O crescimento e a evolução do esporte na cidade se deu com o empenho dos criadores em incentivar, especialmente, crianças e jovens
A modalidade Três Tambores foi apresentada ao Brasil pela Swift King Ranch, na década de 70. A SKR foi responsável pela introdução do Quarto de Milha no Brasil. Em uma apresentação de versatilidade da raça, algumas modalidades foram demonstradas, entre elas: Três Tambores, Seis Balizas e o Laço.
Rapidamente elas ganharam espaço. Os Três Tambores, muito forte em Bauru e região e o Laço em Presidente Prudente, onde se concentravam grandes fazendeiros. Heraldo Araújo Pessoa foi um dos percursores para alavancar os esportes equestres e tudo começou nas Seis Balizas e nos Três Tambores.
“Os Três Tambores cresceu junto com Laço, não precisava de nada excepcional para fazer a prova e montar a pista. Hoje é bem diferente, porque tudo evoluiu. Bauru despontou nos Três Tambores e nas Seis Balizas. Focou nessas modalidades e daqui saíram bons animais e competidores”, expôs dr Heraldo.
As pessoas começaram a se envolver com o cavalo e com o esporte pelos filhos. Eles os motivavam e ali viam uma maneira saudável de criá-los. A família e as crianças eram o foco principal de encontros aos domingos no Recinto Mello Moraes.
Pessoas importantes que fizeram parte da história dos Três Tambores e, de Bauru em especial, quando foi fundado o Clube do Laço: Marcos Ferraz, Heraldo Araujo Pessoa, Fauzet Farha, Salvador de Almeida, Dr. Jacinto, Erico Braga, Francisco Bertolani.
Clube do Laço de Bauru
Em 1975 foi fundado o Clube do Laço de Bauru, que teve uma grande representatividade na época, participando com sua equipe dos eventos da ABQM. A ideia do Clube foi do criador Marcos Ferraz, como conta seu filho Rogério.
“Eu laçava na fazenda, um dia precisou de bezerro para uma prova no recinto e o Érico tinha os bezerros. Ele emprestou, mas nem sabia nada do esporte. Se aventurou, laçou um bezerro e gostou. E a partir daí meu pai e ele tiveram a ideia de um domingo por mês fazer uma provinha. Era mais uma reunião, em que cada um levava uma coisa. E assim formou-se o Clube do Laço, que tinha Tambor, Baliza e Laço”.
Érico Braga lembra bem desse dia, pois ali foi onde tudo começou. “Emprestei os bezerros e quem apartava era o Jairo. Caí na ‘besteira’ de tentar laçar um bezerro e consegui. A partir daí me aproximei do Fauzet, do Dr. Heraldo, do Marcos Ferraz e da molecada. Na época, o Paulo Farha tinha dez anos e fiquei nesse meio. Gostava de laçar, ia uma ou duas vezes por semana lá no Marcos Ferraz laçar, conviver com os meninos. Sempre gostei de participar das provas de Tambor e Baliza. História de 45 anos atrás!”, recorda.
Fauzet Farha, proprietário da Fazenda Caruana, conta que naquela época ele e o Marcos Ferraz levavam os tambores, cronômetro para fazer as provas nas exposições. “No início foi Três Tambores. Eu e o Marcos fomos parceiros em tudo, carregávamos as nossas caminhonetes com os tambores e íamos para o Recinto em Bauru. Levávamos a churrasqueira junto também, a família, e as crianças brincavam”.
Paulo Farha recorda bem desse período. “Começamos a fazer uma brincadeira no recinto de exposições, a gente ia lá todo sábado ou uma vez por mês. Geralmente no último sábado tinha medalha e virava uma competição. Éramos todos moleques, de 5, 6, 7 anos”.
Para Haroldo Pessoa Sobrinho, o impulsionamento de tudo foram os filhos. “Era muito mais família, hobby, diversão do que é hoje. Empenho de fazer com que os filhos se envolvessem foi determinante. O Quarto de Milha tem várias modalidades, mas todo mundo começou na Baliza e no Tambor. Eu acho que isso daí foi o principal. Havia o contato dos pais com os filhos, eles faziam tudo acontecer!”.
Outra pessoa que todos conhecemos e que também participou de tudo diretamente nessa época é Marcio Tolentino, do Haras ST. Ele e os filhos Ana Luiza e Eduardo. “No início do Tambor a nossa principal função era ser pai. E para implantar o esporte com as crianças, montávamos pista, éramos juízes, locutores, cronometristas e ensinávamos as crianças a montar. A importância da criança nessa história é grande, porque a prova começou com elas, os jovens e amadores”.
Quando o filho Franco foi convidado para competir, Francisco Bertolani acabou se inserindo no esporte. Ele era da turma que atuava em todas as funções para ver os filhos na pista. “Quem julgava eram os pais, eles que analisavam equipamentos e cuidavam da criançada. Começamos a dividir as funções para melhor rendimento. Então colocamos juiz principal, de equipamento, e um juiz que ficava fora da pista no treinamento”.
Em 1989, Dr Marcio propôs um desafio aos pais, do qual ele se recorda com um largo sorriso. Inverteram os papeis: os pais foram competir e os filhos atuaram como juízes. “Essa foi a primeira prova de Máster do Brasil, fomos em nove pais, eu fui o campeão. Confesso que sacaneei eles um pouco, pois já estava treinando para não fazer feio. Aí quando cheguei e propus o desafio todos aceitaram, mas tinha os que nem montavam”.
Um casal bastante querido, Emílio e Nilda Fanton, também já eram bem envolvidos e fizeram parte do Clube do Laço com os filhos Ricardo e Adriana. “As mães vestiam a camisa, literalmente, da equipe. Torcíamos a cada passada deles, era um momento único. Nessa época já tinham as competições da ABQM, então viajávamos com a equipe do Clube do Laço para competir, as crianças adoravam”, recorda D. Nilda.
O filho Ricardo também se lembra dessa época. “Iniciei nas competições em Bauru, em 1981, aos quatro anos de idade. Passei por todas as fases de evolução do processo, observado que o princípio da família era sempre mantido. E assim perpetuou-se o ambiente agradável e familiar. Todos são uma única família, ao menos fora das pistas!”.
Evolução
O Recinto Mello Moraes abriu espaço para a escolinha de treinadores. O primeiro treinador foi Luiz Carlos Alves Moreira, mais conhecido com Lu Moreira, filho de um grande homem do cavalo, Benedito Moreira, ou Seu Dito.
Como conta Cesar Augusto Machado, do Haras Canarim, que começou lá. “Comecei a montar com uns oito anos de idade. Em 1984 meu pai comprou o haras e comecei a fazer Tambor com meu primeiro treinador, o Lu Moreira. Montava um cavalo chamado Leo Paco Shady. Também fiz Laço por dois anos, laçava bezerro e cheguei a ser reservado campeão Nacional”.
Na década de 90 começaram a surgir as Associações e Núcleos que fomentavam os Três Tambores, as Seis Balizas e até os Cinco Tambores na região. Era uma nova era no esporte que começava. Nesse período já tinha a fotocélula, implementada por Francisco Bertolani.
“O mais impressionante que fizemos foi introduzir a fotocélula elétrica, que naquela época não era, as provas eram todas no cronômetro manual. Cinco pais que ficavam com os cronômetros e no final somávamos tudo e tirávamos a média. Ou descartávamos dois tempos mais altos e os dois mais baixos, ficando com o tempo médio para ser o oficial”, recorda Bertolani.
A Associação Paulista do Cavalo de Trabalho – APCT, que tinha a frente Robinson Belé, Ruy Abdo, entre outros, tinha um campeonato composto por quatro etapas, no Recinto Mello Moraes.
Outra que teve papel importante foi a Associação Nacional de Baliza e Tambor – ANBT, encabeçada por criadores: Mauro Dias, Paulo Farha, Regis Fratti, entre outros, que deram um grande ‘boom’ nos esportes com a criação do Ability. E em 1996 foi criado o NBQM, que tinha como foco incentivar as crianças e os amadores, iniciantes no esporte. E também tomou uma grande proporção, estando até hoje em atividade, completando 23 anos.
Bauru hoje detém os quatro melhores competidores de Três Tambores do Brasil, o melhor reprodutor, reprodutora, criadores, égua recordista de tempo no esporte e uma história que é a base de tudo que se tornou!
Por Verônica Formigoni
Especial Bauru – Revista Tambor & Baliza – Edição 83
Fotos: Cedidas