Estudo foi realizado por pesquisadores brasileiros de várias instituições científicas
Um estudo brasileiro apontou que o soros produzidos por cavalos para o tratamento da Covid-19 têm, em alguns casos, até 100 vezes mais potência que o vírus. Isso com relação a potencia em termos de anticorpos de cavalos neutralizantes do vírus gerador da doença.
Em antemão, a informação foi dada à Agência Brasil pelo coordenador do projeto, Jerson Lima Silva, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sobretudo, ele relata os trabalhos iniciados em maio deste ano por pesquisadores brasileiros de várias instituições científicas.
A princípio, o projeto visava obter gamaglobulina purificada, material biológico mais elaborado do que soros antiofídicos e antitetânicos. Esse soro é chamado hiperimune ou gamaglobulina hiperimune porque os pesquisadores inocularam o antígeno, durante três semanas, nos plasmas de cinco cavalos do Instituto Vital Brazil (IVB).
Dessa forma, os animais foram inoculados com a proteína S recombinante do novo coronavírus. Assim, após 70 dias, os plasmas dos equinos apresentaram anticorpos de cavalos neutralizantes 20 a 100 vezes mais potentes contra o novo coronavírus do que os plasmas de pessoas que tiveram Covid-19 e estão em convalescência.
Patente
Os resultados positivos levaram ao pedido de patente relativo ao processo de produção do soro anti-covid-19. Isso a partir de: a glicoproteína da espícula (coroa) do vírus com todos os domínios; preparação do antígeno; hiperimunização dos equinos; produção do plasma hiperimune; produção do concentrado de anticorpos de cavalos específicos e do produto finalizado; após a sua purificação por filtração esterilizante; e clarificação, envase e formulação final.
Além disso, Jerson Lima Silva afirmou que o resultado da inoculação nos cavalos foi uma grande surpresa para os pesquisadores. “Os animais nos deram uma resposta impressionante de produção de anticorpos. Inoculamos em cinco e agora estamos expandindo para mais cavalos”.
Nesse sentido, quatro dos cinco equinos responderam muito rapidamente. “O quinto (animal), assim como acontece nos humanos, teve uma resposta mais demorada, mas também respondeu produzindo anticorpos”.
Os estudos comprovaram que o soro produzido por cavalos para tratamento da Covid-19 é superior ao feito com plasma de doentes convalescentes.
“Portanto, a gente vê que o nosso anticorpo do cavalo, em alguns casos, é próximo de 100 vezes mais alto. Entre 50 e 100 vezes”. Isso significa que os anticorpos produzidos pelos animais neutralizam o vírus da Covid-19 com até 100 vezes mais potência, mesmo quando a gente vai para a preparação final dos soros”.
Complementaridade
O coordenador do projeto explicou que outra vantagem do estudo é que ele é complementar às possibilidades de vacinas contra o vírus, cuja maioria se baseia na proteína da coroa.
Sendo assim, a ideia é que o soro produzido a partir dos plasmas dos equinos inoculados seja usado como tratamento, por meio de uma imunoterapia, ou imunização passiva. A vacina seria complementar.
Após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o grupo de pesquisadores vai iniciar os testes clínicos.
Estes com foco, aliás, nos pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 que estejam internados, mas não se encontram em unidades de terapia intensiva.
Sobretudo, os testes vão comparar quem recebeu o tratamento com quem não recebeu. “A gente está bem otimista. Mas essa é uma etapa que tem de ser feita”, disse Silva.
Ele informou que pretende firmar parcerias com outros laboratórios semelhantes que produzem soro no Brasil, localizados em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, “porque será preciso muito material”.
O estudo indica que enquanto não há vacinas aprovadas e diante da dificuldade em atender à grande demanda em todo o mundo, o uso potencial da imunização passiva por terapia com soro deve ser considerado uma opção.
A soroterapia é um tratamento bem-sucedido e usado, há décadas, contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos, como aranha e escorpiões.
Por fim, vale falar que os soros produzidos pelo IVB têm excelente resultado de uso clínico, sem histórico de hipersensibilidade ou quaisquer outras eventuais reações adversas.
Fonte: Agência Brasil
Crédito da foto: Divulgação/Instituto Vital Brazil
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