Cavalo, o melhor amigo do homem

Marcelo Pardini comenta em sua coluna da semana sobre como, ao lidar com os equinos, especialmente nas provas hípicas, a criança aprende sobre compreensão, respeito, derrotas e vitórias, trabalhando a aceitação e a humildade

Considero-me privilegiado, pois fui apresentado ao universo do cavalo desde quando ainda usava fraldas. Mesmo morando em São Paulo, o idílio rural da minha família sempre foi o sítio Outeiro de São Raphael, em Botucatu/SP. Lá, em 1989, meus pais, o nefropediatra Dr. João Tomás de Abreu Carvalhaes e a veterinária Dra. Teresa Maria Pardini, fundaram o Haras MRM, nome em alusão às iniciais dos filhos – Mariana, Rafael e Marcelo.

Temos fotos e vídeos memoráveis… Doces lembranças! Eu, no colo do meu pai, em cima da minha primeira paixão equestre: um Mangalarga, cujo nome fazia menção à sua pelagem, ‘Pampa’. Meu irmão, logo após um tombo, com o bracinho engessado, ainda assim conduzindo com alegria o ‘Vermelho’. E a minha irmã, com o seu garboso ‘Preto’.

Depois vieram o ‘Chuvisco’, o ‘General’ (este, meu parceiro até o final de sua vida, aos 33 anos de idade) e vários outros amigos de quatro patas. Só mais tarde optamos pela criação das raças Appaloosa e Quarto de Milha, uma vez que eu e meus irmãos passamos a competir em alto nível técnico nas provas equestres.

Assim, percorremos o Brasil inteiro, com até nove cavalos no caminhão. E participávamos das modalidades Baliza, Tambor, Rédeas, Western Pleasure, Laço em Dupla. Fomos Campeões Paulistas, Nacionais e Panamericanos! Uma alegria só!

Tais reminiscências vieram em minha mente, pois levei a minha filha, Maria Júlia, até o Haras Lagoinha, em Jacareí, cidade do Vale do Paraíba, que há quatro anos tão bem me acolheu. Lá, fui acompanhado da minha esposa, Louisy, e da anfitriã, Marisa Iório, e de sua competente equipe, representada na ocasião por Sueli Linces, Luis Antonio Haddad e Iolanda Fuentes.

Vale dizer que o Haddad estava com a esposa, Fernanda, e os filhos, Maria Fernanda, Maria Eduarda e Luiz Fernando, uma meninada alto astral, bem educada, responsável e, sobretudo, que ama os animais.

A nenê adorou os cavalos, logo se acalmando defronte à baia da craque Hípica do PEC, logo após a esperada excitação inicial. Não obstante, o treinador Haddad puxou a Formosa do PEC, égua de excelente temperamento de sela. Coloquei a minha menininha alguns minutos em cima dela, a pelo mesmo, tempo suficiente para eu agradecer a Deus por ter o privilégio de apresentar à minha cria, ainda de fraldas, a força, a beleza, a docilidade e o companheirismo do equino.

melhor amigo do homem: Marcelo Pardini que na ligação com o cavalo a criança aprende sobre compreensão, respeito, derrotas e vitórias

“Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou. É nosso dever protegê-los e promover o seu bem-estar”, ensinou Madre Teresa de Calcutá, religiosa católica de origem albanesa, naturalizada indiana, um ser de pura luz.

“A compaixão para com os animais é uma das mais nobres virtudes da natureza humana”, definiu Charles Darwin, o famoso naturalista britânico.

Sempre ressalto que o cavalo é o melhor amigo do homem (mais sincero até mesmo do que o cachorro). Quando não gosta de você, ele murcha a orelha, dá um chega para lá com a cabeça e até manda o pé. Mas se gosta, aquele ser enorme, de 500 e tantos quilos, torna-se um parceiro fiel, entregando-se totalmente à relação, pronto para ficar ao seu lado sob qualquer condição.

Como sei disso? Há centenas de anos o homem aprendeu a se comunicar de diversas formas com os equinos, seja por gestos, sons, sinais… E tal relação só faz evoluir. Engana-se quem pensa que o mercado equestre é excludente, sendo dominado por abastados.

Pelo contrário, a base do setor é preenchida por pequenos empresários e profissionais liberais, cuja maioria é proveniente dos centros urbanos. O motivo do envolvimento? O amor pelos animais! Isso tudo sem falar na Equoterapia, trabalho que tem o cavalo como agente principal no tratamento de distúrbios e doenças do homem.

Em termos de contextualização, a indústria do cavalo cresceu quase 12% ao ano na última década. Em 2006, o faturamento foi da ordem de R$ 7,5 bilhões e, em 2016, saltou para R$ 16 bilhões. A Equinocultura já é maior do que diversas indústrias primárias, como Feijão, Trigo, Laranja e Algodão.

O setor emprega 600.000 pessoas diretamente e mais de 3.000.000 indiretamente. De acordo com dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem 5,5 milhões de equinos no Brasil (quarto maior plantel do mundo), atrás somente de Estados Unidos (9,5 milhões); China (6,8 milhões), e México (6,3 milhões). Logo, trata-se de um segmento que merece mais atenção do poder público.

O cavalo é tão nobre que une peão e patrão, sem fazer qualquer distinção. Mais do que falar sobre dados estatísticos e números econômicos, ressalto que o meio equestre é o melhor formador de caráter para as crianças.

Nas provas, a meninada lida com pessoas de diferentes credos e classes: aprende sobre compreensão e respeito. Nos torneios, o jovem lida com derrotas e vitórias, trabalha a aceitação e a humildade. E, sobretudo, reconhece limites, os próprios e os do seu amado companheiro de quatro patas.

“Cercado pelos elementos que conspiram para sua ruína e por animais cuja velocidade e força superam as suas, o homem teria sido um escravo sobre a Terra. O cavalo fez dele um Rei”, Ephrem Houël.

Por Marcelo Pardini – narrador, poeta, jornalista, pós-graduado em Marketing e leiloeiro rural; titular da marca Agro MP – A voz do Agronegócio.
E-mail: contato@agromp.com.br | Instagram: agromp.marcelopardini
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal

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