O treinador e juiz all-around bate um papo com a nossa reportagem e conta tudo a respeito da profissão e sua trajetória
Entre os muitos personagens a serem captados durante o 40º Potro do Futuro, 13ª Copa dos Campeões, 5º Derby e 2º Juvenil da raça Quarto de Milha em Araçatuba/SP, Allen Mitchels foi um deles.
Muito conhecido dos brasileiros, pois vem ao Brasil desde os anos 90 julgar provas da ABQM, o simpático juiz conversou com a reportagem do portal Cavalus. Falou, principalmente, a respeito da Conformação.
Mas contou também um pouco da sua trajetória. Confira!
Como você começou no meio equestre:
Allen: Cresci com cavalos, pois meu pai sempre criou. Tínhamos uma égua campeã na AQHA e um cavalo campeão. Então acabamos produzindo um campeão de Apartação e comecei a ajudar meu pai na criação. Tudo que aprendi foi com meu pai.
Qual a sua formação?
Allen: Sempre fui treinador de cavalos. Montei animais para várias modalidades, no entanto me identifico mais com Rédeas e Apartação. Nos tempos de hoje me dedico mais a Apartação.
Como foi sua trajetória até se tornar um juiz. Você sempre teve um envolvimento muito grande em importantes associações, correto?
Allen: Primeiro, fui juiz da Apartação pela NCHA. Precisava ter no mínimo 25 anos, mas como conhecia muita gente, me indicaram para ganhar o cartão e poder ser um juiz oficial. Eu já julgava informalmente provas de Apartação e sabia as regras, tinha 19 anos. Por ter conhecimento, conquistei o cartão de juiz NCHA ainda novo.
Ao passo que, como apresentei muitos anos cavalos de Rédeas, com alguns títulos no currículo, posteriormente, quando parei de atuar como treinador, fui convidado pela NRHA para ser juiz da associação de Rédeas também.
Até que a AQHA apareceu no meu caminho. Tive incentivo de amigos e entrei, da mesma forma, para julgar provas da AQHA. Mas esse demorou mais, pois tive que me aperfeiçoar em todas as modalidades e poder passar na prova.
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São poucos os juízes certificados para julgar todas as modalidades, não é mesmo?
Allen: Sim! Eu posso julgar pela NRCHA, de Working Cow Horse, pela NCHA, de Apartação, pela NRHA, de Rédeas, pela AQHA, que engloba diversas modalidades, como essas já citadas e outras como Laço e Conformação, por exemplo. Também posso julgar provas específicas para cavalos jovens que usam bridão, tanto em Working Cow Horse como em Rédeas.
De todas as modalidades que julga, qual você entende que exija um maior grau de atenção dos juízes?
Allen: O que toma mais atenção, que é muito difícil, é a Apartação. Você nunca sabe o que vai acontecer. Gosto de julgar Apartação, apesar de ficar um pouco tenso. Mas, essa adrenalina é boa!
A segunda modalidade em grau de dificuldade para o juiz é o Laço, por conta da velocidade. Tudo acontece muito rápido e a atenção tem que ser precisa. No entanto, diferente da Rédeas, onde é as manobras são previamente determinadas pelo percurso . Sabemos que depois do spin vem círculo, troca de mão, esbarro, rollback, etc.
Contudo, quando se tem cavalos habilidosos em pista, mesmo com toda a adrenalina, o julgamento flui. Gosto muito de Apartação e Rédeas por conta disso.
Nessa oportunidade aqui no Brasil, você julgou Conformação. Uma modalidade importante pela base morfológica da raça. Qual é o principal ponto a ser levado em conta nesse julgamento?
Allen: Em primeiro lugar, o balanceamento, o equilíbrio entre as partes do cavalo, pescoço, dorso, lombo, posterior. Em segundo lugar, a estrutura, o esqueleto do cavalo. Em terceiro lugar, características faciais. E em quarto lugar, musculatura. São esses pontos que observamos e que estão no livro de regras de Conformação.
A pista, na Conformação, se é de grama ou coberta, influencia na apresentação dos cavalos?
Allen: Só para ilustrar, em Rédeas, Apartação, Working Cow Horse, cada uma tem a necessidade de um solo. No entanto, na Conformação a pista não pode ser muito rasa, muito dura, porque o cavalo pode mostrar manqueira; ao mesmo tempo que não pode ser muito funda, senão o cavalo não consegue parar direito. O ideal é uma pista que tenha de cinco a dez centímetros de areia, que não seja dura e que o apresentador consiga manter o animal em posição.
Ainda falando em Conformação, podemos tocar no ponto da continuidade do uso do animal, se ele vai ter uma funcionalidade.
Allen: O meio equestre se especializou muito de forma geral. O cavalo de Apartação tem hoje uma estatura menor, mas é ágil, capaz de fazer tudo que ele deve fazer; o de Rédeas passou a ser selecionado morfologicamente para que tenha facilidade de colocar o posterior no chão e levantar o pescoço para parar; contudo, na Conformação via-se muito a musculatura do cavalo e foi perdendo a funcionalidade.
Portanto, hoje estão tentando trazer a funcionalidade de volta para os cavalos de Conformação. Tenho amigos que estão fazendo isso nos Estados Unidos. Aproveitando a morfologia para encaixar em algumas modalidades. No entanto, acredito que isso demore um pouco, pois os criatórios estão muito especializados, cada um focado na sua modalidade.
No entanto, acho importante preservar a forma e a função. Vi aqui no Brasil nessa prova animais com prumos muito bons, osso forte, que talvez pudessem ser montados.
Pegando esse gancho, de que tudo está bastante especializado, como encontrar uma forma de dar funcionalidade aos cavalos de Conformação? Em virtude da necessidade, por exemplo, a conformação do animal de Três Tambores mudou com o tempo.
Allen: Tudo deve ser levado em consideração. Dentro dessas especificações que existem para cada modalidade, os melhores cavalos de melhor morfologia são os de Corrida e Laço. São bem balanceados, bem equilibrados, para desempenhar as funções que lhe competem e suportar toda carga.
Então, se ele não tiver uma morfologia muito boa de aparelho locomotor, não agüenta. Ao passo que sua parte muscoesquelética precisa ser forte também, senão não agüenta. Portanto, dentro das especializações, na minha opinião, os cavalos de Corrida e Laço são o que têm uma melhor morfologia.
Levando em conta o que viu nesse evento, o que pode deixar de dica para os competidores melhorarem as apresentações?
Allen: Já vim ao Brasil outras vezes – desde os ano 90 – e observo que, por exemplo, na Apartação melhorou bastante o momento de amansar o gado. É um trabalho complexo, das primeiras vezes que julguei, eles não entendiam bem essa parte. Mas melhorou muito.
A tropa de uma forma geral melhorou muito. O Brasil tem cavalos de nível internacional. Não só na Apartação, mas em todas as modalidades. Vi isso em todas as provas que julguei e nas que não julguei também, já que assisti ao Laço.
Fica difícil dar um conselho, porque acho que os brasileiros estão no caminho certo.
Você gosta de vir para ao Brasil?
Allen: Adoro o Brasil por causa dos cavalos, por causa das pessoas, por causa da comida, por causa da cerveja. Enfim, gosto de tudo, principalmente das pessoas!
Por Verônica Formigoni
Tradução: Ary Rosa Casimiro Filho
Colaboração: Analucia Araújo
Fotos: Cedidas