Indústria do cavalo impulsiona economia e gera milhões de empregos no Brasil (Parte 2)

Luciano Ferreira, cavaleiro e pesquisador finaliza seu artigo sobre os impactos da Equinocultura na economia do Brasil ressaltando os resultados obtidos e sua metodologia

Continuando o artigo do pesquisador e cavaleiro Luciano Ferreira Rodrigues Filho (Se você não viu, clique aqui), hoje ele traz toda a metodologia utilizada para a realização da pesquisa e os resultados obtidos. Confira!

Metodologia

A metodologia adotada para o desenvolvimento do relatório da Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo foi baseada em análise de dados secundários, revisão bibliográfica e entrevistas com profissionais e especialistas da área.

Inicialmente, foram levantados e analisados dados e informações disponíveis em bases de dados públicas, como o IBGE, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Sistema de Informação da Agropecuária (SIAGRO), para compreender a situação atual do setor.

Em seguida, foram realizadas revisões bibliográficas de estudos e artigos científicos que abordam a temática da equinocultura no Brasil e no mundo, buscando informações sobre tendências, desafios e oportunidades do setor.

Além disso, foram realizadas entrevistas com profissionais e especialistas da área, como criadores de cavalos, veterinários, representantes de entidades do setor, pesquisadores e professores universitários. Essas entrevistas foram realizadas de forma presencial ou virtual, e buscaram levantar informações complementares sobre a realidade do setor, bem como opiniões e sugestões para o desenvolvimento do agronegócio do cavalo.

A partir desses dados e informações, foi elaborado o relatório da Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo, que apresenta um panorama atual do setor no Brasil, desafios e oportunidades para o desenvolvimento da equinocultura, além de apontar medidas para a promoção do agronegócio do cavalo no país.

Estes dados foram cruzados com os dados dos Censos Agropecuários de 2017 apresentados pelo IBGE e com a Pesquisa da Pecuária Municipal (2020), sobre a estimativa do número de cabeças de equinos em cada estado do Brasil.

Alguns resultados

Equinocultura no Brasil:
Indústria em crescimento que impulsiona economia e gera milhões de empregos – parte 2

Em relação ao rebanho de equinos, podemos notar que a quantidade desses animais teve uma oscilação nos anos de 2016 a 2020, apresentando um crescimento gradual ao longo do período, passando de 5.576.136 em 2016 para 5.959.922 em 2020. Isso sugere que o mercado de equinos pode estar em expansão no Brasil. Isso pode ser visto na valorização dos cavalos durante o período de pandemia.

Não é possível afirmar com certeza se houve um crescimento do rebanho de equinos durante a pandemia, pois os dados mais recentes disponíveis são de 2020 e não fornecem informações específicas sobre o período da pandemia. No entanto, é possível levantar algumas hipóteses sobre possíveis fatores que podem ter influenciado a criação de equinos durante a pandemia:

– Maior demanda por atividades ao ar livre: com o fechamento de espaços públicos e a necessidade de distanciamento social, as pessoas buscaram mais atividades ao ar livre e o contato com a natureza. A equitação pode ser uma dessas atividades, o que poderia ter impulsionado a demanda por equinos e, consequentemente, o crescimento do rebanho.

– Mudança de perfil do consumidor: Com o isolamento social e a necessidade de trabalhar em casa, muitas pessoas podem ter optado por morar em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Essa mudança de perfil do consumidor pode ter gerado um aumento na demanda por atividades rurais, incluindo a criação de equinos.

– Aumento da procura por produtos naturais: A pandemia pode ter incentivado uma maior preocupação com a saúde e com a origem dos alimentos. Nesse contexto, a produção de carne e leite de equinos, por exemplo, pode ter se beneficiado, impulsionando o crescimento do rebanho.

Segundo a Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo, a distribuição do plantel de equinos está dividida em duas categorias: animais destinados para esporte, lazer e criação e animais destinados para lida (trabalho).

De acordo com o relatório, o número de animais destinados para esporte, lazer e criação é de 1.100.000, enquanto o número de animais destinados para lida é de 3.900.000. O total de animais de equinos na propriedade é de 5.000.000.

Esses dados podem ser úteis para entender a utilização dos equinos no contexto da propriedade rural. O fato de haver uma quantidade significativa de animais destinados para esporte, lazer e criação sugere que há uma demanda para essa finalidade no mercado. Já o número maior de animais destinados para lida indica que o uso desses animais para atividades produtivas ainda é predominante.

Além disso, a tabela pode indicar a importância do conhecimento sobre a finalidade de criação dos equinos para a gestão da propriedade rural. Isso porque a finalidade de criação pode influenciar diversos aspectos do manejo dos animais, como nutrição, treinamento e saúde, entre outros.

Esta estimativa afirma que 22% do rebanho é destinado para esporte, lazer e criação e que 78% para animais de lida (trabalho). Seguindo esta estimativa, podemos sugerir o plantel nacional, conforme o rebanho de cada estado do seguinte modo:

Equinocultura no Brasil: Indústria em crescimento que impulsiona economia e gera milhões de empregos – parte 2
Fonte: IBGE (2020).

Assim, os dados apresentados indicam que o Complexo do Agronegócio do Cavalo no Brasil gerou uma renda total de R$ 16,15 bilhões em abril de 2015. Esse valor foi distribuído entre diferentes segmentos, como Lida, Esporte e Lazer, PSI e Turfe e Outros.

O segmento de Lida foi o que mais contribuiu para a renda do complexo, com R$ 8,58 bilhões (53,13%), seguido por Esporte e Lazer, com R$ 5,84 bilhões (36,13%). PSI e Turfe e Outros tiveram uma contribuição menor, com R$ 0,79 bilhões (4,89%) e R$ 0,94 bilhões (5,81%), respectivamente.

            Além disso, a tabela apresenta o número de pessoas ocupadas em cada segmento. O segmento de Lida também foi o que mais empregou pessoas, com 433.333 ocupações diretas (71,37%), seguido por Esporte e Lazer, com 125.700 ocupações diretas (20,71%). PSI e Turfe e Outros tiveram um número menor de pessoas ocupadas, com 5.452 (0,90%) e 42.844 (7,02%), respectivamente.

            O texto também destaca que o Complexo do Agronegócio do Cavalo ocupa diretamente 607.329 pessoas. Além disso, considerando que cada ocupação direta proporciona outras quatro ocupações indiretas, estima-se que sejam gerados 2.429.316 empregos indiretos. Assim, o Complexo é responsável, direta e indiretamente, por 3 milhões de pessoas ocupadas.

Desta forma, com estas estimativas de contribuição econômica, pode-se ter um panorama de cada estado do país no complexo do agronegócio do cavalo referente as categorias Animais para lida (trabalho) e Animais para esporte, lazer e criação, para esta estimativa não foram incluídos os números do PSI e turfe e Outros, que representam uma fatia de 790,0 milhões e de 940,0 milhões respectivamente. Não foram acrescidos pela impossibilidade de determinar estes valores em cada Estado, tendo muitas negociações, como os leilões, com compradores e vendedores de diferentes Estados do país.

A tabela seguinte mostra os valores em reais (R$) gastos em animais para esporte, lazer e criação em cada estado do Brasil, além do total gasto em todo o país. O estado de Minas Gerais lidera a lista com R$ 806.708.112,21, seguido por Mato Grosso e Rio Grande do Sul. O estado do Amapá teve o menor gasto, com R$ 9.740.712,66. No total, o país gastou R$ 5.840.000.000,00.

Já a tabela abaixo mostra os valores em reais (R$) gastos em animais para trabalho (lida) em cada estado do Brasil, além do total gasto em todo o país. O estado de Minas Gerais lidera novamente a lista com R$ 1.187.078.524,17, seguido por Mato Grosso e Rio Grande do Sul. O estado do Amapá teve o menor gasto novamente, com R$ 14.330.927,86. No total, o país gastou R$ 8.580.000.000,00 em animais para trabalho. Nota-se que o valor gasto em animais para lida é superior ao valor gasto em animais para esporte, lazer e criação, evidenciando a importância dos animais na atividade produtiva do país.

Considerações finais

A equinocultura é uma atividade econômica importante no Brasil, com um grande potencial para gerar empregos e renda em diversas regiões do país. A diversidade de raças de cavalos e suas aptidões específicas, aliada à demanda por atividades esportivas, recreativas e terapêuticas, fazem da equinocultura uma indústria em constante crescimento.

Para que a equinocultura continue a crescer e se desenvolver, é essencial incentivar a modernização e a profissionalização da indústria do cavalo no país. Isso inclui investimentos em pesquisa, tecnologia e infraestrutura, bem como a capacitação de profissionais especializados em diversas áreas relacionadas à equinocultura. Além disso, é fundamental a adoção de boas práticas de criação e manejo dos animais, garantindo o bem-estar dos cavalos e a qualidade dos produtos e serviços oferecidos.

Portanto, a equinocultura representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, gerando empregos e riqueza para o país. É necessário, no entanto, um esforço conjunto dos governos, produtores e profissionais da área para garantir que a indústria do cavalo continue a crescer de forma sustentável, promovendo o bem-estar dos animais e o desenvolvimento econômico do país.

Referências

IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br. Acessado em: 18 mar 2022.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo. Brasília: MAPA, 2016.

Por Luciano Ferreira Rodrigues Filho, cavaleiro e Pesquisador | Haras Dom Herculano

Fotos: Reprodução/ Pixabay

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