Horsemanship: feel, timing e balance

Luciano Rodrigues comenta em sua coluna sobre os conceitos de ‘feel, timing e balance’ de Bill Dorrance e Tom Dorrance

O método horsemanship privilegia o relacionamento sem violência entre cavaleiro e cavalo. Resume-se em técnicas da equitação western, desenvolvida, principalmente, por cavaleiros como os irmãos Bill e Tom Dorrance, Ray Hunt, Buck Brannaman, entre outros.

O método proposto visa à transformação do cavaleiro buscando a interpretação da linguagem com os cavalos baseada numa comunicação sem violência. Estamos falando de uma transformação do próprio cavaleiro, sua conscientização sobre o seu espaço, seu papel, suas funções e sua importância para o outro (cavalo). Nesse sentido que resgatamos os conceitos de ‘feel, timing e balance’ de Bill Dorrance e Tom Dorrance.

Feel (sentir)

A conscientização do cavaleiro está neste lugar ocupado dentro da relação com os cavalos e outros humanos, é isso que entendemos sobre o sentir (feel) as necessidades do outro, os sentimentos despertados na relação, nos movimentos, olhar para além do físico, olhar a alma. Provavelmente não é algo que possa ser ensinado, mas que é lapidado conforme a ignorância, o orgulho e a arrogância ‘caiam por terra’.

Só se torna um cavaleiro mestre quando o coração está aberto para receber os sentimentos dos outros. Talvez seja isso que o grande mestre Nuno Oliveira quis dizer: “o cavaleiro deve esforçar-se por utilizar menos técnica e ter mais sentimento”. A abordagem de Tom e Bill Dorrance está muito mais no sentir do que em qualquer outra coisa, sentir através das observações: postura do animal, posição das orelhas, semblantes, olhares, movimentos, todo o comportamento é observado.

O cavaleiro deve estar consciente sobre o significado daquilo que observa, se o próprio cavaleiro não entende o que se passa, deve despir-se de seu orgulho e se colocar no lugar do animal, ora é um aprendizado em conjunto, é pensamento e menos agressividade.

Horsemanship: feel, timing e balance Luciano Rodrigues comenta em sua coluna sobre os conceitos de ‘feel, timing e balance’ de Bill Dorrance e Tom Dorrance

Timing (tempo)

Assim como o sentir, o tempo (timing) é outro fator de impacto para a relação com os cavalos. A possibilidade de sentir lhe proporcionará o tempo correto para uma ação. O momento exato de solicitar uma parada, para exigir um pouco mais dos movimentos, o tempo de duração do treinamento etc. Além disso, entendemos que o tempo é determinante para a construção dos resultados, terminar uma doma ou um treinamento o mais rápido possível não significa o êxito no trabalho.

Tom Dorrance enfatiza o timing do cavaleiro com o cavalo, estar montado é estar atento aos movimentos do conjunto, ao solicitar uma manobra o cavaleiro deve perceber o momento exato para que possa contribuir com o cavalo.

Otiming coincide com o equilíbrio do conjunto, de fazer as decisões no momento certo, exige uma sincronização dos seus movimentos com os movimentos do cavalo, e isso o conjunto irá aprendendo com o tempo conforme a confiança cresce.

Horsemanship: feel, timing e balance Luciano Rodrigues comenta em sua coluna sobre os conceitos de ‘feel, timing e balance’ de Bill Dorrance e Tom Dorrance

Balance (equilíbrio)

O equilíbrio (balance), junto com o sentir e o tempo, pode ser entendido como o tamanho (força) de pressão e alívio que o cavaleiro faz ao solicitar o movimento do cavalo. A comunicação entre cavaleiro e animal esta na mensagem/resposta realizada pelo corpo (físico), por isso o sentir qual a mensagem transmitida pelo cavalo. Da mesma forma, a mensagem transmitida pelo cavaleiro deve ser a corporal, pela posição do corpo ou pelas rédeas.

O equilíbrio ou dosagem de pressão e alívio exige o aprendizado antes da exigência, muito se vê montadores de cavalos aplicando esporadas nos animais com certa brutalidade no intuito de que o animal aprenda pela força.

Ora, primeiramente devemos mostrar ao animal o que se pretende: se queremos que o animal vire para um dos lados, começamos aplicando uma pressão com o quadril, se o cavalo não entende a mensagem, aplicamos pressão com a coxa, ainda não responde, descemos com o joelho, panturrilhas, calcanhares, e se ainda não há a resposta, usamos as rédeas suavemente. No mínimo movimento de resposta conforme solicitado pelo cavaleiro, vem o alívio.

Esta mudança de posicionamento joga a responsabilidade sobre o cavalo, o animal aprende não pela violência, mas aprende pelo alívio, ele confia no cavaleiro, se realizar o movimento terá alívio. Conforme se dá a simbiose entre cavaleiro e cavalo, estes movimentos tendem a ser imperceptíveis. Tom Dorrance aponta para a possibilidade de fazer esses movimentos com a mente, tamanha a simbiose entre cavaleiro e cavalo.

Referências

  • DORRANCE, Tom. True unity: willing communication between horse and human
  • HUNT, Ray. Think harmony with horses: an in-depth study of horse/man relationship
  • RODRIGUES-FILHO, Luciano Ferreira; ROSA, Éder Ribeiro da. Entre cavalos e humanos: sobre relacionamento interpessoal

Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador | Campeira
Dom Herculano lu_fr@yahoo.com.br
Crédito das fotos: Divulgação/Pixabay

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