A colunista do portal Cavalus, Claudia Ono explica que é preciso ter cuidado na hora de usar embocaduras para melhorar a performance de seus cavalos. Leia e entenda!
A embocadura foi criada há cerca de quatro mil anos. Mas quais são os efeitos de ferramentas da idade antiga sobre a qualidade de vida de nossos cavalos? Os cavalos não podem respirar com a boca aberta, você sabia?
De fato, os proprietários querem sempre melhorar a performance de seus cavalos. Muitas vezes a embocadura é vista como uma grande aliada para que tudo fique mais fácil. Mas a maioria deles ainda conhece pouco a respeito dos cavalos.
Pesquisadores na Nova Zelândia dizem que a embocadura que usamos pode afetar não só a capacidade de respiração do cavalo, mas também a sua sensação de falta de ar. De maneira idêntica, a forma como montamos. E isso poderia comprometer saúde, desempenho e bem-estar.
‘Mouth-gaping causado por um pouco de dor pode colocar a boca, língua e garganta do cavalo em posições que tornam difícil para ele respirar’. É o que diz David J. Mellor, BSc (Hons), PhD, HonAssocRCVS, ONZM. E ainda professor de ciência do bem-estar animal e diretor da fundação do Animal Welfare Science and Bioethics Centre da Universidade, de Massey, em Palmerston, Nova Zelândia.
Respirar pelo nariz
‘O cavalo é um respirador nasal obrigatório’. Dessa forma, afirma Mellor, ele só pode respirar pelo nariz e não pela boca. “Portanto, quaisquer fatores que interfiram nisso, especialmente quando a respiração está próxima dos níveis máximos durante o exercício mais forte, irão prejudicar o desempenho atlético”.
Quando o cavalo está com a boca totalmente fechada ele pode, ao engolir, criar e manter uma pressão negativa na parte de trás da boca (na orofaringe).É o mantém o palato mole na raiz da língua. Assim sendo, evita que ele possa obstruir parcialmente o fluxo de ar durante a inspiração e expiração.
Em conclusão, de acordo com Mellor, remover a embocadura poderia ‘abrir passagens’, por assim dizer, para uma respiração mais confortável para o cavalo. “Quando um cavalo usa um freio que o incomoda ele está constantemente abrindo a boca. Mesmo que apenas uma fresta. E a pressão negativa sobre o palato não pode ser mantida. Então, o palato mole fica abaloado e obstrui a via aérea acima dele”.
Em muitos casos de cavalos que abrem a boca o treinador opta por colocar um ‘fechador’ de boca. Em contrapartida, é algo que mostra que ele desconhece completamente a natureza equina. Não sabe que esse artifício impede que o cavalo mantenha a pressão sobre o palato e acaba piorando os efeitos da falta de ar. Sem contar o estresse causado pela sensação de sufocamento que essa ferramenta causa.
Detalhes da respiração
Ngaio J. Beausoleil, Bacharel em Biologia, delineou os detalhes fisiológicos e biomecânicos da respiração equina em sua recente revisão sobre o tema.
Ademais, ele ainda é PGCertSci (Fisiologia), PhD, vice-diretores do Animal Welfare Science and Bioethics Centre da Universidade de Massey. E, por conseqüência, descreveu a probabilidade de um cavalo experimentar três sensações desagradáveis de falta de ar como reconhecidas em humanos:
– Esforço respiratório desagradável – Os músculos respiratórios trabalham mais para tentar atender às demandas em condições comprometidas (obstrução);
– Fome de ar – A sensação sufocante sentida após suspender a respiração por um longo tempo, por exemplo;
– Aperto do peito – Constrição da via aérea que leva a uma sensação de pressão apertada nos pulmões (como em pacientes com asma equina).
Conforme Mellor e Beausoleil, alguns ou todos esses sentimentos podem ocorrer quando a necessidade de respirar supera a capacidade do corpo de responder a essa necessidade.
O uso do freio de um cavaleiro pode afetar muito o equilíbrio respiratório de um cavalo. Por exemplo, ao andar com a rédea exercendo pressão constante ‘travando’ a posição da cabeça e do pescoço. Mellor ainda comenta: “A cabeça flexionada para baixo causa obstrução do trato respiratório superior, e isso muitas vezes compromete a respiração”.
Efeito
Acima de tudo, este efeito pode ser intensificado pelo uso da embocadura (ao contrário de usar um bitless bridle). Embora, acrescente Mellor, a pesquisa ainda tem que ser realizada sobre esta teoria
“A razão não é a obstrução da peça de metal diretamente. O problema é a obstrução causada pela reação do cavalo à embocadura. Momentos de boca aberta para escapar da pressão do bit e rolar sua língua para empurrar contra o bit muitas vezes impede a respiração, tornando-a mais difícil e desagradável”.
Sobretudo, Mellor ainda comenta que a indústria equestre já reconhece as questões de desempenho relacionadas à respiração com dificuldade. Entretanto, ela ainda não leva em conta as implicações de bem-estar do cavalo.
Muitos problemas respiratórios que levam à intolerância ao exercício em atletas de elite são conhecidos e só recebem atenção porque os cavalos têm o desempenho comprometido. Mas essa atenção normalmente se resume a mudar o design do freio, usar laços de língua, embocaduras projetadas para evitar que a língua role e outras tentativas de minimizar o problema.
Existem estudos e pesquisas sendo realizadas e que já mostram as vantagens de cavalos bitless sobre os cavalos que usam embocadura. Todavia, esse é um assunto para uma próxima matéria.
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Fotos: Cedidas
Fonte: O estudo ‘Equine Welfare during Exercise: An Evaluation of Breathing, Breathlessness and Bridles’, publicado na Animals