domesticar os alimentos e animais, mas também a natureza.

Conhecimento sobre a natureza era fundamental para o sucesso na colheita. Para isso, dominar o tempo garantiria a sobrevivência das espécies humanas e animais.

A utilização dos burros ocupava um tempo onde bois destinavam a ruminação dos alimentos. Ora bois são animais ruminantes e necessitam de um tempo para isso.

Mas a agricultura não podia esperar o boi, tampouco o humano podia mudar a natureza dos bois. Os burros entram na história da agricultura como ferramenta de compensação dos bois enquanto estes ruminam.

A domesticação dos burros

Figura

Na figura acima, a parte (A) mostra a localização de sítios arqueológicos. Os gráficos de ‘pizza’ são proporcionais ao número total de amostras que fornecem dados de DNA compatíveis com a determinação do sexo, espécie e status do híbrido.

Os nomes e faixas temporais (anos atrás) dos locais onde híbridos e espécies não-caballinas poderiam ser geneticamente identificados são indicados.

Na parte (B), vê-se a distribuição temporal de espécimes antigos. Oito indivíduos mostrando determinação de idade incerta não estão incluídos. Fonte: Ludovic et al (2019).

Fundamentos

O fundamento desta hipótese esta nos escritos arcaicos. Muitos estudiosos citam Xenofonte (1893) como primeiro e um dos principais autores sobre equitação. Obviamente tem sua contribuição, contudo, ele mesmo cita e se referencia a pessoa de Simon (Simão de Atenas, séc. V a.C.).

Os estudiosos da equitação indicam a obra ‘The artofhorsemanship’ de Xenofonte – escrita entre 431 a.C. a 354 a.C. -, como uma obra fundamental para as escolas de equitação.

De fato esta obra tem sua importância, mas não se trata da primeira obra sobre a importância dos equinos para os humanos.

Pode-se considerar a primeira obra técnica sobre equitação, mas não sobre os cavalos. Outras obras indicam a relação dos humanos com os equinos, revelando a gênese da relação humano/eqüinos. E, para nosso propósito, indicando sobre a domesticação dos equinos.

A domesticação dos burros

Objetivo

O que estamos buscando neste artigo é amarrar a história da equitação para entender como e porque chegamos ao contexto atual.

Compreender a história é fundamental para entender o presente. Certamente, uma das formas de entender a história é pela história contada, aquela dita de geração para geração.

Mas há problemas neste método. Pode haver invenções ou mal entendidos, como numa brincadeira de telefone sem-fio.

Um dos métodos recorrentes é a analise documental, aquela escrita que não se apagou. Portanto, temos uma história que começa há 3500 anos, quando a escrita hierógrafa tem início, justamente na mesma região que temos como hipótese o início da domesticação dos equinos.

Referências

As primeiras referências aos equinos são de três mil a.C., encontradas em textos sumérios. Distinguiam-se os médicos que tratam os humanos dos médicos que tratam os animais. Assim sendo, eram conhecidos como o médico de bois ou o doutor dos burros. Mencionados, apenas, nos textos léxicos.

Outro dado importante é a da impossibilidade destes médicos veterinários tivessem conhecimento sobre as patologias dos cavalos. Pois estes eram em número muito limitado na Mesopotâmia, sendo o cavalo considerado um animal estrangeiro. Somente no segundo milênio a.C. é que o cavalo se torna uma presença comum na Mesopotâmia antiga.

Mostrando a importância dos burros para a cultura da época, encontramos no próprio Código de Hamurabi, do século 18 a.C., leis para ações referentes aos bois e burros.

224º – Se o médico dos bois e dos burros trata um boi ou um burro de uma grave ferida e o animal se restabelece, o proprietário deverá dar ao médico, em pagamento, um sexto de siclo.

225º – Se ele trata um boi ou burro de uma grave ferida e o mata, deverá dar um quarto de seu preço ao proprietário.

244º – Se alguém aluga um boi e um burro e no campo um leão os mata, isto prejudica o seu proprietário.

Todavia, conforme exposto acima não podemos ter uma data e região exata do início da domesticação dos equinos, tem-se indícios da utilização como ferramenta de trabalho.

Outra dúvida é sobre a domesticação de um animal dócil para o trabalho ou sendo para a montaria.

Desde o puxar, passando para o charretear até montar no cavalo, pode ter sido um salto de milhares de anos.

Por Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Mestre em Psicologia Social – PUC/SP

Fontes

The Relationship between Medical and Veterinary Surgeons from Sumer to the Present; African Origins of the Domestic Donkey; The Origins of Equine Medicine; Ancient DNA from Nubian and Somali wild ass provides insights into donkey ancestry and domestication; The sumerians: their history, culture, and character; Tracking five millennia of horse management with extensive ancient genome time series; Todo o Poder Emana do Cavalo: a origem e força das cavalarias, uma história nunca contada; Domestication of the donkey: Timing, processes, and indicators; The art of horsemanship.

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