A arte, desenvoltura e destreza dos donos do martelo nos leilões encanta a todos e desperta o interesse de muitos que gostariam de se tornar um leiloeiro profissional.
Entretanto, assim como em todas as profissões, o início não é nada fácil. Entrar neste mercado e se consolidar exige tempo, paciência, dedicação e muito estudo.
Conversamos com dois leiloeiros profissionais Agnaldo Agostinho, com quase 30 anos de experiência no mercado, e Éder Nogueira que acabou de iniciar na atividade para contar como foram seus inícios na carreira, conselhos para quem está começando e vivências no meio.
De contador a leiloeiro de sucesso
Agnaldo Agostinho, grande leiloeiro profissional, conhecido por todos do meio, já está no mercado há quase 30 anos. Quem vê sua destreza e desenvoltura do palco nem imagina como foi seu início na profissão.
O que muita gente não sabe é que Agnaldo na verdade é técnico em contabilidade e atuava no setor de consórcios.
Nascido em Araçatuba/SP, em uma família muito pobre, não tinha nenhum contato com o meio rural.
Em 1994, após muitos anos no mercado de consórcios, Agnaldo se viu desempregado. Sua esposa estava grávida de seu filho Mateus e ele precisava voltar urgentemente ao mercado de trabalho.
Foi quando uma amiga lhe ofereceu uma vaga de captador de leilão. “Eu não conhecia nada de leilão, de gado, nada. Só sabia que existia o gado por causa da vaca branca da Mococa. Ela me explicou como seria o processo e eu aceitei”, relembra.
Agnaldo Agostinho passou a ligar para uma lista de interessados em vender gados para saber quais animais teriam interesse em vender. Depois, passou a ligar para quem gostaria de comprar convidando para o leilão e oferecendo os animais da lista anterior, e assim, passou a atuar como captador.
Dias depois chegou o leilão que atuou e ele se encantou com o leiloeiro. “Quando eu o vi pensei: é isso que eu quero ser!”, relembra.
Início no gado de corte
Agnaldo começou a atuar com leilão de gado de corte, leiteiro e raças europeias, quando, em 2000, o Canal do Boi foi para a sua região e ele, como era o leiloeiro da cidade, foi chamado para atuar nos leilões do canal.
Agnaldo não queria apenas vender o gado, queria fazer algo diferenciado. “Eu queria discutir sobre a raça e não apenas vender e comecei a levar especialistas técnicos da Embrapa, USP para participar dos leilões e falar sobre os animais”.
Isso o fez se destacar no mercado e, após um ano, foi chamado para fazer parte da equipe do canal e passou a morar em Campo Grande/MS.
Do teatro para os leilões
O que muita gente nem imagina é que Agnaldo já fez teatro, já cantou na noite e administrou um Karaokê. “Sempre soube que minha voz era um instrumento que eu podia trabalhar com ela” relembra.
O que ele não imaginava é que todas essas experiências seriam muito importantes para sua desenvoltura nos palcos. “Eu me sentia tranquilo no palco, pois estava interpretando, fazendo um personagem que era um leiloeiro”.
Grude em quem sabe mais que você
Para conhecer mais do meio rural, Agnaldo passou a seguir o chefe de manejo Cesar para aprender tudo sobre o universo rural. Ele era do meio coorporativo, andava todo engomado, com camisa alinhada, sapato e calça social.
“Quando Cesar me viu, ele morreu de ir e gritou: ‘Este cara nunca vai dar certo!’. Perguntei o porquê e ele disse que nem roupa de leiloeiro eu tinha. ‘Joga fora este sapato e bota uma botina nos pés!’ E foi o que eu fiz”, relembra.
No começo, Agnaldo usava camisa e calça social para apresentar os leilões
Agnaldo passou a seguir Cesar por todos os lugares, acompanhando ele nos trabalhos da fazenda. “Acompanhava a equipe capando boi, vacinando, trocando o gado de pasto, e passei a escutar o jeito peculiar que eles conversavam, os sotaques, a ginga, os trejeitos, uma maneira toda maliciosa de ficar tirando sarro um do outro, desafiando. Eu ficava encantado com tudo aquilo, e passei a falar como eles nos palcos”, conta Agnaldo.
Este foi o maior acerto da carreira de Agnaldo, pois ele passou a se diferenciar juntamente pelos trejeitos e maneira de falar nos palcos. “O maior erro das pessoas é seguir os donos, o povo do dinheiro e com isso se afastar da mangueira. É lá, na lida, no barro, que você vai aprender como é a profissão”, aconselha.
Leilão do Ministro
Certa vez, o ex-Ministro da Agricultura Antônio Cabrera Mano Filho assistiu a um leilão de Agnaldo no Canal do Boi e o chamou para fazer um leilão. “Ele era desligado da pecuária e queria fazer um leilão de equitação e não queria ir atrás de grandes leiloeiras, ele queria o apresentador do canal do boi que ele viu, que por sorte era eu”.
O leilão foi um sucesso e explodiu no Brasil inteiro. “Teve congestionamento de ligações, Deputados e Senadores prestigiaram o leilão, pois o cara era o Ministro da Agricultura e passei a ser conhecido”, aponta.
Importância da TV
Naquela época, a internet não tinha a força que tem hoje e estar na televisão era o grande auge na vida de um leiloeiro. “Uma vez fui fazer um leilão em Rio Branco, no Acre e o cara estava na porta de sua propriedade me esperando. Quando me viu, gritou ‘Agnaldo que bom ter você aqui!’ Me assustei, caramba, este cara, mesmo de tão longe, me conhece!”, relembra.
Foi nesta ocasião que Agnaldo percebeu que já ocupava um lugar de destaque no meio, graças ao Canal do Boi.
Sua chegada aos cavalos
Wilson Dosso era criador de gado e queria realizar um leilão com cavalos no canal. Como Agnaldo já havia trabalhado em um leilão para ele, acabou fazendo a ponte entre ele e a diretoria do canal. Com isso, Agnaldo o ajudou a realizar o leilão e ele abriu as portas para Agnaldo entrar no meio dos leilões de cavalos.
Conselhos para os iniciantes
Em primeiro lugar, para quem quer entrar no meio dos leilões, Agnaldo aconselha a se especializar. “Assista a leilões do João Gabriel, Milson Anibal, Paulo Brasil, Guilhermo Sanches e aprenda, veja como eles fazem, observe o outro errando, os acertos, os brilhos que eles tiveram em determinados momentos e tente adaptar isso a sua marca, montando uma narração perfeita. Busque ser o Luciano do Vale do martelo, que é a maior voz do Brasil. Monte a sua colcha de retalhos com o melhor que você absorveu de cada um”, aconselha Agnaldo.
Agnaldo Agostinho e Anibal Ferreira foram suas grandes inspirações
Éder Nogueira, natural de Naviraí/MS, diferente de Agnaldo, possuía raízes rurais. Ele sempre estudou raças e pedigrees.
Por volta do ano de 2003, Éder Nogueira foi contratado para preparar e apresentar uma tropa no 1° Leilão do Haras Redenção, em Maceió/AL, a convite do senhor José Oscar Ferro Gonçalves.
Éder Nogueira está iniciando nas batidas do martelo
Na ocasião, Nogueira teve a oportunidade de ver o leiloeiro Anibal Ferreira leiloando e ficou encantado com a sua desenvoltura. “Me encantei com a forma como ele conduzia o martelo”, relembra.
Contudo, alguns anos depois, ele teve a oportunidade de ver novamente o Aníbal Ferreira leiloando, mas dessa vez, passando o martelo para o Agnaldo Agostinho, em um leilão da ABQM no antigo Rancho das Américas. “Foi ali que decidi que iria ser um leiloeiro também”, relembra.
Com isso, Nogueira foi atrás da sua credencial para ingressar na profissão de leiloeiro, que demorou alguns anos para sair.
“Como na nossa vida tudo é uma sequência de oportunidades, hoje tenho uma no Recinto Martelo de Ouro Leilões, em Mogi Mirim/SP, sob a supervisão do meus amigos José Tobias e do Leiloeiro Dejair Costa. Também tive oportunidade pelo Zetão Rodrigues e Haras Vila dos Pinheiros, juntamente com o leiloeiro Eduardo Vaz que só tenho a agradecer”, afirma.
Para o futuro, Nogueira planeja consolidar sua carreira, apreendendo mais a cada dia. “Busco estampar meu nome nesta profissão tão maravilhosa que é arte de leiloar”, finaliza.
Passo a passo para ser leiloeiro
Para se tornar um leiloeiro profissional é preciso obter uma credencial junto a Federação da Agricultura de seu Estado.
O primeiro passo, explica Agnaldo, é uma indicação junto ao Sindicato Rural de sua cidade, que deve ser feita por um pecuarista da região. “Ele deve te indicar ao presidente do sindicato que fará uma carta com seu pedido. Neste documento, ele vai descrever que você possui boa conduta, índole, e fará alguns elogios ao seu respeito, atestando sua indicação”, explica Agnaldo.
De posse da carta, você deverá levá-la a Federação de Agricultura do seu Estado, Faesp no Estado de São Paulo, onde serão pedidos uma série de documentos e após a entrega, sairá a liberação. “No meu caso demorou quatro anos para sair”, finaliza Agnaldo.
Por: Camila Pedroso/Heloísa Alves
Fotos: Arquivo/ Dani Venturini/ Hugo Lemes/ Pixabay
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