As provas equestres, de velocidade ou não, oferecem algum risco de acidentes aos cavaleiros e cavalos?
O uso do capacete deveria ser obrigatório de uma forma geral nas modalidades Western? Outra pergunta! E aí, qual a sua opinião? Fomos falar com algumas pessoas sobre o assunto, pois um acidente agora em outubro, durante um treino para a prova de Três Tambores em Londrina/PR, levou uma menina ao hospital.
Natália Schneider. Foto: CedidaNatália Schneider Vargas, de 13 anos, menor tempo da modalidade no Nacional em julho, se preparava, em um treino pago, para competir na Jovem Principiante 12-14 anos na Copa dos Campeões. Quando caiu do cavalo na pista que aquecimento e ficou seriamente machucada. Teve um coágulo na cabeça, além de duas fraturas, precisou ser operada e ficou internada. Está tudo bem com Natália, mas o fato reacendeu uma questão: o uso do capacete.
Segundo o regulamento da ABQM, associação que temos mais proximidade e que realizava a prova citada acima, o uso obrigatório do capacete está em dois momentos principais: quando se refere a modalidade Vaquejada, tornando obrigatório o uso à dupla; e quando fala sobre a divisão de categorias por idade, onde todas as categorias com subdivisão inferior a 11 anos – Jovem A e Mirim, têm a obrigação de usar.
“Para a prática de qualquer esporte que envolva risco físico, seja ele a cavalo ou não, é necessário o uso de equipamentos de segurança. Por exemplo, no motocross, motovelocidade e salto, o uso do capacete é obrigatório como item de segurança. E a exigência de equipamentos de segurança não deveria mudar em relação a esportes equestres”, analisa Aluísio Marins, Médico Veterinário e reitor da UC, instruindo cavaleiros a mais de 20 anos.
Ainda que exista o argumento de que modalidades Western possuem toda uma cultura ao seu redor e que é difícil mudar uma cultura, ele complementa: “Se usarmos esse argumento, basta criamos regras e segui-las. O Adestramento Clássico, por exemplo, que é uma modalidade que existe há séculos, nunca exigiu capacete. Porém, agora a Federação Equestre Internacional está mudando essa regra e passando a exigir o uso desse equipamento. Será que a cultura é mais importante que a possibilidade de um acidente dentro da pista?”, questiona.
O uso do capacete deveria ser obrigatório de uma forma geral nas modalidades Western?“Às vezes, vemos acidentes nos Três Tambores ocasionados por baixa qualidade de equitação, onde as pessoas ficam muito mais suscetíveis ao perigo se não estiverem com equipamento de segurança. Não estou defendendo uma posição ou outra, apenas justificando o resultado, que mostra que as pessoas se importam com o quesito segurança”.
Aluísio relembra ainda que o Clássico de uma forma geral usa capacetes em suas modalidades, mas no Western não temos essa cultura. E que essa cultura vem de um trabalho de cavalos que atuavam em velocidades mais lentas, galopes mais curtos. “É uma realidade, tradicionalmente falando, mais lenta do que a de hoje. Houve uma evolução genética, de treinamento, as tentativas de recordes sendo batidos. E isso fez com o que o Quarto de Milha se tornasse extremamente mais ágil e rápido do que a própria história dele anos atrás”.
Charlotte Dujardin,do Adestramento.
Foto: Richard Juilliart
Talvez, usar o capacete só para competir, pensando em tudo pelo viés do esporte, seja algo cada vez mais necessário, “especialmente para as categorias de amadores, ou até 18 anos”, reforça a Aluísio. No entanto, especialmente após o acidente de dias atrás, treinadores experientes estão começando a pensar no assunto, visando a sua própria segurança, pois há fatores que não podem ser controlados pelo cavaleiro.
Como André Coelho. Ganhador de inúmeras provas importantes, com experiência internacional, ele está pensando em passar a competir de capacete. “Eu acho importantíssimo. Devia ser regra só correr com capacete, pelo menos as categorias até 18 anos. Para as demais, corre quem tiver consciência e quem quiser. Já faz uns quatro meses que estou pensando nisso, e agora é bem possível que eu comece a usar sim”, contou o treinador de Três Tambores.
Martha Herweg, 26 anos, competidora há mais de 15 anos e administradora do Haras Agae, também caiu em Londrina, durante uma passada nas Seis Balizas: “No meu caso, eu tive sorte de não ter batido de cabeça, mas se eu tivesse teria feito um baita estrago. Nesse momento, como não bati a cabeça, o capacete não teria feito a diferença, mas eu acho extremamente válido o uso do capacete”.
Inclusive, ela já vinha pensando em começar a correr de capacete. “Há alguns meses eu venho pensando, o meu acidente só reforçou essa ideia. Eu e o André Coelho estamos pensando em começar a competir de capacete de verdade. Não só pelo que aconteceu em Londrina. Em Maringá eu quase bati a cabeça em um incidente fora da pista. Acho que estou abusando muito do meu anjo da guarda (risos)”.
André Coelho. Foto: Beto NegrãoAluísio pontua ainda que em torno de toda essa questão pode ser interessante haver um trabalho para estimular as pessoas a usarem o capacete apenas no momento da prova. “É algo que estará gerando segurança e mercado também. De repente, a ABQM pode homologar um capacete, um treinador pode colocar a assinatura dele em um capacete, e surgirá então um mercado em torno da segurança”.
Nos Estados Unidos, a competidora Fallon Taylor encabeça esse movimento. Em 2009, ela quebrou a vértebra C-2 em um acidente com cavalo que a afastou por algum tempo das arenas e colocou seus planos futuros no esporte em dúvida.
“Não foi uma recuperação rápida. Demorei cerca de um ano e meio para voltar a ser competitiva novamente. Mas fiquei feliz quando tomei a decisão de voltar às pistas e correr atrás de tudo novamente. É legal ter uma segunda chance”. Quando voltou a competir, ela passou a usar somente capacetes, criando inclusive uma linha com a sua marca.
Fallon TaylorOutra pessoa, que do alto de seus 59 anos de idade e sete campeonatos mundiais no Team Roping, com 26 qualificações para a NFR, passou a usar capacete é Jake Barnes. Em 2015, dias antes da Finals, Jake sofreu um acidente sério durante os treinos. Uma lesão cerebral grave e também quebrou o tornozelo, quando seu cavalo caiu sobre ele. Sua esposa relatou que a queda provou hemorragias e hematomas no cérebro.
Em novembro de 2017, nós, Portal Cavalus, fizemos uma enquete sobre esse assunto. 48% das pessoas que responderam à pesquisa disse que sim, o uso de capacete deveria ser obrigatório para todos dos cavaleiros. Ainda segundo a interação dos nossos leitores: 12% disse que não, não deve ser obrigatório para todos; 26% acha que deve ser obrigatório somente para os menores de 12 anos; 9%, obrigatório somente para os menores de 16 anos; e 5%, obrigatório somente para os menores de 18 anos.
Kaique Pacheco, líder do mundial da PBR, montando de capaceteSaindo um pouco dos esportes westerns e indo para um mais radical, a Montaria em Touros, para usar como exemplo uma regra da Professional Bull Riders: Implantada em 2013, a regra diz que todos os atletas nascidos depois de 1994 são obrigados a montar de capacete. Essa data não muda, então a cada ano mais competidores são obrigados a usar. Com o tempo, o número de competidores sem capacete irá diminuir.
Na Montaria em Touros o assunto vai mais além. De acordo com pesquisadores norte-americanos, o competidor Ty Pozzobon, que morreu em janeiro de 2017, foi o primeiro caso de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) entre atletas de rodeio. A doença, que ficou popularmente conhecida como ‘demência pugilistica’ por ter sido diagnosticada primeiramente em lutadores de boxe, tem 90% de seus casos registrados em atletas que praticam esportes com grande ocorrência de traumas na cabeça.
Enquanto outros expoentes do Quarto Milha também conversam sobre ao assunto, deixamos a questão para você: o uso de capacete em provas equestres deve ser obrigatório ou não?
Por Luciana Omena
Colaboração: Verônica Formigoni, Aluísio Marins, Abner Henrique